Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Alma


(Fotografia de António Sequeira)

Alma cigana... Minha alma é cigana,
acorrentada sem lei e sem direito,
algemada na cela do meu peito,
suspira, grita, pragueja, reclama.

Ninguém quer, ninguém anseia, ninguém ama,
vai pela vida em marcha retardada,
livre e suspensa como água da levada,
em busca do sol que lhe dá chama.

Quem a vir passar não a detenha,
deixe correr quem a brisa desdenha,
deixem-na rude na sua caminhada.

Alma cigana não tem regra, nem senha,
leva na alma um braseiro de lenha,
incandescente como a luz da madrugada.

Maria Helena Amaro
Maio, 2014

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Ombro amigo


(Fotografia de António Sequeira)

Ombro amigo... o teu ombro já foi...
Ombro de irmão real e conhecido.
Ombro de amigo que se encontra perdido
numa distância que endoidece e dói...

Ombro perdido por estranhas estradas.
Estradas longas que eu não percorri;
nessas lonjuras eu perdi-me de ti.
Lonjuras feitas de horas magoadas.

Quem separou com dor as almas juntas?
Perguntas... só perguntas... só perguntas...
Ninguém responde em nome da razão.

Porquê? Porquê? Perguntas sem respostas.
Cerram-se janelas e batem portas...
Silêncio rude... amarga solidão!

Maria Helena Amaro
10/06/2014


terça-feira, 28 de novembro de 2017

Adeus


(Fotografia de António Sequeira)

Foge-me a vida
por entre os dedos
como me fugia
a areia fina
da praia de Esposende...

Foge-me a vida
por entre os dedos
como me fugia
a água doce
do rio de Foz de Arouce...

Foge-me a vida
em louca velocidade
como me fugiam
as árvores e as casas
no comboio da linha do norte
quando me levava
ansiosa e alegre
até à velha estação da Lousã...

Eu era toda asas!
Foge-me a vida
por entre as horas de saudade
como me fugia
a estrada cinzenta luminosa
quando o meu pai
me levava de mota
aos exames liceais
a Viana de Castelo...

Foge-me a vida
e eu lá vou com ela
em fuga desabrida...
Mas não vou só...
É como se a terra de qualquer cemitério
estivesse ansiosa de receber meu corpo...

Levo comigo tudo o que sou e sei.
O que vivi e errei
O que quis e sonhei...
Deixo para os outros
o melhor lugar deste mundo
que nada me dará, apenas pó.
E a lembrança certa
de que vivi no Amor a coisa certa
e no trabalho e nos sonhos meus
a presença de um Deus...
De mais não fui capaz...
Aonde irei? Não sei... Adeus!
Só quero a paz!

Maria Helena Amaro
Junho, 2014.


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

13 de maio


(Fotografia de António Sequeira)

Revejo Fátima
e lembro-me de ti
daquele dia alegre e luminoso
em que vestida
de rendas de luar
contigo celebrei
junto ao altar
o compromisso sério
de amar-te
a vida inteira...
Sob o olhar bondoso
da Senhora
e tanto lhe pedi
que ajudasse a fundar
o nosso lar...

Revejo Fátima
e lembro-me de ti...
De tantas, tantas vezes
em que fomos implorar
ajuda para a mágoa
para a doença e mal
que a vida nos dava...

Revejo Fátima
e lembro-me de ti...
Do nosso filho suspenso
dos teus braços
e do mais crescidito
a ensaiar os passos na extensa avenida...
Eu, tu e a vida...

Revejo Fátima
e lembro-me de ti...
Nada ficou da vida que escolhemos...
Ficou Nossa Senhora
no teu coração desesperado
na partida forçada...
Ficou Nossa Senhora
aqui comigo
para recordar
de alma amargurada
o que não voltará...

Maria Helena Amaro
13 de maio, 2014

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

1º de Maio


(Fotografia de António Sequeira)

Pude encontrar Jesus no meu caminho
Vinha velho, dorido, esfarrapado
Nos ombros trazia um grande fardo
e olhava o mundo, sem fé, em desalinho.

Falei então: «Jesus estou contigo
Conta-me tudo o que te atormenta
que a minha alma também anda sedenta
de certo apoio e da voz de um amigo».

Disse-me então: «Não posso acreditar
que a mensagem de paz que vos deixei
junto da cruz no alto do calvário

seja uma mensagem que se possa apagar
neste universo sem amor e sem lei,
rude, agressivo, insensato e usuário».

Maria Helena Amaro
Maio, 2014


sábado, 18 de novembro de 2017

Requiem


(Fotografia de António Sequeira)

Repousas no jazigo de teus pais
junto dos teus avós que tanto amaste
Nome Sequeira é quase um baluarte
entre as famílias destes meios rurais.

Venho trazer-te as flores mais singelas
Cravos e rosas, suspiros e saudades
Flores da alma e corpo, metades,
que por inteiro já ficaste com elas.

Olho o jazigo. Fui tua companheira
Amei-te loucamente a vida inteira
com toda a força de que fui capaz.

Quando eu morrer na hora derradeira
deixa-me ficar à tua beira
para rezar! Amor descansa em Paz.

Maria Helena Amaro
Março, 2014.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Despedida (Curso 1982-1986)


(Fotografia de António Sequeira)

Descobrindo Portugal
estudámos Meio-Físico Social...

Era uma vez...
Foi assim que aprendemos Português.

Com teoria e prática
nós aprendemos Matemática.

Castelos, Museus, feitos de glória
nós conseguimos perceber a nossa História.

Com fogos, danças e Expressão Plástica...
nós misturamos aulas de Ginástica.

Cantando bem e mal
fizemos aulas de Educação Musical...

Visitas, experiências, teatro, habilidades,
nós inventámos actividades!

Já somos «uns doutores»!
Em sonho atravessámos a 
terra, o céu, os mares...
Carregamos às costas todos estes valores
e vamos invadir a Escola André Soares!

Ser gente...
Ser vivo...
Ser crente...
Ser igual...
Nós discutimos:
- Aulas de moral!

Maria Helena Amaro
Junho, 1986
Dedicado aos alunos do Curso 1982-1986 (Escola de S. Lázaro)