Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Recado



Quando a noite me vier buscar
e tingir de negro a madrugada,
eu irei num raio de luar,
alma cheia de tudo e quase nada.

Irei a Deus, sem dor, sem despedida,
buscando no espaço algum lugar,
onde encontre essa paz prometida,
que neste mundo ninguém me pôde dar.


Andei caminhos. Estradas palmilhei.
Fiz opções; atalhos escolhi,
em muitos me perdi, noutros me achei.

Procurei Deus e sempre O encontrei.
Mas onde estão as estrelas que colhi?
A vida as apagou? Ou eu as apaguei?

Maria Helena Amaro
Inéditos – fevereiro 2007

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Esposende





Nasci na terra do vento,
minha mãe era a nortada,
o meu pai um catavento,
meus irmãos, a passarada…

Foi meu lar o vendaval,
feito de noite e saudade,
o meu berço o temporal,
minha sina a liberdade…

Minha riqueza a traineira,
navegando sobre o mar,
sobre a onda traiçoeira,
com medo de naufragar.

Dormi na areia da praia,
a escutar a sereia.
Pus a secar a minha saia
no estendal da Ribeira.

Cresci perdida no tempo,
entre o sol e o luar.
Eu nunca quis casamento,
mas sempre soube noivar.

Nas asas de uma gaivota,
andei suspensa no ar.
A vender peixe na lota
aprendi a apregoar…

A falar tudo me entende,
a contar não tenho idade…
O meu nome é Esposende
da Saúde e Soledade.

Maria Helena Amaro
Inédito, agosto, 2009


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

História de Amor





Numa manhã de certa primavera,
vieste a correr ao meu encontro,
braços abertos e sorriso pronto,
a oferecer amor, sonho, quimera.

Contigo fui de mão dada pela vida,
atravessando bons e maus momentos
alegrias, desgostos, sofrimentos,
rosto feliz e alma enternecida.

Vinhas enamorado ter comigo,
a tua alma era o meu abrigo,
e o teu corpo o meu ancoradoiro.


Braga 16/11/2009
Inédito – Maria Helena Amaro




Mas a vida tornou-se em furacão,
a doença levou-te pela mão
e fez em pó aquilo que era oiro.

domingo, 27 de novembro de 2011

Portas fechadas




O corpo nada vale
tudo sente.
Mas, é a alma
desperta e consciente
que regista
o bom e o mau
que a vida tem…
A Tua alma
está cheia de quebrantos,
saudades,
cruzes,
desencantos,
altares vazios
e velas apagadas;
e lá no fundo
já não cabe mais nada.
Não cabe mais ninguém…
Tens as portas fechadas.

  Inédito, Maria Helena Amaro
7/11/2010


sábado, 26 de novembro de 2011

Mensagem de Amor


Quando te encontrei
fiquei
tonta de esperança,
mas, não te disse,
que desejava tanto,
levar-te nas asas do vento,
para conhecer melhor,
o sonho que existia já,
nos teus olhos tão cheios de luz.

Quando te encontrei
fiquei tonta de esperança,
e, à beira do mar,
no ouro azul,
na canção das ondas,
na leveza da espuma,
descobri nos teus olhos
a nostalgia serena das distâncias…

Disseste que desejavas levar-me,
numa vela branca,
para fazer contigo
a viagem da vida…

Acreditei.
Das tuas palavras fiz um hino
e assim se cumpriu
o meu destino.

20/07/2010
Inédito, Maria Helena Amaro

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Reflexões


Só sei
só sei que nada sou
que nada tenho…
Os sonhos que vivi
também desdenho.
Na lembrança que vai
na lembrança que vem
as coisas que perdi
são de ninguém…
Ninguém as quer
ninguém as tem…

Da vida nada sei,
nas ruas que escolhi
não sei
quando ou onde
me perdi.
Por onde caminhei
apenas sei
que tudo partilhei
e quando me encontrei
estava solitária
separada de ti.

Das loas que cantei
poemas que escrevi
não sei, não sei,
se os guardei
perdidamente em mim

ou os perdi…
Por onde caminhei
apenas sei
que tudo partilhei
e quando me encontrei
estava solitária
separada de ti.

