Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

domingo, 30 de março de 2014

Menina do sonho





(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Menina do sonho, das tranças caídas
das tranças caídas, tão negras e belas
de faces mimosas, morenas, garridas
de olhos suspensos em tantas estrelas...

Que sonhas, menina, de olhos perdidos
brilhantes, profundos, cheios de mistérios
de gestos parados, de braços pendidos
estátua jacente d'algum cemitério...

Menina do sonho, das tranças caídas
de olhos sombrios, cheios de tormento...
De pés pequeninos, de saias compridas,
rodadas, vistosas, ondulando ao vento...

De olhos voltados p´ra tantas estrelas
que rezas, menina, em muda oração?
Teus olhos rasgados são duas janelas
onde se debruçam fadas de ilusão?

Menina do sonho, das tranças caídas
a noite é infinda no teu firmamento
que fazes, menina, auroras perdidas
suspensa no alto nesse encantamento?

Que sonhas, menina, nas noites serenas
nas noites de tule, tão negras e belas
no peito, cruzadas tuas mãos pequenas,
de olhos suspensos em tantas estrelas?

Menina desperta do sonho profundo
estende os teus braços às nuvens que passam
menina olha a vida, menina olha o mundo
as sombras aladas que no ar esvoaçam


Ensaia o teu voo não queiras ficar
metida no pó das grandes planuras
o dia se fina muito além do mar
e o sol só desponta nas grandes alturas...
.....................................................................
Menina das tranças tão negras e belas
de olhos suspensos em tantas estrelas!


Maria Helena Amaro
16/08/1957






sábado, 29 de março de 2014

Ofertório




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Quando tiveres os olhos rasos d' água
e as mãos a tremer de comoção
oferece a Deusa tua imensa mágoa
e murmura baixinho uma oração...

Não deixes que o ódio ou o rancor
tome uma parte do teu humano ser
dá à ofensa o teu perdão de amor
e ao avaro o teu puro bem querer...

E se na vida tu encontrares somente
vileza, mentira, maldição
em troca do teu amor sem par...

Então amiga sorri e sê contente
Porque se a terra te deu ingratidão
a ventura o Céu te há de dar...


Maria Helena Amaro
12/08/1957
(Publicado no Diário do Minho em março de 2008)




quarta-feira, 26 de março de 2014

Requiem (Vitó)


Requiem

Deus dá-nos com a vida
escadas a subir
e rampas a descer…
Tuas escadas tinham grades douradas
e corrimões perfeitos…
Em inteligência, sabedoria e força
tu foste na família
eleito entre os eleitos…
Sereno como um lago
Com leveza de corça.
Foi com um travo amargo
que desceste as cruas rampas
que a vida te deu…
No florir da vida
longe do amor, da família, da terra,
longe, tão longe, onde o sol escurece
viveste a guerra
que ninguém quis ou quer…
Pouco para sonhar
menos para viver
e nada para amar…
Que rampas tão doridas de descer!
Ficam connosco, na memória dos tempos,
a tua imagem, o teu sorriso doce,
a miragem de um tempo de flores,
as corridas na praia de Esposende,
as horas perdidas em Foz de Arouce
os louvores militares,
com honras e medalhas…
Pois, se a morte dói…
tu foste entre nós todos
um Herói!


Em 28/02/2014, da Maria Helena Amaro

sábado, 15 de março de 2014

Dia do Pai (2014)









(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Dia do Pai

19 de março de 2014

 

Chamaram-te «Pai» e tu sorriste,

ergueste os braços num gesto de agrado,

rosto sereno e olhar demorado,

nome de força a que ninguém resiste.

 

Chamaram-te «Pai» e tu lutaste,

para que nada faltasse em nossa casa,

foste para nós a mais serena asa,

compreendeste, amaste, perdoaste!

 

Quem teve um Pai bondoso como eu,

é que adivinha a dimensão do céu,

onde possam caber todos os pais!

 

Eu tive um Pai, morreu,

mas está vivo neste pedaço meu,

Está comigo, não o esqueço mais!

 


Inédito – Maria Helena Amaro

Braga, março de 2014.

 

quarta-feira, 12 de março de 2014

Baloiço




(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Baloiço que danças
azul ou cinzento
cinzento doirado
azul cor do mar...
Que sonhas baloiço
na dança colorida
que traças no ar
coberto de bruma?
Baloiço da vida!


Baloiço que danças
azul e vermelho
vermelho e cinzento
de branco pintado...
Que danças baloiço
na dança colorida
que te canta o mar?
Sulcando as areias?
Baloiço da vida!


Que sonhas baloiço
se uns pés morenitos
te fazem dançar
suspenso nas cordas?
Que sonhas baloiço
se umas mãos pequenas
te afagam ligeiras
te fazem saltar?
Que sonhas baloiço
meu querido brinquedo
se lindas crianças
se zangam por ti?


