Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

sábado, 31 de março de 2012

Mensagem II

(Fotografia de António Sequeira)
Ao veres o entardecer
Olhando a vida que passa
Não queiras entristecer
Põe um vaso na vidraça...

Que os que passam por ti
Acham a vidraça bela
Coração que me sorri
Vaso de luz à janela...

Maria Helena Amaro
Inédito, 16/11/1998

sexta-feira, 30 de março de 2012

Intervalo (Ao Tono)

(Fotografia de António Sequeira)

A vida passa...
Recuso-me a ficar.
Quero ir com ela
e com ela gritar...

A vida canta
recuso-me a calar
quero ir com ela
e com ela cantar...

A vida cria
recuso-me a morrer
quero ir com ela
e com ela viver...

Mas...
Perdidamente presa
fico aqui
porque
ainda
apaixonadamente
vivo em ti.

Maria Helena Amaro 
Inédito, julho 1997

quinta-feira, 29 de março de 2012

Palavras

(Fotografia de António Sequeira)

Palavras
amargas
agudas
cinzentas

Ferem como pedras
e molham de lágrimas
as estradas da alma

Não as quero
Não as aceito
Devolvo ao remetente
Pode ser que façam jeito
a quem cultiva
o desencanto e a dor!

Maria Helena Amaro
Inédito, janeiro, 1996

quarta-feira, 28 de março de 2012

Crianças


(Fotografia de António Sequeira)
Com elas eu renasço
todo o dia,
com elas
no que sonho
no que digo
no que faço…
com elas renasço.
São para mim
a força do meu braço
a cor do meu jardim
o rasto do meu passo…

É delas
Vem delas
e volta para elas…
Tudo o que digo
o que sonho
o que faço
é nelas que eu renasço!

Inédito, Maria Helena Amaro
 Julho 1991

terça-feira, 27 de março de 2012

Mensagem I


(Fotografia de António Sequeira)



Já não interessa, não,
o que faço, o que penso, ou o que digo,
sei apenas que já não estás comigo
E me pesa esta amarga solidão

Tanta coisa gostava de ter dito,
tanta coisa gostava de ter feito,
mas tu voaste logo ao Infinito,
e me deixaste pobre deste jeito…

Em cada canto da casa é o teu rosto,
que vejo desenhado, com doçura,
a olhar-me com laivos de ternura,
a dizer-me: «Não chores, que não gosto.»

Mas eu choro e digo te amo,
que a morte levou-te por engano,
e que vais regressar um destes dias…

Sei que não vens, o que sonho é engano,
sei que estarei sem ti, um mês, um ano…
sem amor, sem flores, sem alegrias!


Inédito, Braga, 28/02/2010
Maria Helena Amaro

segunda-feira, 26 de março de 2012

Dor

(Fotografia de António Sequeira)
Tu não levas a Cruz
nem arrastas a Cruz…
É a Cruz que te leva
e te vai sacrificar
no cimo da montanha
onde se avista a Luz…

É a cruz que te leva
ao sopé da montanha
mesmo que os teus braços
quebrados e inertes
e as tuas pernas
vacilem na subida
é a Cruz que te arrasta
e te conduz à Vida!

Não protestes
deixa-te conduzir…
Depois da escalada
o Sol há-de surgir!


Maria Helena Amaro
Inédito, Quaresma, Março, 2009

domingo, 25 de março de 2012

Quaresma

(Fotografia de António Sequeira)

Não interrogues Deus
não vale a pena…
Dizia minha avó,
que toda a gente,
tem o seu fadário,
amores e desamores,
são pequenas lascas,
do lenho do Calvário.

Não interrogues Deus
não tens razão…
Contava minha avó,
que a mãe,
de sua mãe,
também dissera,
que o mal do Homem
é pensar,
que a vida inteira
há-de ser Primavera.

Não interrogues Deus
que é heresia…
Já minha mãe
dizia,
que toda a gente
tem a sua cruz,
que até Jesus
teve Quaresma,
Páscoa,
Aleluia,
e que depois da noite,
há sempre dia,
e o dia
é madrugada e luz…

Não interrogues Deus.
Deixa que seja Ele,
em horas de agonia,
a explicar
Em Paz e Harmonia,
esses tormentos teus.


