Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

domingo, 29 de junho de 2014

Silêncio de Luz




(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Quanto te vi pela primeira vez
louca de mim não sonhei apreciar
do teu rosto a doce languidez
e o ardente fulgor do teu olhar

Loucura! Andava às cegas no caminho
dum novo mundo buscando a solidão
esquiva à amizade e ao carinho
vivendo só da vida uma ilusão

Nunca sequer eu reparara em ti
os meus olhos jamais quiseram ver-te
mas agora, amigo, fica aqui!
Tenho tanto medo de perder-te!...

Maria Helena Amaro
21/11/1952

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O teu olhar


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Nem de noite na deusa escuridão
a lua brilha mais que teu olhar
a tua imagem, o tom do teu falar
Encontram eco, aqui no coração...

Quantas horas de noite no meu leito
solto o teu nome em doce dormitar
É sonho? não, não sei sonhar...
É a minha alma a bater no teu peito!


Talvez seja amor, talvez loucura,
talvez ciúme, talvez melancolia
o que leio nos teus olhos dia a dia
E depois? Talvez até amor!


Maria Helena Amaro
Braga, 6/11/1952
(Dedicado a uma amiga) 

domingo, 22 de junho de 2014

Amor


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Amo-te tanto e nunca te encontrei,
cavaleiro de sonhos encantados!...
Passam a fio meus dias ensombrados
esperando sempre, mas de quê, não sei...

Frases soltas... prantos de alegria...
Quimeras... sonhos... ambição...
Eis tudo o que encontro dia a dia
na palácio encantado da ilusão!

Amor! Amor já não existe...
Dele apenas só há uma ilusão...
E a vida sem ele? Rósea? Triste?
De que serve meu pobre coração?

Como te quero, amor como te quero!...
A vida é toda uma doce oração...
Quando vieres, vem nobre e vem sincero
e traz-me a luz, a luz da redenção!

Maria Helena Amaro
Braga, 12/10/1953

sábado, 21 de junho de 2014

Violetas




(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Violetas, belas, perfumadas
trazei-me sombras, trazei-me inspiração
sois felizes assim abandonadas
vivendo tristes na vossa solidão?

Quais donzelas fechadas num convento
nascidas do pó, na sombra mortas
trazeis-me só tristeza ao pensamento
em pétalas roxas, belas, soltas!

Procurais a sombra, deixais a ilusão
escondeis a beleza feita de doçura
do sonho é feita a vossa solidão
e a vossa cor é feita de amargura

As vossas faces são milagres d'amor
flores poetas encantadas na luz
sois testemunhas de angústias de dor
tendes a cor das chagas de Jesus!


Maria Helena Amaro
Esposende 13/06/1952

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Recordando


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Há tanto tempo que isso aconteceu
ainda eu era talvez uma criança...
Depois cresci... Quando cresceu a esperança
Morreu também com tudo que morreu...

Esse tempo... esse tempo feliz,
tempo da minha infância sonhadora
transformou-se desde a maldita hora
em que no sonho nuvens brancas desfiz...

Tudo passa! Tudo morre! Tudo vai!
Tudo mergulha nos escombros do tempo...
Só em mim não morre este lamento!
Só esta dor do meu peito não sai!

Maria Helena Amaro
1952
(Dedicada a uma amiga)

domingo, 15 de junho de 2014

Criança


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Criança! O teu olhar... essa pureza
nesses olhos cheios de doçura
parecem acalmar esta amargura...
Esta sombra... esta infunda tristeza...

Criança! Sonhara ser pequena, pequenina
ter para mim afagos e carinhos...
Mas dispersa em dores entre carinhos
Recordando os tempos de menina...

Quando um dia chegares a compreender
destes versos um pouco de ternura
talvez o pó seja minha planura
e d'oiro seja já o teu viver...

Levanta então o teu olhar aos Céus
e pede por mim... És toda Esperança!
Eu nunca tive amor... Cresci dos meus
que nunca me deixaram ser criança!

Maria Helena Amaro
Foz de Arouce
17/09/1952
(Dedicado a uma afilhada)

sábado, 14 de junho de 2014

Noites de janeiro





















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Noites de janeiro, tão leves, tão formosas
são para mim um sonho já desfeito
têm frescuras de cravos e de rosas
são suspiros guardados no meu peito

Noites tão belas, de sonho, de luar...
A brisa bate no meu rosto tristonho
e a magia lunar vem embalar
as fugidias esperanças  do meu sonho

Sou poeta... Hei de sê-lo eternamente
nas noites de luar cheias de encanto
vendo brilhar a lua intensamente
ouço a vida chorar num longo pranto

E se a lua se apaga lentamente
sobre a terra ardente, adormecida...
Eu sinto na minha alma bem presente
uma saudade... uma dor desmedida...


Maria Helena Amaro
Esposende
31/01/1953



quarta-feira, 11 de junho de 2014

Esquecer



(Ilustração de Maria Helena Amaro)



Esquecer... como hei-de esquecer
o tempo... a vida... a mocidade?
Dela tenho quimeras de saudade...
Dela tenho esperanças a viver...


