Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

domingo, 28 de setembro de 2014

Momentos


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Há uma traineira ancorada no cais,
vazia de sonhos, repleta de mágoas;
Anda a boiar na lentidão das águas,
sabe que ao mar não voltará jamais.

Há um pescador sentado na calçada,
esfrega as mãos, de afunilados dedos,
rosto tostado e neve nos cabelos,
camisa rota, velha, desbotada.

Tanta onda, tanta fome, tantos medos
tantos barcos batidos nos rochedos
tanta barca na praia naufragada!

Vida sofrida de suspiros e ais,
ao mar azul não voltará jamais.
Fica sentado a ver... Vida parada!

Maria Helena Amaro 
Esposende, Agosto, 2014
Inédito
  

sábado, 27 de setembro de 2014

Eu e o mar


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Nasci numa territa ao pé do mar
e foi o mar que embalou meu berço
por isso canto o mar em prosa e verso
e até morrer sempre o hei-de cantar.

É a luz das ondas altaneiras
Que me traz o som, a cor, os temas,
Para compor, em paz, os meus poemas
E ir com eles no sulco das traineiras.

Vou no mar… no mar desapareço.
Não esperem que faça o meu regresso,
Pois é no mar que eu quero morar…

Quando Deus construiu o universo
Fez as estrelas e o vento travesso
e oceanos de luz a cintilar.


Maria Helena Amaro
Inédito
Esposende, julho 2014

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Há luz no meu caminho


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Há luz no meu caminho! Oh, eu bem vejo
tantas estrelas que andam a bailar
à minha volta que doce cintilar
mostrando-me tudo o que desejo...

Há luz no meu caminho! Oh, eu bem sei
quanta doçura há naquele olhar
quanto perdão eu vejo a rebrilhar
naqueles olhos que eu outrora amei

Há luz no meu caminho! Um anjo belo
todo branco mas branco que o luar
vai conduzir-me ao fim do meu anelo

Há luz no meu caminho! E não sei o que é...
Só sei que esta luz a rebrilhar
leva-me ao caminho da verdadeira Fé! 

Maria Helena Amaro
Braga, 3/11/1953

domingo, 21 de setembro de 2014

Caminho


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Jesus! Vede se acaso eu mereço
as rosas que em minhas mãos puseste
tanta luz tu hoje me ofereceste
para que veja o sonho que te peço

Toda essa Luz eu te ofereço
para que ilumines o mundo que fizeste
minha alma será facho celeste
iluminando os seres em que tropeço

A vossos pés Jesus hoje deponho
o meu futuro e também o meu sonho
à vida fútil tento dizer adeus

Sobre o meu peito sedento de ilusão
brilha a cruz, a divina missão:
"Levar almas do mundo para Deus"

Maria Helena Amaro
Braga, 27/10/1953

sábado, 20 de setembro de 2014

Eterno sofer


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Se soubesses como te quero ainda
na imensa solidão que me rodeia
se soubesses como tenho na ideia
aquele amor infeliz que nunca finda...

Se soubesses como a vida é linda
ao recordar aquilo  que me enleia
na minha alma de tristeza infinda
no ideal que sonhou e não anseia...

Ando a cantar ao mundo os sonhos meus
que não sabes que não podes saber
nem sequer espelhas nos olhos teus

Minhas esperanças jamais hão de morrer
apesar dos teus olhares ateus
rirem da vida do Eterno Sofrer!

Maria Helena Amaro
(Dedicado a uma amiga)
Braga, 27/10/1953

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Sonho eterno


(Ilustração de Maria Helena Amaro)



Cai a chuva miudinha
Das estradas ruidosas da cidade
No ar andam nuvens de humidade
Nos campos há cheiro a violetas…

Andam no ar cânticos de poetas
Há ilusões que são realidade
Na minha alma há sombras de saudade
E na minha vida há manchas quase pretas…

No fim da tarde deste dia de inverno
Em que a chuva vai caindo lentamente
Convidando-me a um sono muito terno

Eu sinto que o meu peito está ermo
De lembranças que recordo tristemente
Quando sei que tenho um sonho eterno!


Maria Helena Amaro
Braga, 16/10/1953 

domingo, 14 de setembro de 2014

Hino ao Sol


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Eu te saúdo ó Sol que ao despontar
tinges o Céu de nuvens prateadas
quando te ergues em leves madrugadas
convidando tudo a despertar...

Eu te saúdo à hora de meio dia
quando te mostras tal e qual um rei noivo
vestido de brocados, sedas, oiro
enchendo a terra de luz e alegria...

Eu te saúdo também ao fim da tarde
quando partes deixando-nos a saudade
toda feita de sonho e amargura...

Eu te saúdo na minha mocidade
toda cheia de luz e de verdade
toda cheia de Amor e de Ventura!

Maria Helena Amaro
Braga, 11/10/1953

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Aquelas mãos



(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Aquelas mãos que outrora me afagaram
em horas de saudade e amargura
nunca mais as minhas encontraram
tão fugidias andam de ternura

Aquelas mãos de veias azuladas
"que se curvam em frias etiquetas"
Têm a cor das rosas desfolhadas
e o perfume das tristes violetas

Aquelas mãos tão puras de criança
têm a luz da Bem-aventurança
entre os seus dedos leves, fuzilados...

Aquelas mãos estão cheias de esperança
para aqueles que são desde a infância
a imagem de pobres desventurados...


Maria Helena Amaro 
Braga, 11/10/1953

domingo, 7 de setembro de 2014

Virgem de luar


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Parti sedenta em busca da verdade
suave, terna, consoladora
que eu sonhava viver a cada hora
quando na Fé buscava imensidade...

Parti sedenta em busca dum alguém
que viria encaminhar meus passos
mas senti meus pés presos em laços
que me impediam de ir até além

Foi nessa altura que eu fitei teus olhos
donde partia uma luz atraente
onde se via um mistério de abrolhos

E foi no teu que o meu falso olhar
ganhou pureza e numa prece ardente
pediu-te Amor, ó Virgem de Luar!

Maria Helena Amaro
Foz de Arouce, 15/09/1953

sábado, 6 de setembro de 2014

Rosas desfolhadas


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Minhas ilusões são rosas desfolhadas
por mãos inocentes de crianças
pétalas brancas, soltas perfumadas
penas caídas de alvas pombas mansas

Minhas ilusões são rosas recolhidas
em tardes de magia e de calor
são restos de outras quimeras idas
que eu vivo agora neste «bouquet» de amor

Rosas belas que murcham ao sentir
da minha vida a anunciante dor
do meu peito o amor a ressurgir

Pobre de mim que só sinto o sabor
do perfume de rosas a florir
quando não sinto a ilusão do Amor!

Maria Helena Amaro
Esposende, 3/08/1953

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dia de anos


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Minha mãe! Minha mãe! Quanta beleza
há nos teus olhos cheios de doçura
quanta compreensão quando sinto tristeza
quanto alívio quanto sinto amargura

Tu hoje brilhas mais que uma estrela
mais que um facho que ilumina meus passos
tens mais valor que uma jóia bela
quando busco refúgio nos teus braços

Hoje queria dar-te tudo quanto tenho
mas tudo que possuo eu desdenho
e tudo que me dás te dou também

Joias em ti não teriam valor
por isso dou-te estes versos de amor
a minha prenda de anos, querida mãe!


Maria Helena Amaro
Esposende, 2/08/1953