Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Avô Sequeira (1931-2010)


(Fotografia de António Sequeira)

Meu Amor, nasceu a Beatriz,
réstia de sol ou raio de luar,
anjo do céu que à terra quis chegar
mensagem terna, sublime, feliz.


Nasceu, por fim, a tua querida neta,
que tanto ansiavas conhecer…
Pudesses tu no colo a receber,
cantar para ela a canção predileta.

Nesse Universo onde te deténs,
recebe, Amor, os nossos parabéns,
pois mais um anjo por ti irá rezar.


Hei de, um dia, contar-lhe a tua vida,
falar do Amor que tinhas sem medida,
para que ela também te possa amar…


Maria Helena Amaro
Inédito, Braga, 12/05/2010

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Manuel e Piedade



















(Ilustração de Maria Helena Amaro)




Manuel (1911-1982) e Piedade (1910-1990)

Minha mãe era a Primavera irreverente,
buliçosa, promissora, esfusiante,
tinha nos olhos um clarão ardente
e na boca um riso cativante.

Meu pai era um Outono sossegado,
o doce por do sol ao fim do dia…
Um sorriso sereno, demorado,
em busca de paz e de harmonia.

Minha mãe era a palavra e dizer:
-“Isto sim…isto não… O que há-de ser?
Porque sim… porque não… e porque é…»


E o meu pai tão calmo e paciente:
«Deixa lá isso… Isso não é urgente…
Eu venho já… vou tomar um café.»

Inédito
Braga, Dia dos Avós, 26/07/2009
Maria Helena Amaro

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Avó Ana (1874-1946)


(Fotografia de António Sequeira) 
Avó Ana sentava-se à lareira,
a atear com jeito o seu brasido,
soltava um ai, um suspiro, um gemido,
como se fosse triste carpideira.

Feliz, não era, não, a triste avó.
Viúva cedo no florir da vida,
criara um filho com dor e muita lida,
a cultivar as terras sempre só.

Contava-nos histórias de pasmar:
fantasmas, lobishomens, feiticeiras,
faunos e bruxas a dançar nas fogueiras,
modas do demo, debaixo do luar…

Nossas maleitas sabia bem curar:
chás e tisanas e defumadoiros,
rezas, evocações, a murmurar
como se fosse a fada dos tesoiros!

Ficou-me na lembrança essa senhora,
que falava e dizia a toda a hora,
frases curtas, ordenadas, secas.

Avó Ana dos meus tempos de criança,
que me ensinava, em horas de bonança,
a construir à mão lindas bonecas!

Maria Helena Amaro
Inédito – 26/07/2009

domingo, 28 de outubro de 2012

Dia dos Avós (Avô Correia)















         
(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Avô Correia - 1878-1918


Na casa da Avó Ana, no salão,
havia um retrato emoldurado,
do Avô Correia, de olhar enamorado,
porte garboso, bigode rufião.

Cantador de fados, de cantigas,
poeta, trovador, republicano,
em Lisboa perdido todo o ano,
enfeitiçava de amor as raparigas.

Viva a Maçonaria! – ele gritava -
na vontade de criar a nova lei,
contra Deus, contra os ricos, contra o Rei,
a favor da liberdade que ansiava.

De nada lhe valeu tanta heresia,
tanto furor, tanto caminho torto.
A pneumónica fez dele um homem morto,
na idade do vigor e da alegria.


Avó Ana foi a sua companheira,
que por ele sofreu a vida inteira,
numa história de dor, forte e serena.


Em criança, eu tinha tantos medos
ao olhar o quadro… Que segredos?!
Não conheci o Avô… e sinto pena.



Inédito – Maria Helena Amaro
Foz de Arouce, Lousã, 2011.

sábado, 27 de outubro de 2012

Dia do Pai (1996)


(Fotografia de António Sequeira)
Pai,
Quando chegas cansado,
é difícil dizer
uma frase bonita
que te faça sorrir…

Fico muito calado
mas, é só a fingir,
porque acho que a vida é quase tudo
e eu gosto de viver
a rir, à gargalhada.

Quando eras assim,
criança como eu,
então o que fazias?
Gritavas? Cantavas?
Gostavas de estudar?
Também corrias?

Perdoa pai
as minhas traquinices!
Logo, à noitinha
quando chegares a casa,
mesmo que venhas morto de cansaço,
eu vou gritar
com todo o meu amor:
- Ó meu grande papá,
dá-me cá um abraço!


Maria Helena Amaro
Inédito, março, 1996

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Maruja

















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Lavei no mar o meu batel de sonho,
com remos de oiro e velas de luar,
mas o vento da vida foi medonho
e tantas vezes eu o vi naufragar.

