Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

domingo, 31 de maio de 2015

A Vida


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Cada espinho que a vida me deu
quero torná-lo uma rosa de toucar
E cada chaga de meu peito a sangrar
numa saudade, num jasmim, num malmequer

E cada estrada que hei-de palmilhar
será coberta com tapetes de flores:
rosas vermelhas, escuras, de mil cores,
cor da aurora e do dia a findar...

E no altar de meu peito vazio
as suas pétalas eu hei-de colocar
de ano a ano, de estio a estio...

E quando o eterno me vier buscar
as minhas rosas crescidas lá no frio
da minha alma serão o despertar!

Maria Helena Amaro
16/01/1955

sábado, 30 de maio de 2015

Feia?


(Ilustração de Maria Helena Amaro) 

Se conhecesses o brilho dos teus olhos
E a frescura do teu rosto trigueiro
Talvez olhasses de frente o mundo inteiro
A beleza, os teus vagos abrolhos...

E não terias nos olhos a  cegueira
da inveja numa mulher formosa...
A beleza é engano é perfumada rosa
que murcha sempre envolta na poeira!

A mulher é bela mesmo que seja feia
quando tem na alma a luz duma candeia
que ilumina tudo a seu redor...

Quando tem um coração capaz de amar
A doçura, a paz divina no olhar
donde irradia a beleza do Amor!


Maria Helena Amaro
13/01/1955 


quarta-feira, 27 de maio de 2015

Rendas de sonho


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Tomara eu ter na cabeça pousada
a neve branca que a serra contém...
Seria tia... avó... ou até mãe,
lua Mãe adorada!
À minha volta haveria só caminho
e num sorriso só Amor...
Palavras de afecto, de calor
no meu lar pobrezinho!...
E teceria nas minhas mãos pequenas
as mil rendas tricotadas em oiro...
E no meu peito o meu grande tesoiro
seriam só cabecitas morenas...
- ... E à noitinha quando houvesse luar
a neve branca seria o meu cabelo...
... ... ... ... ...

Quem me dera ter na alma
já morta
Toda a brancura caída à
minha porta! ...

Maria Helena Amaro
14/05/1954  

domingo, 24 de maio de 2015

Tédio


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Ando cansada de procurar na vida
uma centelha de luz e de verdade...
Quanta mentira! Quanta futilidade!
Quanta esperança, na estrada caída!

Por mais que peça aos céus um ideal
mais o mundo me atrai com enganos
Vão-se em passos leves os meus anos
Fica-se a vida entre bem e o mal!

Nada quisera, eu sei. Mas se a luz
vier abrir as trevas num só jeito
eu queria ser de tudo um bocadinho!

- Fitar meus olhos nos braços de uma luz
Pôr minhas mãos cruzadas sobre o peito
E deixar-me morrer devagarinho...

Maria Helena Amaro
Sem data (1954/1955 ?)  

sábado, 23 de maio de 2015

Vem o dia



(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Vem o dia e com a doce esperança
de alguma coisa parecida com ventura
Vão-se as horas com sombras de amargura
dos meus tempos distantes de criança...

Vem a tarde, o desespero a dor...
E a certeza duma vida falhada...
Vão-se os sonhos transportados no nada
e minha alma fica à mingua de amor!

Vem a noite, os negros pesadelos
Fantasmas brancos dos meus mortos anelos
no cemitério das almas sem caminho...

Um vulto escuro desliza à luz da lua...
Sou eu que busco na calçada da rua
Um amor que perdi no meu caminho!


Maria Helena Amaro
18/07/1955

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Humildade


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

O meu pecado foi sonhar com loucura
e esquecer-me de que era ninguém...
Como pode uma erva crescida na tortura
aspirar ao amor como se fosse alguém?

Nasci num campo onde urtigas cresciam
e minhas flores não puderam brotar
As outras ervas que ao pé de mim viviam
sempre invejosas quiseram-me esmagar...

Passei maus dias entre o desprezo e o pó
na lama imensa do campo inculto escuro
entre a angústia e a dor de estar só...

E quando um dia do campo me arrancaram
eu encontrei-te trepando neste muro
e as minhas folhas junto às tuas brotaram


Maria Helena Amaro
14/03/1955

domingo, 17 de maio de 2015

Ânsia


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Estendo as mãos a procurar na vida
alguma coisa que me encha o peito
Cheia de pó, estou eu. Num mar desfeito
anda a boiar a minha perdida!

Quis um dia chamar oiro à poeira
e nuvens brancas à cor da noite escura
Deus castigou-me transformando em tortura
o grande sonho da minha vida inteira

Qual pedinte esmolando um caminho
estendo as mãos a procurar em vão
a caridade no íngreme caminho...

Eu busco também nos mil lugares do mundo
um ideal de luz e de razão
mais sublime, mais divino, mais profundo! 


Maria Helena Amaro
13/08/1955

sábado, 16 de maio de 2015

Sonho


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Os meus olhos nos teus; as tuas mãos nas minhas
E um mundo de coisas muito belas...
Cravos vermelhos sorrindo às janelas
da nossa casa, refúgio de andorinhas!