Inédito, Abril 2009 – Maria Helena Amaro

sábado, 24 de março de 2012

Em Fevereiro



Em Fevereiro,
As acácias ficavam em flor
E a serra cobria-se com um manto
Em tons de oiro e mel…
As ovelhas saíam para o pasto
suculento e soalheiro,
e o pastor,
sentado debaixo dos salgueiros,
lançava no Ceira
barquinhos de papel…
Sentavam-se os velhinhos,
nos degraus da escada,
à espera do sol…
As avozinhas tricotavam as meias,
com as agulhas dançando em rodopio,
como num carrossel …
Tão feliz era a criança da aldeia,
Em casa dos avós!
Havia um rebanho em cada eido,
uma nora,
um cata-vento,
uma figueira,
uma andorinha arrastar a asa,
um galo cantador,
uma galinha choca poedeira…
uma dona de casa.
A manhã era fresca,
a tarde pardacenta,
e ao serão à lareira esfusiante,
as tias contavam as histórias
do João Soldado,
da Gata Borralheira,
da Ti Maria Benta,
do Hilário estudante…
E, quando ia dormir,
entre os lençóis de linho perfumado,
o sono era um vôo de pardal,
canto de cotovia,
entre sonhos de riso
que o sol ia trazer
do despontar do dia…
Em Fevereiro…
eu voltei ao Passado
Que saudade tão doce!
Que Alegria!

Maria Helena Amaro
Inédito, Janeiro 2011

sexta-feira, 23 de março de 2012

Primavera (A minha mãe)




Era Março. Minha mãe fazia anos
a vinte e um, Dia da Primavera,
tempo de Amor, de Paz e de Quimera
que a vida transformou em desenganos.

Minha Mãe fazia anos! Nesse dia,
era dia de festa em nosso lar,
connosco a natureza a festejar,
tão cheia de surpresas, de alegria!

Eram rosas, beijos e abraços,
para aquela que guiou os nossos passos,
Mãe/coragem, Mãe/trabalho, Mãe verdade….

Tão depressa passou a nossa vida!
Tão depressa surgiu a despedida!
Ficou connosco um lago de saudade.



Inédito, Maria Helena Amaro
Braga, Março, 2011.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Primavera (II)





A Primavera chegou ao meu jardim,
Anda louca de amor a passarada.
É feita de canções a madrugada
e cheira a rosas, a mel e a jasmim.

Abro a janela e é tudo um festim;
asas negras saltam em revoada,
vêm bater na janela envidraçada,
à procura de ti à procura de mim.

Digo-lhe que não estás, que foste embora
e que por ti a minha alma chora
e não gosto de ouvir o seu cantar…

Fecho a janela. Deito a alegria fora.
A saudade regressa sem demora.
E fico só. Só a recordar…


Inédito- Maria Helena Amaro
BRAGA - março, 2012








quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia do Pai (III)




(Fotografia de António Sequeira)

Há um ano a festa foi só tua
e a nossa mesa encheu-se de presentes…
Recorda, meu Amor! Ainda sentes
a alegria que ia nesta rua?

Eram os filhos, os netos, as canções,
os beijinhos, os olás e os abraços,
o calor amigo desses braços
e o teu sorriso tão cheio de ilusões!

Este ano não há festa nem ofertas,
só orações e lágrimas estão certas
e um abraço que toca a eternidade…

Foste um pai de portas sempre abertas,
em atitudes e posições correctas,
sem ti a vida será uma saudade!


Inédito – Maria Helena Amaro
Braga, 19/03/2010



Nota: Com o objetivo de promover a riqueza e a diversidade linguística, a UNESCO decidiu, em 1999, proclamar o dia 21 de março Dia Mundial da Poesia.

terça-feira, 20 de março de 2012

Dia do Pai (II)

(Fotografia de António Sequeira)


Um pouco de Saudade… e foste uma ilusão.
Um pouco mais de Amor…e foste enamorado.
Um pouco mais de fogo…e foste uma paixão.
Um pouco mais de vida… e foste Pai amado.