Das sereias ouvi o seu cantar
queimei o rosto à luz seca do sol
nas noites quentes deixei-me mergulhar
nas ondas frias à sombra do farol

Já não sou mais a que amava o mar
a que lançava nas ondas alterosas
o seu batel de velas de luar

Morreram as sereias de encantar
já não me enjeito com algas cetinosas
Pego a maré e deixo-me enrolar.


Maria Helena Amaro
Inédito, fevereiro de 2009


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Natal 2008 (Tó)



(Fotografia de António Sequeira)



Não se perca o Natal no tempo
porque o que é bom não se esquece mais
fica connosco, no nosso pensamento,
a alegria de tantos Natais!

Mas, o Natal que temos na lembrança
é o Natal dos tempos de Criança!

Maria Helena Amaro
Inédito, dezembro de 2008.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Natal 2008



















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Este ano
vou enfeitar a minha árvore de Natal
com pérolas de lágrimas
e fios de cabelo prateados...
Vou pendurar
mesmo à entrada da sala
o cartão das minhas ilusões
e uma prenda de desencanto e dor...

Este ano
o meu Natal sem Presépio de Luz
vai ser o Natal mais demorado...
E eu irei de alma descalça noite fora
à procura dos Anjos
dos Reis Magos
dos pastores
a perguntar aos homens sem abrigo
se foi verdade ter nascido Jesus...

Porque
todos os anos
voltamos repetidamente
ao longínquo Natal
da nossa infância...
Porque
todos os anos
nos enchemos de luzes
de fantasias e sons
evocando insistentemente
um milagre de Esperança...

Porque
atulhados de barulho
e de presentes
perdemo-nos nas ruas da cidade
à procura da prenda mais bonita
mais espectacular...
Os mais humildes e carenciados
olham-nos de lado
a invejar as nossas alegrias...

Este ano
irei na noite de alma descalça pela rua
a clamar a todos
que será urgente e necessário
celebrar na Partilha e na Fé
no Amor e na Paz
o Verdadeiro Natal
todos os dias!

Maria Helena Amaro
Braga
1º Prémio - Jogos Florais da Casa do Professor - 2008.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Natal - Lola (2008)

(Fotografia de António Sequeira)


Vem o Natal
com risos
alegrias
amizades...

Ficam connosco
outros natais...
Tantas saudades!

Maria Helena Amaro
Inédito, dezembro 2008.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Natal, 2008 (Pedro Miguel)



















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Natal é isto:

Um pouco de riso...
Um pouco de alegria...
Um pouco de saudade...
Um monte de canções...
Se o Menino Jesus
nasceu em harmonia
nos nossos corações
em Fé
e em Verdade!

Maria Helena Amaro
Inédito, dezembro, 2008

domingo, 21 de outubro de 2012

Vida V

(Fotografia de António Sequeira)

Pés assentes na terra
e coração
na mão
fui sempre pela vida fora
em busca do saber
e do irmão...

Irmãos eu encontrei
no meu caminho
e de mão dada
construi poemas
e com eles atravessei
a dor
o maldizer
a tempestade
as penas.
Pés assentes na terra
e coração
na mão
ainda vou
em busca da harmonia
e da Verdade...

Mas
que encontro eu?

Perderam-se os irmãos
morreram os poemas
e
agora
na minha soledade
apenas ouço
o apelo do Céu!

Maria Helena Amaro
novembro, 2008 

sábado, 20 de outubro de 2012

Aposentação




(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Autocarro acima,
autocarro abaixo,
lá ia eu de sacola no braço
atravessar
toda a cidade
sem chegar
a Gualtar...

Era assim
isto
todo o dia...
Escolinha à espera
Todo o inverno
outono
primavera
No verão
era o lazer a lassidão... 
Era a vida perene
de trabalho
de canseiras
de arrelias
de lições...
Os meninos à espera
pr'a me darem
consumições
cuidados
alegrias...

Regressava a casa
cansada mas feliz
que a Escola era a casa bela
onde abria uma porta
e uma janela
para a vida futura...
Tempo de rosas
de risos
de Ventura

Hoje
ao recordar
ao reparar
no autocarro que passa rastejante
fico a pensar
que o melhor da vida
é trabalhar
mesmo que o trabalho
seja duro
cansativo
extenuante...

Autocarro
que levas meninos de Escola
vens dizer-me
que não podes levar-me
a atravessar
a velhinha cidade
sem chegar
a Gualtar...

Neste meu tempo
de repouso e calma
dói-me a vida!
dói-me o corpo!
dói-me a alma!

Maria Helena Amaro
Inédito, novembro, 2008

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Saudade (escola)


(Fotografia de António Sequeira)


Noutro tempo, noutra era
eu também fui professora.
Acolhi a toda a hora
nos meus braços, primavera.