Inédito, Maria Helena Amaro

 Março, 2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Lembras-te amigo... (Recordando Fernando Mota Soares)

«Lembras-te meu Amigo? Os teus 18 anos, 
os meus sapatos rasos, as saias rendilhadas,
os teus olhos gaiatos a tecer desenganos,
as minhas tranças quase despenteadas?

Os teus livros de estudo de cantos retorcidos,
enrolados nas mãos, com certo nervosismo?
Os versos comentados já lidos e relidos,
que tu declamavas cheio de romantismo?

Cantavas os teus sonhos, as tuas paixonetas,
quimeras de rapaz que ninguém conhecia.
Voavam tão juntinho nossas almas poetas
e a vida ia tão longe em coisas de magia…


As minhas companheiras na varanda a gritar,
a rir, a bater palmas, em grande rebuliço;
- Ó menina, então? Ou não querem jantar?
Conversem amanhã…Acabem lá com isso!


Separou-nos a vida. O tempo foi veloz.
Passaram trinta anos! Ou foi há pouco tempo,
que dissemos adeus, que nos tremeu a voz,
que o mundo transformou o nosso encantamento?


Foi ao dar-te um abraço, trinta anos passados,
ao ver os nossos filhos tão jovens como nós,
que lembrei a Avenida, canteiros enfeitados,
que ouvi dentro de mim a cantar uma voz!


Olhando ao espelho meu rosto desbotado,
os meus cabelos curtos, que a vida fez em neve
deixei fugir a alma aos dias do passado…
Revi essa Amizade tão donairosa e leve.»


Maria Helena Amaro, 1987
(Reunião de Curso 1955-57 realizada em Braga, em junho de 1987)


Nota da autora: Perdemos um Amigo. Ganhamos uma saudade.
            «Os que amamos não morrem, antes partem antes de nós». Esta frase permanece viva no nosso quotidiano com a separação dos nossos pais, familiares, amigos. Coube desta vez ao Curso da Escola do Magistério de Braga, 1955-1957, perder um companheiro, um colega, um amigo. Todos nos lembramos dele: jovem, hábil no discurso, inteligente, disponível, poeta e prosador.
            Sempre que a Reunião do Curso se realizava, lá estava o Fernando Soares, pendurado nas recordações, a relembrar com uma lagrimazinha aflorada nos olhos e, com um poema nas mãos, a saudar todos com a sua habitual mensagem, como se fossemos «o Curso dos cento e vinte irmãos». E éramos. E somos, ainda que alguns já tenham partido e outros a vida os tenha separado de nós.          
            Tu partiste, Amigo, mas não morreste, porque sempre que nos encontremos na nossa Reunião de Curso, vamos falar de ti, vamos recordar-te como se estivesses junto de nós.
            Que Deus ouça no Céu os teus discursos e os teus poemas.
Maria Helena Amaro
Curso 1955-1957)
Braga, 22/11/2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Esperança


Não guardes o tormento
em flocos de algodão,
nem apagues os espinhos
escondidos na alma…

Não leves a passear o teu pequeno mal
nem cantes aos outros a dor que não dominas.

Há feridas que não chegam a sarar
e cicatrizes que se tornaram chagas…

A tua dor
é uma rosa que ri na madrugada
porque vai desabrochar
cetinosa e ridente
ao sol do teu meio dia…

Tem esperança
quando a noite surgir
alguma estrela brilhará de novo.
Aleluia!

Maio, 2010
Inédito, Maria Helena Amaro

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pescador de Esposende


O farol foi a luz da tua vida…
O choro do mar o teu lamento…
Embarcadiço nas asas do vento,
no por do sol, fizeste despedida.


Cresceu-te a barba; branqueou-se o cabelo.
Já não és mais o jovem pescador,
a agoirar os que têm vigor,
apenas és o Velho do Restelo.


Se eu pudesse, meu saudoso Amigo,
cantar em verso a tua vida austera,
num trabalho que custa, gasta, prende…

Tantas coisas que penso e que não digo,
tantos naufrágios de uma outra era,
num livro só, eu poria – Esposende.


