Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Livro de histórias


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

A minha vida é livro esfarrapado
de capa enrugada, retorcida,
lido e relido já não interessa nada.
É canção gasta, breve, interrompida.

Aos quinze anos lhe chamei miragem
Aos vinte anos me pareceu novela
Aos trinta anos se tornou romagem
e aos quarenta história de favela

Aos cinquenta já lhe chamava drama
Aos sessenta era apenas uma chama
que se apagava aos poucos hesitante.

Aos setenta, dos tempos são histórias,
vão-se esgotando personagens, memórias.
Um livro velho guardado numa estante.

Maria Helena Amaro
Maio, 2014.



quarta-feira, 28 de junho de 2017

Encontro (Curso 1955-1957)


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

É o encontro que nos ama e nos abraça
e nos lembra a doce mocidade.
É espantoso como o tempo passa
e nós estamos vivos, sem idade.

É um dom, uma alegria e uma graça
renovarmos ano a ano esta unidade
pois nada nos detém ou embaraça
para poder quebrar uma saudade.

Pode a vida ser rude, triste ou baça
que a alegria que em nós perpassa
é como um mar na sua imensidade.

É o encontro que nos une e nos enlaça
que o nosso Curso foi para nós uma taça
que erguemos em nome da Amizade!

Maria Helena Amaro
14/06/2014


terça-feira, 27 de junho de 2017

Rugas


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

As rugas demarcadas no meu rosto
são os caminhos que percorri na vida;
Umas são de ventura enternecida,
outras de desencanto e de desgosto.

As rugas da fronte pensamentos.
As rugas da face são estradas,
onde correm lágrimas salgadas
provenientes de dores e sofrimentos.

As rugas da boca são canções
que ficaram por cantar, são orações;
São saciares de segredos escondidos.

São rugas de sorrisos de lições,
de palavras de amor e de perdões,
de poemas e desenhos bem sentidos.

Maria Helena Amaro
1 de agosto de 2014

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Estrelas (Ao curso 1955-57, no 60.º Aniversário)

(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Aos dez anos, eu contava as estrelas
e minha avó dizia
que me riam nascer cravos nas mãos.
Eu não acreditava…
Aos vinte anos, punha nomes às estrelas:
Alegria, esperança, amizade, amor,
e colocava o teu rosto numa delas…
Aos trinta anos, agrupava as estrelas,
em tamanhos e cores…
Sonhava para elas,
ramalhetes e laços, nós, atilhos,
e podia mirá-las,
nos olhos dos meus filhos…
feliz e sem agravos…
na mão direita nasceram treze cravos!
Aos quarenta anos,
na escuridão do meu terraço,
eu olhava as estrelas cadentes,
envoltas em rendas transparentes
e reclinava a cabeça,
na dobra do teu braço.
Aos cinquenta anos, eu chamava as estrelas,
olhava-as com ternura,
achava que eram doces e serenas,
e poderiam iluminar a minha noite…
fazia-lhes poemas.
Aos sessenta anos, as estrelas fugiam
aos meus olhos cansados…
Eu contava-as, recontava-as…
e sempre as descobria, que ilusão,
a tentar penetrar,
neste meu coração!
Aos setenta anos… onde vejo as estrelas?
Chamo por elas… e por elas me perco…
e por elas procuro um rumo certo,
novas ruas, novos sonhos, novos afetos…
No céu não há estrelas,
andam todas bailando
nos olhos dos meus netos…
Aos oitenta anos… que sei eu?
Onde vou eu sem estrelas penduradas
no escuro do céu?
Tenho uma ideia bela!
Quando eu morrer
vou pedir ao Senhor
que ponha a minha alma
bem juntinho da tua
a sorrir no escuro
no meio de uma delas
Senhor, Senhor das coisas belas!

Maria Helena Amaro
Inédito
11 de junho 2017

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Vida


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

A vida, para mim,
era um balão que pairava, pairava...
Quando ele subia
eu sorria... sorria...
quando ele pulava
eu dançava... dançava...
quando ele descia
eu puxava... puxava...
quando ele caía
eu fugia... fugia...
corria... corria...
à procura do nada!

Ficava-me preso
num dos dedos da mão
o fio do balão
que supunha um tesouro...
O balão não voltava,
mas o fio se tornava,
num aro cor de ouro!

Maria Helena Amaro
Junho 2014

terça-feira, 20 de junho de 2017

Poemas velhos


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Meus poemas... espalhados no espaço,
foragidos do baú da minha vida,
onde escondo tanta coisa perdida,
tanta coisa que penso, sonho, faço.

Poemas velhos causam-me embaraço,
são estrofes sem cor e sem medida,
gritos loucos de alma combalida,
pendurados na curva do meu braço.

Pego neles, rasgo, risco, traço,
faço deles um enorme maço
e vou deitá-lo ao mar, numa corrida.

O mar, a rir, procura o meu abraço,
lança-o de volta para o meu regaço
e eu recebo-os e choro enternecida.

Maria Helena Amaro
22 de junho de 2014.


segunda-feira, 19 de junho de 2017

Confissão


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Sempre existiu
entre mim e a folha de papel
um grande conflito...
Uma folha lisa de papel
à espera de um poema de sol
é o meu grito...

Sempre existiu
em mim como escritora
o medo de falhar
de maldizer...

A folha de papel
tão branca e tão despida
exige com secura
que eu possa escrever
o mais belo de todos os poemas da vida.

Luto
resisto
e surge o conflito...
É que eu já rasgo tudo,
tudo que tenho escrito.

Maria Helena Amaro
Janeiro, 2014.

sábado, 17 de junho de 2017

Cerejas


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Eram manhãs sequiosas de verão
E as cerejas eram altas e velhas
Nós puxávamos as galhas para o chão
e pendurávamos as cerejas nas orelhas

Cada gaipo de cerejas era um milhão!
Íamos a cantar por caminhos e quelhas...
Ninguém ligava ao nosso cantochão
Alguns olhavam erguendo as sobrancelhas...

Os rapazes, aqueles mais aselhas,
não trepavam às velhas cerejeiras
Mas ficavam olhando as nossas saias...

Voavam sobre nós mosquitos e abelhas.
Vinham os gritos das nossas companheiras!
Sai daí, desce já, olha não caias!

Maria Helena Amaro
Abril, 2014 


sexta-feira, 2 de junho de 2017

Levem-me a ver o mar



(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Levem-me a ver o mar…
Antes de eu morrer,
levem-me a ver o mar,
das ondas ondulantes,
das naus e caravelas,
dos bravos navegantes,
a dominar procelas…
Levem-me a ver o mar,
pejado de traineiras,
de gritos de gaivotas,
de canto de sereias,
das marés espumosas,
batendo nos rochedos,
dos naufrágios medonhos
de lendas e de medos,
de desfazer de sonhos,
de intrigas e enredos…
Levem-me a ver o mar
de areias escaldantes
onde possa lançar
meus choros lancinantes…




Maria Helena Amaro
Fevereiro, 2014