Um pouco mais de Luz... e nunca estarás só.
Um pouco mais de idade… e és Sabedoria.
Um pouco mais de Sonho… e tu serás Avô.
Um pouco mais de festa… e serás Alegria.

Um pouco mais de tudo, aqui, a vida inteira,
Tu ficarás connosco na Sonho e na Razão.
Como na luz do sol, a sombra permanece.

Tu ficarás connosco como na vez primeira.
Nem tristeza, nem Dor, nem Frio ou Solidão.
Um Pai nunca se vai, um Pai nunca se esquece!


Inédito – Maria Helena Amaro

19/03/2010.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Dia do Pai


                                                                                                  (Fotografia de António Sequeira)

Se regresso ao passado
tempo de riso
de alegria
de glória
é a ti que regresso
e conto a tua história:

- Era uma vez um Pai
que do «nada» cresceu
se fez «rei» e «senhor»
que à família deu o seu melhor
em Amor
Presença
Educação
Lição de vida
a cumprir com rigor
a Palavra
a Promessa
o Labor…

Era uma vez um Pai
que não ralhava
não batia
mas falava
e o que ele dizia
e o ele que exigia
não pesava…
Tão belo se sorria!

Era uma vez um Pai
que um dia foi embora
que um dia disse adeus
e nunca mais voltou…
Não foi embora
não.
Permanece de rosto prazenteiro
silencioso e vivo
no dia
no mês
no ano inteiro
imagem certa de Paz e de Perdão
neste meu cansado coração…
E porque muito amou
a ele devo
tudo aquilo que sou
e o que escrevo.
Era uma vez…
A história acabou.
Maria Helena Amaro, (inédito), 19 de Março 2009

domingo, 18 de março de 2012

Certeza (II)



…E entre a Terra e o Céu
Existes tu.
Com este crer
Esta amargura
Este penar…
Com esta forma de receber e dar
N’ Alegria ou na Dor
Em mim
Mendiga duma entrega absoluta
Somente existes tu
Ó meu Amor!
Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973

sábado, 17 de março de 2012

A Ponte



Deus colocou
Uma ponte de fogo
Entre mim e ti…
Na corda bamba que suporta a ponte
Sinto-me só
De mãos unidas
A ver morrer o mar…

O nosso filho
Olha para nós com olhos de luar…
A ponte quebra…
O fogo morre na água que se esvai.
E eu
Fico de alma fechada
A dar aos outros sonhos que são meus…

Deixa passar o mar…
Eu creio em Deus!


Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973

sexta-feira, 16 de março de 2012

Poema (II)



O meu filho chegou
Faço dos braços berço
E vou embalando a alma
Em quimeras de luz…

Olho-o e não sei
Não sou capaz, Senhor
De o sentir bem meu…
Ele traz nos olhos
Rasgados como o mar
Um pedaço de céu…

O meu filho chegou.
Deixai-mo entre beijos embalar…
Ela há de ser poeta
Ele tem de sonhar
E acreditar
No dia da amanhã que vai chegar
Deixai-o sorrir
De duro
Bastam as horas más
Que a vida lhe há de dar!...


Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973

quinta-feira, 15 de março de 2012

Oração (III)



Meu filho
Tão pequeno, tão puro, tão divino…
Olho para ti
Com os olhos suspensos do meu sonho
E murmuro baixinho:

Meu Deus
Deixai-o ser
Assim humano e puro
Toda a vida
Na alma
Pequenino…





Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Reflexão (II)


Perdoa se fui má
Mas os sonhos mais belos que sonhei
Aos poucos vou perdendo
Hoje um outro amanhã em fuga louca
A minha alma é toda chaga aberta
E esta boca
Que Deus traçou em jeito de beijar
Contrai-se às vezes num rictus de tristeza
E põe-se a murmurar canções de dor…

Bateste à porta e eu abri…
E nunca mais fui só…
Mas custa tanto Amor
Sentir a Vida toda a saber a pó
E ter de caminhar
A rir e a cantar
Como se a jornada fosse breve
E as estrelas nunca se apagassem
Na rota que seguimos…
- Ó meu Amor e a dor que sentimos?

