Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Canta


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Canta coração, canta magoado
canta que ninguém vai sequer pensar
que tu
és capaz de chorar e maldizer.

Canta coração canta magoado,
o amor destroçado,
é feito de pouco, ou tudo, ou mais...
Canta coração
ó voz serena que do peito me sais
serena canta, canta, não chores mais,
deixa que a calçada se molhe de relento
na noite morta, é morto o pensamento
e lá ao longe há um barco no cais...

Canta coração
Fica comigo
Não te separes mais!

Maria Helena Amaro
Maio, 1997

domingo, 26 de janeiro de 2014

Que sou eu? (A minha Mãe)




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Perco-me aos poucos no encalço da vida
e a vida me foge sem cessar
Perco-me aos poucos  na morte/despedida
Não sei se vou morrer... se vou ficar...

Entre a Paz e a Guerra dividida
entre o riso e a dor tão maltratada,
que sou? Quem sou? Tanta medida!
Medi de dor que já nem sei de nada...

Se tenho pés é para tropeçar
nesse passado em que a traição nasceu
em que troquei a luz que reacendeu
em que pus velas ardendo num altar!

Agora... que sou? que vou dizer?
Se já ninguém ouve o lamento de breu
Se já ninguém me quer prá acalentar?
Se a vida é toda Inferno? Que sou eu?

Maria Helena Amaro
Abril, 1997

30.000 visitas

30. 000 VISITAS!

Hoje, dia 26 de janeiro de 2014, o marcador apresenta 30 000 visitas!
Agradecemos a todos os leitores que continuam a passar por este, nosso, vosso, lar literário…
Sentimos sempre prazer a receber as vossas visitas diárias.
 
Um abraço virtual.
Boas leituras!

sábado, 25 de janeiro de 2014

Pausa (1997)



(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Gastei os melhores anos desta vida
a procurar o teu rosto
refletido
no lago dos meus sonhos...

No lago dos meus sonhos
mergulhei
submergi
morri
mas nunca te encontrei!

Maria Helena Amaro
Março, 1997
(Prémio -Concurso Fernando Pessoa, 1997) 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Mensagem (Ao Tono, 1996)




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Apenas queria,
encostar no teu ombro
a minha cabeça,
roçar os meus lábios
no teu rosto
e dizer-te
serenamente,
como em oração:
Eu te amo...
Eu te amo...

Apenas queria
estender a minha mão
e encontrar a tua
num gesto seguro
de eternidade...

Apenas queria...
Mas este tormento não passasse
dum tormento sem nome
que se desfaz
no quotidiano cinzento
de uma vida sem cor...

Apenas queria...
Apenas queria...
dizer-te serenamente
como uma oração feita
de luz:
Meu Amor, Meu Amor, Meu Amor!

Maria Helena Amaro
14 de fevereiro 1996
(Prémio Fernando Pessoa)

domingo, 19 de janeiro de 2014

Mágoa


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Come na minha mesa
dorme ali ao lado
é a penumbra da minha manhã
e o desassossego da noite serena...

É a gota de sangue
da minha veia aberta
a lágrima suspensa
do meu rosto apagado...

É a pergunta ansiosa
do meu olhar vidrado
o ranger de uma porta que
permanece aberta
e o fru - fru dessa cortina solta.

Colada a mim como um verme nojento
descansa no sofá da minha sala
e respira o ar que eu exalo...

Toda a vida a vê-la
a pressenti-la
a espiar-lhe o rosto e o arfar
é a névoa da tarde pardacenta
e o gotejar da janela embaciada...

Envolve-se no ar que eu respiro
no meu cheiro, no meu gosto
no meu ser...
Para sempre... para sempre
para sempre...
É só olhar e ver...
Não vale a pena tentar
sacudir
gritar
esbracejar
romper...
Rasgo a alma só de a
expulsar...
Mas ela permanece...
Até morrer!

Maria Helena Amaro
Abril, 1995
(Prémio Camões) 

sábado, 18 de janeiro de 2014

Lenda


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(Ilustração de Maria Helena Amaro)
 

Os anjinhos do céu,
nesta noite,
não dormiram nada...
Andaram toda a noite,
a despejar ligeiros,
sobre a velha cidade,
os seus dejetos de alma lavada...

Inundaram com eles
os campos, os jardins,
as ruelas estreitas
e as longas estradas...

Quando eu era criança,
contavam-me esta lenda
(e eu acreditava)
Metia-me descalça
debaixo das chuvadas
e saltitava alegre nas pocinhas,
a rir, à gargalhada...

Hoje, não acredito.
Fechei o coração...
E grito: «Não, mais chuva não!
Estou alagada!»
Mas, Braga
é um sertão
não me diz nada!

Maria Helena Amaro
Braga, janeiro 2014 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Grito


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Onde estavas tu
quando eu te chamei
quando eu te chamei
e tu não respondeste...
Vagueava-te o olhar
na estrada cinzenta
e as gotas de chuva
rolavam saltitantes
no vidro da janela...