Maria Helena Amaro
Inédito – 1 de maio 2009

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Trevim


Perguntei à montanha
que fizeram dos meus,
desses antepassados
que nunca conheci.
E a montanha se abriu
e apontando os Céus,
serena respondeu:
- serenos e felizes
já repousam ali…

Perguntei à montanha
que caminhos percorro,
entre o sol e o vento,
que se estendem velozes.
E a montanha calou,
vestida de cinzento,
cintilante de luz,
na noite se estendeu
em gemidos atrozes.

Perguntei à montanha,
na luz do amanhecer,
pelos rios que cantam
entre fragas partidas.
E a montanha sorriu,
estendeu os seus braços,
chamou os castanheiros,
dançou nos olivais
e não fez despedidas.

Por isso é que eu a miro,
aqui do meu terraço,
aqui lhe canto loas
e mando o meu abraço.
Que a montanha foi
o riso dos meus pais,
que a viram de neve,
tão perdida de amores,
em voo lento e leve,
a chamar os açores.

Maria Helena Amaro
Inéditos
Lousã, outubro - 2007

domingo, 20 de novembro de 2011

Silêncio


Gostava de compor
o mais belo de todos os poemas…
Gostava de cantar
a mais bela de todas as canções…
Não sou capaz.
Remeto-me ao silêncio
das coisas apagadas ,
e só consigo
ler e meditar
o meu pequeno livro de orações
em noites sossegadas.

 


Inédito – Maria Helena Amaro
16/11/2010

sábado, 19 de novembro de 2011

Gaivota Velha



Se eu fosse gaivota
voava sobre o mar
à procura de uma doce sereia
que viesse cantar
a mais bela de todas as canções…

Se eu fosse gaivota
voava sobre o mar
à procura de um belo pescador
que saciasse em mim
a fome de cantar…

Se eu fosse gaivota
voava sobre o mar
à procura de uma fada ou duende
que me levasse nas asas
pois as minhas
tão velhas e cansadas
só voam já
sobre o mar de Esposende.

Inédito, Maria Helena Amaro
Janeiro, 20, 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sonho



Pode ser pecado
ou heresia,
mas, eu sinto assim:
neste Céu estrelado,
toda a noite a luzir,

eu vejo numa estrela esse - teu rosto
tão puro, enamorado,
para mim, a sorrir…

Então, digo: Boa Noite!
Boa Noite, meu Amor,
e vou dormir...


Junho, 2010
Inédito, Maria Helena Amaro

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Coisas minhas


A Aldeia de meus pais fica na Beira,
terra fria de gente boa e sã,
tão pertinho da Serra da Lousã,
apaixonada pelo Rio Ceira.

Vem-lhe da serra o cheiro maneirinho,
a castanha, a mel e a mimosa;
Tem a graça, a frescura de uma rosa,
a florir por entre o rosmaninho.

Terra dos meus avós, memória doce,
dos olivais cinzentos, sem idade.
Vem da nascente da Senhora da Piedade,
tem nome de água, chama-se Foz de Arouce.

Arouce e Ceira buscam o Mondego,
deslizam por encostas em sossego
e, na descida, fazem um só laço.

Está Coimbra a sorrir à sua espera,
noiva vestida de rendas, de quimera,
a estender-se num amoroso abraço.




Inédito, Maria Helena Amaro
Abril 2011

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Menino Azul

Era um menino
De rosto enfarruscado
De narizito sujo
De riso cristalino
Suave imaculado
Como branco sedoso
Dos lírios do jardim…

E o menino gostava do Azul…
Quando passavam aves
Sob o Sol diamantino
Brilhavam como sóis
As escuras meninas
Dos olhos do Menino!...

Maria Helena Amaro
In «Maria Mãe», 1973

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Crianças


Quando elas passam
Alegres de mãos dadas
De faces prazenteiras
A rir
Às gargalhadas
De laçarotes brancos
De bibes engomados
Ou descalcinhas, sujas,
Magras, esfarrapadas,
Eu escondo entre as mãos
Os meus olhos cansados
De andar outros caminhos
De procurar estradas…


Quando elas passam
De bolsa a tiracolo
De calção curto e camisola bordada
De riso quente
A ecoar nos céus
De olhos gaiatos a espelhar o sol
Entoando canções,
Quedo-me toda de alma ajoelhada
Murmurando canções…



E porque nelas vejo a primavera
A prometer Estio,
Quando as vejo passar
A rir, a saltitar,
É como se passasse
Nesta rua sem sol
Sem paz e sem amor
A promessa serena 
Dum amanhã melhor!