Ao por do sol, doce hora dos amores,
de mãos unidas, por entre o arvoredo
Ou então de manhã, muito cedo
iremos campos fora, em busca de flores!

Nos meus braços ramos de violetas
nos olhos teus cânticos de poetas
tesouros lindos de amor e ternura...

Nas tuas mãos esguias e morenas
um apanhado das noites serenas
em que o luar é lago de ventura!


Maria Helena Amaro
22/08/1955

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O Mundo


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Anda o mundo a rir à gargalhada
de mim, de ti, dele, de mais ninguém...
E cada vulto que passa na estrada
da minha vida, parece o meu alguém!

Estendo as mãos, procuro amargurada
algum caminho que me conduza ao Bem...
Amor! És tu a rir à gargalhada?
Que é o nada? E o mundo que tem?

Mundo que trazes nos teus braços suspensos
as mil sonhos da minha alma dorida
as mil  sombras de desertos imensos...

Não rias mais do meu grande tormento
Não queiras mais prender a minha vida
Deixa voar no céu meu pensamento!   

Maria Helena Amaro
22/08/1955

domingo, 10 de maio de 2015

Meus olhos


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Meus olhos tristes que Deus me ofereceu
vêm imagens de almas poetas
fazerem lembrar um lago cor do Céu
onde se debruçam chorando violetas!

Um apanhado de noites escuras
sem lua, sem luz, sem firmamento...
Asas negras, de aves pequenas...
Pobres fantasmas vagueando em tormento.

Meus olhos são peregrinos mendigando
em busca dum "oásis" de ternura
sorrindo, esquecendo, perdoando...

Há neles um desejo mal contido...
Há neles tanta sede de ventura...
Que julgo às vezes nunca os ter conhecido!

Maria Helena Amaro
10/04/1955

sábado, 9 de maio de 2015

Monja


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Meu rosto pálido, quase macerado
fundas olheiras cor da escuridão
fazem lembrar o corpo torturado
de Jesus nos dias da Paixão!

Cílios negros descem palpitantes
sobre os meus olhos cor de violetas
e os meus cabelos escuros, ondulantes
são mundos soltos de obscuros poetas...

Faço lembrar um dia a fenecer
uma sombra vagueando descuidada
por entre nuvens azuis do firmamento

Com as minhas mãos brancas a tremer
quando eu passo de luto trajada
faço lembrar a Monja do Convento!


Maria Helena Amaro
12/03/1955 

quarta-feira, 6 de maio de 2015

E tu não vens!


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Prometeste que voltavas, disseste que virias
na luz clara de certa madrugada...
Mas nascem e morrem, em sucessão os dias
e eu espero a tua vinda alada! ...

Quando nascem as manhãs de primavera
e as mãos ponho em pala sobre os olhos
julgo ver-te surgir entre quimera
mas no além vejo um mundo de abrolhos!

Já basta de mentira, de ilusão...
Quero ver-te junto a mim de verdade
para afagar-te com todo o meu carinho...

Espero... sonho... arquitecto em função
mil fantasias tecidas de saudade
e tu não vens... Eu sei... Eu adivinho...

Maria Helena Amaro
19/05/1955


domingo, 3 de maio de 2015

Aos pés de Deus


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Lanço meus olhos ao azul divino
ajoelhada a rezar a sós...
Ó quem me dera transformar num hino
a dor da minha rouca voz!

Ouço lá longe no pinheiral distante
um passarito gorgear de amor...
E eu comparo essa voz murmurante
ao eco triste da minha dor!

Aos pés de Deus murmuro uma oração
Mais um pedido que um grande louvor
Mais uma prece que um hino de Amor

Como posso eu dar-lhe meu coração
se o trago repartido pelo mundo
aos bocados, exangue, quase imundo?


Maria Helena Amaro
Braga, 1955



sábado, 2 de maio de 2015

A voz do vento


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Noite de inverno. Lá fora a ventania
ruge feroz por entre o arvoredo...
Há dentro de mim um frio medo
e uma grande e vã melancolia...

Passa o vento em surdas gargalhadas
a rir da gente que lhe tem termor...
Risos amargos, são gritos de dor...
Noite de inverno e de sombras aladas...

Vento que passas em loucas gargalhadas
a rir do mundo, dos homens e de Deus
em gritos roucos que me fazem pasmar

Eu ouvi o teu rouco cantar
Julgo ouvir roucos soluços meus
Julgo ouvir a minha alma chorar...

Maria Helena Amaro
13/05/1955

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Feliz Aniversário


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

O que eu digo à saudade
quando ela entra sorrateira
e vem sentar-se
a tarde inteira
aqui à minha beira
a conversar comigo?...
A saudade é visita de amigo
tem o teu rosto...
O teu riso...
O teu olhar...
As tuas mãos... 
E o teu sonho...
Oh! e o teu computador!!!
E a poesia com eles...
São irmãos!
Olho a saudade e nada lhe peço...
Mas ela toma-me no regaço
e embalo-me como se fosse um berço
e guardo-me do frio
até ao teu regresso...

Maria Helena Amaro
20/04/2015