Perdoa se fui má
Dá-me a tua mão anda daí
Não me deixes morrer na tempestade…
Não quero ser peregrina
De caminhos perdidos…
Perdoa se fui má…
E dá-me a tua mão
Vamos viver felizes e unidos?



Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973

 

terça-feira, 13 de março de 2012

Fantasmas


Vieram de longe estes fantasmas
Pagos pelo diabo
Para me torturar…

Fico presa
De pés e mãos mergulhada na dor
Há uma sombra branca
Etérea, transparente
Postada em desafio
Entre mim e ti, ó meu Amor!

Deixa-a passar
Confio tanto na alva madrugada
Que vou sorrindo aos fantasmas que chegam

Pagos pelo diabo
Para me torturar…



Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973

segunda-feira, 12 de março de 2012

A vida



A vida…
A vida é o teu riso
A espelhar-se todo
No azulado dos meus olhos rasgados
Que espreitam ansiosos
Das janelas da noite
Uma nesga de sol…

Não me venham perguntar o que é a Vida!
Quando os teus olhos
A traquinar inquietos
Vão de encontro aos meus
Não sei o que compôr…

 ………………………………………………………………


A vida, meu Amor,
Será as nossas mãos feitas Destino…
Será o nosso sonho feito Carne…
Será o nosso ser feito Certeza…
Eu… tu… e Deus ao nosso lado…
Presente sem futuro e sem passado…
E mais que tudo mais, ó Meu Amor,

Infinito…  Ventura… Riso… Dor…



Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973
.

domingo, 11 de março de 2012

Encontro


Porque vieste de longe a procurar-me
Atravessando a terra, o mar, o céu
E rogaste às estrelas que escrevessem
O meu nome na Noite
E beijaste as pedras do caminho
Onde hei de passar
E guardaste para mim no coração
Flores brancas da tua Primavera
Douradas pelo Sol dum puro Estio
Envoltos em luar…

Porque em sonhos me fizeste rainha
De mil riquezas que nunca possuí
E ao Senhor pediste
Que menina fosse toda a Vida
Menina de vitrais
De mãos unidas a acenar às tuas
De pés firmes na terra
E de alma suspensa lá do Céu
Onde moram pardais…
E transparecem luas…

Porque trouxeste nas tuas gargalhadas
Sorrisos de crianças
Perfume de flores
Tardes de Sol e auroras de Sonho
E prometes ir comigo de mão dada
A palmilhar a Vida lés a lés
No Tédio, na Dor, na Alegria
A construir Ventura…

Porque trouxeste a Luz à minha vida
E uniste num olhar a tua alma
À minha alma sequiosa de Amor

Porque vieste buscar-me
Irei contigo
E até Deus serás o meu Senhor!

Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973.


sábado, 10 de março de 2012

Apelo I


Vem Meu Amor
Antes que venha a Noite
E de sombras se cubra a minha vida
Como de escuro se veste a Natureza
Quando o Inverno chega…

Vem Meu Amor
Antes que o Sol se esconda
E de negro se vistam os caminhos
Como de luto se cobre o roseiral
Quando o Outono chega…

Vem Meu Amor
As minhas mãos erguidas sobre o peito
Círios parecem a tremular ao vento
A iluminar de azul esse caminho
Por onde hás de passar…

Vem Meu Amor
Para que tu viesses
Pedi a Deus que florissem campos
E dourassem giestas
E salpicassem de oiro diamantino
Os espaços sem luz…


Para que tu viesses
Ergui-me cedo ao despontar da Vida
E aqui estarei a rogar-te que venhas
A vida inteira
E se esta para tal for limitada
Depois da Morte
Lá no Eterno
Hei de ainda esperar
A tua vinda alada!


Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973.



sexta-feira, 9 de março de 2012

Esperança (II)


Quando tu vieres
Sereno e triste
A mendigar carinho…
Até o Sol de fogo há de dourar
As pedras do caminho!
Hei de lavar a calçada da rua
Com essência de rosas
E soltarei ao vento da Ilusão
As minhas mariposas
E hei de pôr estrelas
Nas mãos, nos pés, nos olhos…
De braços estendidos para o Sol
Hei de dourar abrolhos…

Quando tu vieres
Sereno e triste
A mendigar carinho…
Até a lama que cobre a minha rua
Será da cor do arminho!

Para ti
Que amas tanto a vida
O Sol, o Fogo…
Num ramo de junquilhos
Eu hei de concentrar
Todo o oiro crescido nos jardins
Toda a espuma do mar…
 ………………………………………………………………………………

Quando tu vieres
Sereno e triste
A mendigar carinho
Eu estarei
À tua espera
Na curva do caminho!  

Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973.




quinta-feira, 8 de março de 2012

Dor (II)



Não sei por onde vou
De mãos suplicantes
A exigir um sonho que não tenho.
Não sei por onde vou; não sei de onde venho.
Alma descalça de farrapos vestida
Sinto-me morta
- E tanto busco a vida! –

Pergunto a Deus
A sós, angustiada,
A razão desta dor feita braseiro
E aos meus apelos rubros
Ninguém responde nada…
Depois
Lá vou de farrapos vestida
Sentindo a alma morta…

- E tanto busco a Vida!...

Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973

quarta-feira, 7 de março de 2012

Tarde


De mãos vazias, Senhor, estou aqui
E não sei aonde ir…
Vêm de longe o eco dos meus sonhos
Sonhos mortos de Dor
E não sei aonde ir…
Cobardes somos, Senhor,
Porque pensamos
Nas horas mais ditosas
Que a Dor é leve e podemos vivê-la…
Mas se ela vem, Senhor,
Vêm de longe o eco doutros sonhos
Sonhos mortos de Dor
E somos uns mendigos
Vestidos de amargura ao recebê-los…

Aqui estou, Senhor, de mãos vazias
E não sei aonde ir…
E recuso ficar…
Quem me dera partir e não voltar!



Maria Helena Amaro

In, «Maria Mãe», 1973.

terça-feira, 6 de março de 2012

Poema de Matinas


Vens ter comigo
Na Esperança de cada alvorecer
E ficas comigo todo o dia
No deslizar das horas que não voltam
Na saudade dos dias que se foram
Nas ilusões do tempo que hão de vir…

Vens ter comigo
E bates docemente à minha porta
A mendigar um sonho que não tenho…
Amor, que te hei de dar?
Trago dentro da alma
Madrugadas que não chegaram a nascer
Clareiras brancas
Que tens de povoar a vida toda…
Certezas mentirosas
Que tens de ajudar a transformar

Em verdades de Fé…

Mensagens de ternura
Infindas como o céu
Profundas como o mar…
Há cidades de luz dentro de mim…
- Quem as vai conquistar? –

Vens ter comigo
Na Esperança de cada alvorecer
E as minhas mãos vazias
- Vazias talvez de tanto dar –
São pombas mortas
Caídas no caminho
Onde tens de passar…


 Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973

segunda-feira, 5 de março de 2012

Intervalo


Ontem
Pensava
Que a amizade era feita de rosas…
Hoje
Que floriu no meu jardim
A mais bela de todas as flores
Fico a pensar
Que a amizade
Somos nós próprios
Refletidos nas almas sem Amor
Dos que cruzam connosco na estrada…


Ontem
Acreditava
Que havia ruas na vida sem Auroras…
Hoje
Que descobri no Céu a minha estrela
Fico a pensar
Que a vida
Somos nós próprios
Projetadas nas sombras sem esboço
Dos que passam perdidos…
Ontem…
E chamaram estrelas a astros apagados!
E ouviram ralhos de bocas de crianças!
E deram poeira a quem pedia oiro!
E atiraram lama a quem amava a neve!
… … … … … … … … ... … … … … … … … … …
… … … … … … … … ... … … … … … … … … …
Depois…
Floriram rosas de calhaus!