Maria Helena Amaro
In: Maria Mãe,  1973

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Voo







Tantas vezes voei e me perdi,
e me perdi,
em voos sem alento.                            
Perdi as asas
no furor do vento,
e as asas perdidas,
ninguém as encontrou…


Tantas vezes voei como gaivota
que procura,
e não encontra a praia apetecida…
Perdi o voo
e não mais me encontrei,
e na maré que vai,
e na maré que vem,
apenas te encontrei
Ó meu Amor
e mais ninguém!

Inédito - Maria Helena Amaro
Braga – dezembro 2009.

domingo, 13 de novembro de 2011

Nevoeiro


O nevoeiro descia na cidade
e a Avenida tornava-se num cais,
de penumbra e mistério…
Então,
eu saía pressurosa para a rua
e ia tarde fora,
a descobrir os vultos
que cruzavam comigo
estranhos e ligeiros…
na penumbra tão nua.
Na névoa cerrada da Avenida,
deslizavam pessoas como nuvens
a tremer, aos pedaços,
em estranha corrida.
E, eu pensava:
- Lá vem, lá vem, agora é um fantasma…
um duende…uma fada…
uma mulher sem pernas…
ou um homem sem braços…
Se for uma criança,
há de trazer no cabelo caído,
uma trança com laços,
e um longo vestido…


Lá ia eu a sonhar maravilhas:
- é que os fantasmas,
os fantasmas vindos no nevoeiro,
descem à cidade enevoada,
certamente a chorar
à procura das filhas…
- é que os duendes que moram na Avenida
penduram-se nas tílias
e dançam em rodopio,
sem medo,
sem cansaço,
sem frio.
- é que as fadas que percorrem Braga, vestem de rendas, de tule e de brocados,
dançam à roda,
à roda, à roda,
nas ruas, nas varandas,
pendentes dos telhados.


No nevoeiro,
no nevoeiro da Avenida,
eu encontrava sempre
um pouco de mistério,
um nada de poesia…


O nevoeiro descia na Avenida…
Eu tinha quinze anos!
Linda cidade! Amor, sem desenganos!


O meu pincel era uma estrela,
a rua, a minha tela,
e na tarde enevoada e fria,
tão misteriosa, escura
surgia uma pintura.
Inédito – Maria Helena Amaro
Braga, novembro de 2009.

sábado, 12 de novembro de 2011

Outono

Outono sem ti não é outono…
Perde aos poucos a cor e a grandeza…
Caem as folhas. Adivinho a certeza
de que os ninhos irão ficar sem dono.

No outono meus olhos se toldavam
de saudade e de melancolia,
junto de ti, ao acabar do dia,
ansiosos teus olhos procuravam.

Era a certeza de tua companhia,
preenchida de paz e de harmonia,
longe de confusão e de tormento.

Este outono sem ti, eu já sabia,
irá ser apenas nostalgia,
ao escutar a tua voz na voz do vento.

Inédito – Maria Helena Amaro
Braga, 23 de setembro/2010

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Bairro social



Um punhado de Sol.
Um pedaço de Lua.
Um pano de lençol,
pendurado na rua…


Um sorriso fugaz.
Uma cara brejeira.
A bola do rapaz,
na janela certeira.


Um grito, um lamento,
que escuto curiosa.
Um charco lamacento,
na cidade perigosa…


Um polícia que passa.
Um prédio arruinado.
Tanta gente na praça,
pois morreu um drogado.


Um mendigo que pede
um pedaço de pão.
O patrão que não cede.
Carro em contramão.


A criança que chora,
rosto na vidraça.
A mamã vai embora.
Um brinquedo sem graça.

O drogado que arruma
a carrinha Mercedes.
A droga que fuma
lê-se nas paredes…


O livro fechado.
O lixo/cultura.
O trabalho acabado,
salário/amargura.