Em cada dia um sorriso
uma cara prazenteira
uma conversa brejeira
sem castigo ou prejuízo.

No percurso de canseiras
uma aula, uma cantiga,
um gesto de mão amiga
entre crianças fagueiras.

Foi o tempo tão veloz...
-Nem sequer o vi passar.
Tanto ano a trabalhar
com alma, ternura e voz!

Ficou-me a alma dorida,
morreram os sonhos meus.
Até logo! Disse adeus
ao melhor da minha vida.

Recordo com afeição
esses tempos que passaram
e os rostos que me amaram
enchem minha solidão.

Maria Helena Amaro
Inédito, novembro 2008. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Momentos I















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Hoje,
na Assembleia da República,
os partidos políticos
vão discutir
por qualquer motivo,
mas, nenhum deles
será o que escrevemos
sobre a Reforma do Sistema Educativo...
Hoje,
todos os sindicatos
vão mostrar ao governo
os sinais mais e menos,
mas nenhum deles
vai dizer aquilo que escolhemos...
Hoje,
a Rádio e Têvê
talvez deem ao Ensino
no noticiário,
um tempo todo inteiro,
mas, nenhum locutor
irá explicar
que ser Primário
é estar primeiro...
Hoje,
o Sr. Ministro da Cultura
vai estar muito ocupado
entre contas e bens...
E nem sequer nos vai mandar
os parabéns...
Hoje,
os grandes pedagogos
vão dizer
que as crianças são inteligentes
e se não são melhores,
é porque nós não somos excelentes...
Hoje,
o nosso aluno precisado
do ensino especial,
vai fazer-nos sofrer
e nós vamos cansar... Cansar... 
E só Deus irá saber...
Hoje,
2 de fevereiro
talvez a data nem venha nos jornais,
entre anúncios, entrevistas, coisas tais
e o Professor
não passe de um vulto passageiro...
Por isso,
em nome da Criança e do Amor,
deixa-me colocar,
hoje,
na tua secretaria,
apenas uma flor.

Maria Helena Amaro (professora)
Inédito, Braga, 2 de fevereiro de 1988.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Esposende IV

(Fotografia de António Sequeira)


Princesa encantada
de face trigueira
no rio lavada
filha de sereia

De algas vestida
de vento embalada
na tarde aquecida
na noite encantada.

Lá vai de chinelos
Lá vai de traineira
de roupa às janelas
mirar a ribeira

Anos se passaram
e ela cresceu
nuvens a levaram
tão perto do céu

O mar é senhor
dos sonhos que tem
A onda é pendor
O rio o seu bem.

Ninguém a requer
Ninguém a entende
Sua graça é mulher
Seu nome Esposende.

Maria Helena Amaro
Inédito, novembro, 2008

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Avô Amaro




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Avô Amaro
(1877-1955)

Sentava-se o avô no cantinho da sala,
a sós, silencioso, a meditar,
as mãos esguias pousadas na bengala,
o rosto sério e perdido o olhar…

Que pensava o avô, que sonhava afinal,
naqueles fins de tarde de soturno novembro?
Eu ia ter com ele e lia-lhe o jornal,
e ele me escutava feliz, de riso terno…

De quando em vez uma gota ligeira
Deslizava serena no seu gosto sardento:
«Que saudades que tenho da minha companheira!
Que saudades sem fim, eu tenho de outro tempo!»

Eu ouvia o avô e o avô sorria
sentado calmamente no cantinho da sala,
escutava o que eu lia e tudo comentava.

O avô foi embora numa tarde tão fria;
Deixou a recordá-lo a velhinha bengala
a cadeira vazia onde ele se sentava.
Maria Helena Amaro
Dia dos Avós outubro, 2008
Publicado no jornal “Diário do Minho” em julho de 2009



Nota: O Dia dos Avós festeja-se no dia 26 de julho

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dia dos Avós I


(Fotografia de António Sequeira)

Avó Helena
(1877-1944)

A Avó Helena era bela como o Sol.
Olhos gaiatos… pele aveludada
Blusa aos folhos e saia rodada…
Sorriso terno e voz de rouxinol.

Ainda a vejo na varanda recostada
A descascar maças «D. Joaquina».
Lenço nos ombros… figura pequenina…
Sempre ansiosa com a nossa chegada.

E ao chegar eram risos e abraços,
o atar nós e o desatar laços
que Esposende chamava-se lonjura…

Avó Helena fora mãe de nove filhos,
e os netos eram logo os seus atilhos
que a prendiam à Vida com ternura.