Hoje…
Vida!
Amizade!
Plenitude!

E esta Certeza
Estonteante como um milagre!
Vermelha como o sangue!
Ardente como chumbo derretido!
Serena como um riso de menino!
De caminhar
Debaixo do Sol
Direita ao Infinito!

Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973

domingo, 4 de março de 2012

Expectativa



Rezam comigo as horas do Sol-Por
E comigo ficam noite fora…
Chama-me feia a lua
E as estrelas
Dizem baixinho o meu nome ao luar…
- Quem o vai escutar ? -

Caminho só no espaço sem luz
À espera de quem nunca há de vir…
Hei de morrer assim
À espera de quem
Em minha busca se perdeu na estrada
Onde não há Além!...

… … … … … … … … … … … … … … … … … …

Se encontrares Alguém
Sem pão, sem lar, sem guia
Diz-lhe que rezo por ele o dia inteiro
Que ergui um trono ao Sol para lhe dar
Que estendo as mãos
A perguntar a todos
Se o viram passar…

Tal como a terra também deseja a Paz
Quando se fina o dia
Também eu rogo aos Céus
Em prece ardente
A sua companhia!



Maria Helena Amaro

In, «Maria Mãe», 1973.

sábado, 3 de março de 2012

Sonho



Mais alto que as estrelas
Havia erguido
O meu sonho de Amor
Mais alto que as estrelas
Onde ninguém jamais
O pudesse encontrar…

Somente tu
Com as mãos de neve e olhos de luar
Poderias subir a esse sonho
Comigo de mãos dadas…
Mais salto que as estrelas
Havia erguido
O meu sonho de Amor…
Nesse lugar bendito
Nessa vereda branca
Sem poeiras de estrada
À porta do Infinito…


Vieste tu
De mãos de neve e olhos de luar
E se vieste
- Bendito seja o dia que te trouxe! –
Descer-me toda
Desse lugar sagrado
Onde havia erguido
O meu sonho de Amor
Porque hei de agora
Tecer o riso de Dor?



Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973.


sexta-feira, 2 de março de 2012

Lenda


Ao Fernando Mota Soares

Era…
Um pálido guerreiro
De armadura branca
Lutando com a Noite
À luz do entardecer…

Era…
Algum monge-poeta
No silêncio da cela
Compondo tristes versos
Em horas de lazer…

……………………………………………………………………..

Era…
Algum judeu errante
Intitulado rei
De alvas cidadelas
Erguidas sobre o mar…
 
Era…
Um mendigo sem nome
Um alforge dourado
Que cantava às crianças
Histórias de encantar…

Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973

quinta-feira, 1 de março de 2012

Meditando



Á Olga

Amigos
São os que vão connosco de mãos dadas,
Murmurando poemas,
Quando a Esperança morre
Muito dentro de nós…
E nos falam de pássaros azuis,
De risos matutinos
De Primaveras de Sol,
Nas horas sombreadas
De tormentos peregrinos…

Falam-nos sérios de manhãs de risos,
Com olhos de crianças,
E acreditam
No gosto acre das nossas gargalhadas
E no toque singelo
Do repicar dos sinos
Que são as nossas almas
Em tarde de ventura,
Quando ouvem perdidos na penumbra
Cantigas de meninos…

Oferecem-nos as mãos duas, calosas,
Vestidas de bondade
Nas estradas sem fim
De lendários desertos,
Onde ninguém cultiva
O perfume das rosas
Nos prados de Amizade…

………………………………………………………………………………………

E são capazes de cantar connosco
Para além da distância,
Como que se vivessem
A certeza serena
Dum encontro melhor!...

Amigos,
Correi a procurá-los!
E se os encontrardes,
Escondei-os bem,
Muito dentro de vós,
Onde há céus estrelados
E caminhos de esperança
E onde chegam lentas,
Brancas e ressonantes
As vozes do Além
Como se fossem gritos de crianças!

Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973