Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

sábado, 31 de dezembro de 2016

Sonhos


(Fotografia de António Sequeira)

Vens ter comigo na luz da madrugada
em que meus sonhos são brumas de luar...
Vens ter comigo, não prometes ficar
que a tua alma já tem outra morada.

Vens ter comigo à hora demarcada
em que me sinto só a recordar...
Vens ter comigo... És só um sopro de ar...
Uma carícia suspensa, demorada.

Vens ter comigo numa procura alada
porque me vês, tão só, abandonada.
Alma sem paz, cisne negro a cantar...

Vens ter comigo, miragem desenhada,
mapa rasgado que não informa nada.
Tu vens e vais... Continuo a sonhar!

Maria Helena Amaro
Setembro 2013.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Por do sol


(Fotografia de António Sequeira)

Antes que venha a noite e o dia escureça
quero cantar à dor o meu tormento.
Escuto a saudade no voz crua do vento
e és tu que regressas, tão devagar, sem pressa.

Sou como o sol ao terminar o dia...
Alma tão rubra e olhar tão tenso.
Sobre o mar de amargura o coração suspenso...
Pedindo ao sonho um pouco de alegria.

Tal como o sol que mergulha no mar.
Quero dormir longe além noutro lugar.
Quero ir embora na tarde adormecida...

Se regressares tu tens que me levar
Longe, tão longe onde possa morar.
Junto de ti como vivi em vida!

Maria Helena Amaro
Setembro 2013.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Cegueira

,
(Fotografia de António Sequeira)

Os meus olhos pulavam no teu rosto.
Saltitantes como loucas andorinhas,
a pesquisar em ti algum desgosto,
a oferecer ternura, coisas minhas.

Os meus olhos sem pejo, sem descanso,
iam e vinham numa dança, constantes,
buliçosos, num baile quente e manso,
à procura dos teus tão provocantes.

Os meus olhos não tinham dor, nem penas.
Era o tempo das rosas, dos poemas,
dos afagos, dos beijos, dos carinhos. 

Os meus olhos eram raios de luar...
Mas houve um dia que quiseram chorar...
E não os viste? Andaste em que caminhos?

Maria Helena Amaro
Setembro 2013.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Pedro e Lola


(Fotografia de António Sequeira)

Nem sempre a vida é fulgor...
Nem sempre a vida é florida...
Mas há a força do Amor
e a Esperança, sem medida.

Assim a vida é beleza
entre muitos empecilhos.
Mas a vossa maior riqueza
é o riso dos vossos filhos.

Pedro António é tropelia...
Francisquinho é a ternura.
O acalento é a Bia...
Que é isto então? É Ventura!

Maria Helena Amaro
11/09/2013

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Aguarela


(Óleo em tela de Maria Helena Amaro)

Um regaço de penas...
Um cesto de flores...
Um copinho de pérolas...
O vento veio e levou as penas.
O sol brilhou e queimou as flores.
O mar galgou a terra
e levou as pérolas...

Na areia da praia
ficaram as pegadas...
Ninguém as apagou. 

Maria Helena Amaro
setembro 2013

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Paisagem


(Óleo em tela de Maria Helena Amaro)

Rendi-me na distância
de olhos esbugalhados
a pesquisar a serra...
A alma pobre de ânsia
em voos demorados
pés atados à terra...

Sem asas de condor
como posso voar
sobre rios e montes?
Nem águia, nem açor.
Sou corpo a baloiçar
a sonhar horizontes...

Tão curta esta viagem...
É tão fresca esta aragem!
Aterrei! Só paisagem!

Maria Helena Amaro
Setembro, 2013.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Alma


(Óleo em tela de Maria Helena Amaro)

Que estranha, tão estranha a minha alma.
É água, gelo, brasa, fogo, luz.
Busca na vida a paz que a seduz,
mas não se aquieta, não para, não se acalma.

Vai pela vida em busca da verdade,
mas nem sempre escolhe a rota certa.
Se regressa ao passado vive inquieta,
se não regressa, morre de saudade.

É uma dança de fantasia e mito.
Doce fantasma em que não acredito.
É vida/morte cheia de quebrantos.

Tanto choro, tanto clamo, tanto grito.
Mas esta alma não chega ao infinito,
porque no céu só se abrigam os santos.

Maria Helena Amaro
20/07/2013

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Serão (ao meu pai)


(Óleo em tela de Maria Helena Amaro)

Ouço uma guitarra e estremeço.
Recordo o meu pai que tocava.
Eu era tão menina e já cantava...
São imagens que amo e não esqueço.

Eram serões de risos, de cantares,
de histórias, de rimas, de poemas...
De horas demoradas e serenas,
tão vividas, tão sentidas, tão vulgares.

O fado de Coimbra era a balada.
O fado de Lisboa era o gemido.
A música em nós era harmonia.

Que serão de paz, santa noitada,
que amor familiar tão fluído,
que recreio tão feliz ao fim do dia!

Maria Helena Amaro
20 de julho de 2013 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O Dever eo Sonho


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Sempre lutei entre o Dever e o Sonho.
Por mim razões me senti derrotada.
Quando  o Dever me parecia risonho
vencia o sonho. Ficava avassalada.

Por esses dois me senti enganada.
Pois se o Dever, enfim, era medonho.
Lá vinha o Sonho fazer de mim pousada.
Dizendo-me, então: "- Que dever tão bisonho!"

Agora que a vida se esmorece,
o Dever para mim se desvanece.
Não é luta, nem ritual tristonho.