Onde estavas tu
quando eu chamei a minha dor
silenciosa e triste
como um duende
perseguindo as sombras
derramadas e quietas
na estrada sem luz...

Onde estavas tu
que não vieste?

Maria Helena Amaro
(Prémio Fernando Pessoa)
Janeiro, 1996




domingo, 12 de janeiro de 2014

Utopia




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)
 

Sair
ir dançar a qualquer lado
rosto no rosto
mão na mão...
Duas palavras
um cigarro
um Whisky...
Uma pausa enorme na conversa
sorrir...
sorrir...
nada dizer...
beber...

Sair
mostrar ao mundo que ainda não morri
ir a qualquer lado
ter o meu canto
a minha mesa
o meu amado...

Sair
num dia de chuva
que cansa
que embrutece
que me faz sentir
um barco naufragado...

Maria Helena Amaro
Março,1995

sábado, 11 de janeiro de 2014

Desencanto



(Ilustração de Maria Helena Amaro) 

Também o meu Amor foi despedida
foi Adeus.
Não voltou.
Pus um cravo vermelho
na janela
e ele secou.

Pus uma cortina azul
na varandinha
veio o vento e levou...

Pus um sino de fogo
nos meus olhos.
Veio a chuva
apagou.

Também o meu amor
foi despedida...
Foi Adeus
não voltou
e ninguém mais notou.


Maria Helena Amaro
Março, 1995

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Natal


















(Ilustração de Maria Helena Amaro)
 

Todos os anos
voltamos repetidamente
ao longínquo Natal
da nossa infância...
Todos os anos
nos enchemos de luzes
de fantasia e sons
evocando insistentemente
um milagre de Esperança...

Atulhados de barulho
e de presentes
perdemo-nos nas ruas da cidade
à procura da prenda mais bonita
mais espetacular...

Os mais humildes e carenciados
olham-nos de lado
a invejar as nossas alegrias...

Seria bom, tão bom
que começássemos já a ensinar
aos meninos que são nossos alunos
a celebrar no Amor
o verdadeiro Natal
todos os dias!

Maria Helena Amaro
Dezembro, 1995
Publicado pela Casa do Professor


domingo, 5 de janeiro de 2014

Agonia


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


É uma lágrima na manhã cinzenta
uma rosa numa mão fechada
um suspiro na corrida lenta
um sorriso na tarde acabada...

Pergunto por ti e ninguém se atormenta
grito no escuro e à minha chamada
responde o silêncio que a noite sustenta
e eu fico na noite de alma parada...

Seca fica a lágrima na manhã cinzenta
murcha, fica a rosa numa mão fechada.
É morto o suspiro na corrida lenta
vago é o sorriso na tarde acabada...
 
Maria Helena Amaro
Agosto, 1992 

sábado, 4 de janeiro de 2014

Homenagem




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)




Homenagem à professora Maria Fernanda, colega de escola, falecida em 20/07/1991

Meu Deus,
Meu Deus, quem somos nós,
para dizer que a partida da Fernanda
foi triste e prematura...
Quem somos nós para pensar com pena,
que a jornada foi interrompida,
em rota de amargura...
Parecia que o Sol ia tão alto,
era ridente a vida 
com esperança e ventura...

Quem sou eu, Meu Deus,

para reter
na minha alma esta dor que me prende,
ao recordar com ternura infinita,
a nossa meninice
no  velho Colégio de Esposende.
Bonitos anos da nossa juventude...
Amizade... Trabalho... Esplendor...
Escola de virtude...
E o riso da Fernanda
de graça e de frescor...

Agora que morreu

já nada tem valor!
Recordo-a com saudade,
determinada e firme,
no caminho do Bem...
Menina e moça, noiva, esposa e Mãe...
Amiga, professora,
vejo-a sempre de modo todo igual:
Serena,
confiante,
vertical!  

Meu Deus,

Senhor de todos os critérios,
de todos os pareceres,
Tu sabes,
Tu Podes Ouvir a nossa voz;
Ela foi a boa companheira
que Levaste de nós!
Guarda-a bem, Senhor,
Guarda-a bem bem nos Teus braços
Dá-lhe a Paz do Teu Reino...
Transforma a nossa Dor
e Enche de Esperança a nossa vida...
Um dia,
Quando Vieres Suster os nossos passos,
nós iremos encontrar a Fernanda,
entre os Santos do Céu
entoando um Hino de Alegria!
Assim seja.


Maria Helena Amaro
Igreja de Maximinos, 23/10/1991

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Bruma


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Logo de manhã
ao abrir a janela da alma
sinto a agonia
cobrir-me toda num lençol de bruma...
É como o nevoeiro
na praia de Esposende...
Desce de manso
estende-se no ar
e tudo prende...
Cobre-me toda
os olhos, os ouvidos,
o rosto, os braços, os seios,
os cabelos...
Cobre-me toda e se estou despida
sinto-o na pele viscoso
e aquecido
como sopro de duende.

Maria Helena Amaro
Julho, 1992