Maria Helena Amaro
Dia dos Avós outubro, 2008
Publicado no jornal “Diário do Minho” em julho de 2009


Nota: O Dia dos Avós festeja-se no dia 26 de julho

domingo, 14 de outubro de 2012

Dia de Anos - Pedro António (2008)



















(Ilustração de Maria Helena Amaro)



O meu neto Pedro António
tão maroto, digo eu...
Umas vezes é demónio,
outras um anjo do céu...

Menino, tenha maneiras!
Não faça tantas perrices!
Não diga tantas asneiras!
Não faça dessas tolices!

Sete anos já são juízo
p'ra quem é inteligente,
Portar-se bem é preciso
no meio de tanta gente.

Nesta hora de alegria
de sete anos de idade
vai a festa deste dia
e toda a nossa amizade

Parabéns e feliz ano
muito amor e muita paz
na companhia do mano,
do Tó, Avós e papás!

Maria Helena Amaro
Inédito, outubro, 2008 

sábado, 13 de outubro de 2012

Recordação


(Fotografia de António Sequeira)

Estendi-me na areia
a ver o mar
saltitar
a meus pés
que perguntava: quem és? quem és?
e eu respondia
de forma tão brejeira:

Sou marina
filha de gaivota
de sargaço
de limo
de alga marinheira...
Nasci no mar
na boca da traineira
e no mar
lancei a minha frota...

Estendi-me na areia
ninguém veio buscar-me
e fiquei morta!

Maria Helena Amaro
Inédito, 2008 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Pintura
















(Fotografia de António Sequeira)



Rosto apagado
olhar de vidro
porte aprumado
riso sumido...
Porta fechada
fecho corrido
vela apagada
tempo dorido...
Palavras/meias
ideias mortas
água nas veias
em frases tortas...
Não sabes rir
és toda «não»...
O teu porvir
guardas na mão...
Quem te conhece
não sabe nada...
Sobre ti tece
vida apagada...
Mas tu lá vais
velha, sozinha...
Tropeças, cais...
Que dor a minha!

Maria Helena Amaro
Inédito, novembro 2008

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Dor/recordação

(Ilustração de Maria Helena Amaro)


É uma história que não quero contar
que não quero dizer ou comentar,
porque a noite se fez
na minha vida...
Era uma noite de Verão serena e quente
que falava de estrelas e luar...
Menina eu era
confiante nas estrelas
com a alma cheia tão vizinha do céu...
Se fosse cega
não teria visto...
se fosse muda não teria chamado...
se fosse surda não teria ouvido...

É uma história que não quero contar,
imagem negra que quero apagar
e não consigo porque tem vida e cor...

Onde ia eu para morrer assim?
Alguém invadia o meu jardim
e arrancava de mim uma flor!

Maria Helena Amaro
Inédito, novembro de 2008.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Liberdade















(Fotografia de António Sequeira)

É bem fácil ser livre
mas custa tanto a libertação
romper cadeias
soltar as velas
bater nas rochas a nossa embarcação
Hei de ser livre custe o que custar
para viver a minha própria vida
Não vou viver assim
a protestar
uma causa perdida...
Hei de crescer
mas terei que matar
dentro de mim o pouco que ainda resta
da menina que sou.
Hei de ter coragem
para dizer quando não tens razão
Por aí contigo é que não vou
Prefiro ir sozinha
mas, contigo, desta maneira
Não!

Maria Helena Amaro
Inédito, setembro de 1981. 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Solidão V


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Tão longe da vida estou
tanta riqueza desdenho
que nem parece que sou
a mãe dos filhos que tenho.

O sonho porque lutei
aos poucos tudo perdi.
E agora que me encontrei
regresso donde fugi.

Sou uma ilha deserta
cercada de verdes águas
de aves famintas coberta
que se alimentam de mágoas

Lancem boias façam pontes
Venham tirar-me daqui
Transformem águas em montes
com flores que nunca vi.

Pior que a ilha deserta
é este meu coração
Noite e dia a porta aberta
e sempre a mesma solidão.

Maria Helena Amaro
Lousã, setembro de 1981. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Recado V















(Fotografia de António Sequeira)

Que me farias tu se te dissesse «Não»,
não mais mandas em mim,
senhora sou...
Que me farias tu se te dissesse,
és um covarde,
contigo é que não vou!
Que me farias tu se te dissesse
que sonhas ser herói
e és falhado!
Que te julgas senhor condecorado
o rei de toda a vida
e és negado...
Que me farias tu, se te dissesse
que és ribeiro que não conduz a rio
e que és rio que não conduz ao mar,
que és um marco que já foi sinal
e que agora
prostrado na estrada
em gesto principal
és uma ajuda que não conduz a nada!

Maria Helena Amaro
Inédito, setembro 1982