É o sonho que vem, que me enternece...
É o sonho que na alma permanece.
Já não há luta, pois eu escolho o Sonho.

Maria Helena Amaro
16/07/2013



quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Maria Helena


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Eu gosto muito do meu nome.
Lembra-me a Grécia, Troia, Menelau.
Bonaparte... Uma ilha e uma nau.
Um grande amor, uma paixão enorme.

O meu nome é de Infanta, de Princesa.
Não lembra guerra, infortúnio, fome.
Anula em mim a dor que me consome
em loucas horas sombrias de incerteza.

A minha doce avó chamou-se Helena.
Tinha palavra ternurenta, serena
e um mar de sol no seu sorrir...

Escrevo o nome em forma de poema.
Transformo em alegria a minha pena.
Cheguei com ele; com ele hei-de partir...

Maria Helena Amaro
Junho, 2013 

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Até logo


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

«Até logo meu amor. Se Deus quiser»
Dizias sempre num jeito de beijar...
Deixavas em mim o teu sereno olhar,
como candeia acesa, a luz do meu viver.

«Até logo meu amor...» e Deus não Quis.
E Deus levou-te num raio de luar.
Sem um adeus, sem jeito de beijar.
Deixou-me só, solidão infeliz.  

«Fica aqui mais um pouco, um pouco mais.
Fico tão triste quando tu te vais
e me deixas metido neste quarto...»

Era assim que falavas... Nunca mais.
Nunca mais ouvi pedidos tais...
Deus levou-te. Ficou o teu retrato.

Maria Helena Amaro
Junho, 2013.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Dor


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

A maior dor é a silenciosa
a que ninguém sabe, a que ninguém vê.
A que surge sem saber porquê
e que permanece, em nós, muda, teimosa.

A maior dor é aquela que nos prende
a um destino árido e deserto.
Mesmo que alguém nos esteja por perto.
Que a dor não se conhece, nem se entende.

A maior dor é aquela que não grita.
Que se esconde e na alma palpita
e cresce longa como erva daninha.

A maior dor é a que não tem norte.
Nada há que a vença, que a corte.
Permanece em mim, é tão minha.

Maria Helena Amaro
07/06/2013

domingo, 18 de dezembro de 2016

Fevereiro - Dia 26 - 2010


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Não sei se fiz tudo que devia,
quando ficaste doente combalido,
a tua vida transformada em gemido,
e eu, sozinha, atenta, de vigia.

Não sei se soube ser a enfermeira
carinhosa, dedicada, paciente.
Dia e noite, na dor, sempre presente.
Junto de ti, à tua cabeceira.

Eras o elo que me ligava à vida,
eu não queria a morte; a despedida,
era amarga certeza verdadeira.

Chamava a Deus: Não mo leves daqui.
Se Deus me respondia, eu não ouvi.
Veio buscar-te, sem mim, à tua beira.

Maria Helena Amaro 
7 de junho de 2013 

sábado, 17 de dezembro de 2016

Nevoeiro


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Cai a bruma de cinza sobre mim,
etérea, volátil e envolvente,
cobre a rua, a casa e o jardim,
dá à cidade um aspeto indolente.

Enche de vultos sombrios toda a Braga.
Tudo cobre, tudo ofusca, tudo abraça.
Para alguns a bruma é uma praga.
Mas para mim, até lhe acho graça.

Para mim a bruma é nevoeiro.
Lembra-me tanto o Santo Cavaleiro
que se perdeu em Alcácer Quibir...

Lembra-me tanto a praia de Esposende...
A bruma espessa que me cobre, me prende.
Mas, da qual nunca, nunca eu quero fugir.

Maria Helena Amaro
Novembro, 2013

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Estado


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Já perco de memória os meus poemas.
Já não retenho letras e canções.
Falo com Deus e com os meus botões.
Já adormeço entre noites e penas.

Já não escuto com paciência histórias
de poder, de riqueza e de vaidade.
Já não aceito tanta vulgaridade
que se constrói com loas e glórias.

Vejo  morrer amigos e parentes.
Quebram-se as unhas e oscilam os dentes.
Sinto aos poucos que a vida se esvai.

Apenas retenho na lembrança
dos tempos distantes de criança
o rosto e o sorriso de meu pai.

Maria Helena Amaro
12/8/2013

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Vento


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Vou na sombra do vento
antes que o sol ofusque
a luz que vem do mar...
Vou na sombra do vento
para que ninguém me busque
e me possa agarrar...
Vou na sombra do vento
que o vento não divulga
o que eu possa alcançar...
Vou na sombra do vento
que a sombra me empurra
e me depõe no mar.
Vou na sombra do vento
adormeço no sonho
e acordo a cantar!

Maria Helena Amaro
2 de setembro de 2013 

sábado, 10 de dezembro de 2016

Mágoa


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Bateu-me a mágoa à porta. Não abri...
Fiquei a sós, serena, desprendida.
Mas ela perseguiu-me toda a vida.
Fugi-lhe sempre à procura de ti.

À procura de ti... longa viagem...
Deixei a porta aberta e ela entrou.
Entrou, porquê? Se ninguém a chamou...
Ela parecia, apenas, só miragem.

Bateu-me a mágoa à porta. Eu gritei,
quando na minha casa a encontrei.
a controlar meus sorrisos e passos.

Que vou fazer da mágoa, já não sei...
Não tem nome, nem rigor, nem lei.
Anda a dançar suspensa dos meus braços!

Maria Helena Amaro
14 de agosto de 2013.