O vestido apertado,
o colar a cair.
O namoro negado,
a mulher a sorrir…


Na cidade que dorme,
à morte resistes…
A pobreza é enorme.
Quem sabe que existes?

Inédito – Maria Helena Amaro
Braga , dezembro, 2008

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Entardecer



Gritavam as gaivotas na curva das ondas
e tornavam sinistro e magoado
o arenal deserto…
Eu caminhava na orla do mar
e enterrava os pés,
na areia humedecida da maré.
O mar era um braseiro
onde o sol se afogava…
as gaivotas saltitavam ligeiras
sobre a espuma branca
que as ondas formavam…


Gritavam as gaivotas nas curvas das ondas
e no silêncio feito de magia,
só os seus gritos preenchiam
o espaço deserto…
Nunca mais vi o pôr do sol no mar
e não mais passeei
descalça e divertida,
na orla da maré…

Ficou-me na memória
o grito das gaivotas
que tornavam sinistro e magoado
o arenal deserto…

Fora eu gaivota e iria voar,
naquele entardecer cheio de luz,
sobre a espuma que rendilhava o mar.

Mas não fui.
Mas não irei.
Ficarei para sempre a reviver
a doçura, a paz, a solidão:
- gaivotas a descer
- o mar a estender
- o sol a despedir-se
naquele entardecer…


Gravo a imagem que sempre me prende:
O pôr do sol na praia de Esposende.

Maria Helena Amaro
Inédito, 15 de Agosto 2004

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Os meus poemas d'oiro

Quando eu morrer
Os meus poemas d’oiro
Ninguém os há-de ler…


Falam de ti em tardes repousantes
Quando o sonho adormece
A embalar a Vida…
Falam de ti os meus poemas d’oiro
De ti que não entendes
A linguagem muda
Das frases que se cruzam
Nos meus olhos parados…

Quando eu morrer
Os meus poemas d’oiro
Ninguém os há-de ler…


Se falam só de ti,
Quem os vai entender?


Maria Helena Amaro
In «Maria Mãe», 1973

Reflexão

Procuras na vida uma miragem,
do melhor que a vida pode dar,
mas já sentes cansaço na viagem,
e o coração demente a suspirar


Extensa caminhada não te interessa,
as luzes da ribalta também não.
De viver a vida não há pressa,
nem sequer há gozo ou ilusão.


Esquece a dor que houveras sofrido.
Abre a janela a Deus, à luz diz sim,
não mergulhes a alma em desamor.


A tua vida só terá um sentido,
se fizeres dela um imenso jardim,
onde todos possam colher uma flor…

Inédito, Maria Helena Amaro
Braga, 27/09/2011

Prece

Senhor…
Quando a noite descer
E me tornar abandonada e só
Dá-me a tua Mão
Para que eu pouse Nela
A minha face crispada de amargura…
Senhor…
Quando o Sonho nascer
E com ele ilusões de Ventura
Dá-me a Tua Mão
Para que leia Nela
O sinal + na minha branca estrada
Senhor…
Quando o Amor vier
E com ele quimeras rendilhadas
Dá-me a Tua Mão
Para que eu guarde Nela
Todos os Sonhos de Pureza e Ternura…
Senhor…
Quando a Morte se erguer
E transformar o meu oiro em poeira
Dá-me a Tua Mão
Para que possa ver
O meu Caminho escrito nas Estrelas…
Senhor…
Senhor das coisas belas !

Maria Helena Amaro – 1960
In «Maria Mãe»

Preâmbulo (nota do editor do blogue)





Este blogue nasce da vontade de abraçar, no mundo virtual, alguém que amo muito: a minha mãe. Esta página pretende simplesmente ser veículo cultural de divulgação de um manancial de poemas e de contos que ela tem criado ao longo da sua vida.
O seu nome é simples: Maria Helena Amaro.
O seu talento parece-me incomensurável, mas neste ponto tenho de guardar silêncio, porque sou suspeito...
Espero que gostem e que a beleza das suas palavras vos toque no coração.
Obrigado, desde já, por passarem por aqui...
Um abraço virtual.


Tó Sequeira.