Baloiço que danças
que danças no ar...
Baloiças... baloiças...
Pintado de branco...
Baloiças... baloiças...
Na trave colorida...
Baloiço da vida!


Maria Helena Amaro
8/08/1957



domingo, 9 de março de 2014

Aquelas mãos


















(Ilustração de Maria Helena Amaro)





Aquelas mãos..
Esguias, ardentes, divinais
como fantasmas alvos
estendidas no teclado branco...
Aquelas mãos
de dedos longos, fusiledos
como vultos escuros, outonais,
vagueando à luz crepuscular...
Aquelas mãos...
Donde surgiram elas misteriosas
como ninfas leves, donairosas
a perfumar o chão...
Aquelas mãos...
Senhor, aquelas mãos...
Mãos de anjo? De virgem?
De vestal ou de mulher perdida?
Aquelas mãos, Senhor!
Têm dor
têm poesia
têm vida!


Maria Helena Amaro
1957
Publicado in Via Latina, Coimbra.



sábado, 8 de março de 2014

Dedicatória

















(Ilustração de Maria Helena Amaro)




Tens na tua alma, nos teus olhos
tudo isso que anseias dizer...
Cautela, amiga! Não basta ser mulher,
saber sorrir à ventura, aos escolhos...


Repara em mim no meu todo real
e tenta ler a minha justa ideia...
Quero que saibas que eu me julgo feia
e ser feia... O que é afinal?


Se ser belo é ter rosto prazenteiro
um olhar fulgurante, fagueiro,
um sorriso de oiro e de rubis...


Eu disso tudo não tenho um só valor...
(Que sou bela não digas, por favor!
O teu silêncio faz-me tão feliz!)


Maria Helena Amaro
1957

quarta-feira, 5 de março de 2014

Presença






(Ilustração de Maria Helena Amaro)







Tinha caído na estrada escura
a alma em chaga, mais só do que perdida...
Disse-me Deus com voz toda doçura:
"Ergue-te, filha! Chama por tia a vida! ...»


Abri os olhos. Tateei em vão
busquei no mundo uma porta de saída...
Disse-me Deus na minha escuridão:
«Por aqui, filha! Coragem na subida!»


Segui a sua voz, o seu caminho
subi ao alto da colina da vida
e olhei o mundo com horror...


Disse-me Deus com voz toda carinho...
"Tens de descer lá abaixo, filha querida,
quero que tragas os teus irmãos na Dor...»



Maria Helena Amaro
1957
(Publicado  in Diário do Minho, março de 2008)

terça-feira, 4 de março de 2014

Regresso




(Ilustração de Maria Helena Amaro)






Quis ter um reino e só tive ilusão...
Quis ter Amor e só tive loucura...
Quis ter riqueza e só tive amargura...
Quis odiar e não tive perdão...


Quis ser rainha e Deus fez-me mendiga...
Quis ter prazer e tive sofrimento...
Quis ser cantora e Deus pôs um lamento
na minha boca de linda rapariga...


Quis a meus pés prostrado o mundo inteiro
sonhei, vivi, lutei pela ventura
e na estrada cai perdida e morta...


Deus veio erguer-me do abismo profundo
ensinou-me a rir da desventura
sempre que ela bata à minha porta...


Maria Helena Amaro
1957  

domingo, 2 de março de 2014

Moinhos de ventos













(Ilustração de Maria Helena Amaro)




Moinhos de vento! Nunca os viste
de velas brancas redondas eternamente?
Bandeiras rotas de exilado triste
ondulando ao vento docemente...


Que pedem eles voltadas para o Céu
de velas rotas redondo eternamente
fantasmas brancos de certo mausoléu
desenhados na sombra do presente...


Farrapos brancos, paus estilhaçados
num raque, raque, raque eu vos vejo girando
no céu azul, esguios, levantados...


Sois a imagem da minha vida quando
eu levantava os meus braços cansados
ao Infinito, a Fé, implorando!...


Maria Helena Amaro
1957  

sábado, 1 de março de 2014

Ilusões




(Ilustração de Maria Helena Amaro)


As nossas ilusões são aguarelas
esboçadas no nosso pensamento
irreais, suaves, muitas delas
traçadas pela mão do sentimento


As nossas ilusões são rosas belas
fustigadas de longe pelo vento...
Nuvens etéreas, gigantescas estrelas
que vamos buscar ao firmamento...


As nossas ilusões... Coisas singelas
juras, promessas, sofrimentos.
Mãos cheias d'oiro... Que são elas?


Clareiras sem fim, longas janelas
D'onde avistamos entre fugas do tempo
os dias belos ausentes de porcelas...


Maria Helena Amaro
1957