É tão bom viver a recordar
sentir o passado à nossa frente
vivendo sonhando novamente
com o peito alegre a palpitar

Se esquecesse, se pudesse esquecer
recordações que tenho doutra vida
era tentar, dos escombros, perdida,
a casa branca da alma, toda erguer... 


Maria Helena Amaro
Esposende
11/10/1952


terça-feira, 10 de junho de 2014

Minho





















(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Escuros pinheirais, o mar, o monte
água fresca caindo de uma fonte
Como tudo é verde à minha vida!
A igreja... o alto campanário...
Que lindo! Que belo este cenário!
Só a mão de Deus... a mão d'artista!

Há pouco que o céu escureceu
a terra toda então humedeceu
e a bruma envolve as casas brancas...
Ao longe brilha uma luz: é o farol
agora é ele a luz é ele o Sol
ao longe dobram sinos: falas santas...

Os sinos vão dobrando tristemente
a chuva vai caindo lentamente
e vem lavar de manso esta vidraça...
Erguem-se ao longe as asas de branquinhas
há fios doridos de andorinhas
e junto a mim uma pomba esvoaça

Mais ainda... As serras imponentes
Prados verdes, searas reluzentes
O mar, o rio, o céu azul imenso...
As casas são estrelas semeadas
no vasto monte escuro levantadas
ao infinito todo, grande, extenso...

E a chuva lava  os vidros das janelas
borboletas brincam detrás delas...
É quase noite. Tudo escureceu...
Moças bonitas escondem-se a fiar...
O mar é vida... A vida é toda mar...
No mar se fina quem no mar nasceu...

Ergue-se todo... entristece a cantar
com ondas lindas tecidas de luar

da cor do oiro ou brancas de linho...
Cantando à noite morrer a murmurar,
junto aos rochedos... ali na praia-mar
Morre a cantar uma canção ao Minho!


Maria Helena Amaro
Esposende, 24/08/1952

domingo, 8 de junho de 2014

Senhor


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Sem saber onde moro, onde estou
vou caminhando só, tão pobremente
e julgo que se vive alegremente
quando se esquece tudo que se amou...

Lá ao longe canta a mocidade
bandeira erguida em gestos imponentes
vejo os jovens morenos e ardentes
mostrando ao mundo a sua heroicidade

Senhor! Que sonhaste dar-me vida
que me deste saúde, pão, fartura
transforma a minha dor toda em espuma
e dá-me a minha rota já perdida

Porque há Senhor tanta desgraça
tanta dor, tanta fome, tanto fado
tanta mancha, tanta poeira ardente?
Talvez fosse o homem mau, cruel
que transformou a vida toda mel
num caminho que se anda amargamente

Maria Helena Amaro
Braga
12/06/1952

sábado, 7 de junho de 2014

Não sei que é...




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Eu não sei o que é isto que me embala
Um tão doce não sei quê me emleia
Uma voz doce, muito doce que me fala
E uma miragem linda na ideia

Eu sei, não é amor como se vê
Mas é um encanto é um gostar
É um muito doce não sei quê...
É a minha alma toda a desfrutar!

É um sonho, uma visão quase terrível
Mas serena, rósea e atraente
É um profundo abismo, um impossível...
É um sonho... uma quimera ardente!


Maria Helena Amaro
Esposende, 17/10/1952 

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Finda-se o dia


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Quem não viu o oiro do sol pôr
nunca sentiu na vida uma saudade
que nos fala do carinho e do amor
que nos fala duma felicidade

Nuvens cruzam-se no ar devagarinho
o sol aos poucos vai desaparecer
tudo isto nos fala de carinho
tudo isto nos faz talvez sofrer

Os passarinhos cheios de harmonia
cantam baixinho a última canção
sinos tangem lembrando o fim do dia
e em breve surgirá a solidão.

Ouvindo os sinos tocar suavemente
meu jeito amargurado de saudade
pede a Deus baixinho docemente
que o sol traga só felicidade!

Maria Helena Amaro
Esposende, 10/03/1951 

domingo, 1 de junho de 2014

Dedicatória (a uma amiga que faleceu)



(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Nas asas dum anjo todo branco
voaste até Deus num lindo dia
e o teu coração tão meigo e santo
da terra levou toda a alegria

Deixou-me para sempre esta saudade
que me alumia nos umbrais da sorte 
e Deus que de vida é suavidade
assim quis que fosse a tua morte

Campa rasa, cruz preta e um cipreste
é tudo isto a tua sepultura
memória de pureza que tiveste
memória da dor e da amargura

É noite. Além dobram os sinos
a tua alma é linda como oiro
do céu desceram já anjos divinos
para levarem a Deus o teu tesoiro

Adeus. A tua alma era tão pura
que a terra ia manchá-la de pecado
é por isso que na tua sepultura
dorme sonhando um anjo todo alado! ...


Maria Helena Amaro
Esposende, 17/03/1950