Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

domingo, 28 de junho de 2015

Prece


(Fotografia de António Sequeira)

Senhor! A minha vida é amargura
É um abismo onde me vou perder
Eu que busquei viver só na altura
onde tu reinas com Divino Poder...

Senhor! Encontrarei ventura
nos caminhos da vida a percorrer?
Se digo "sim" logo a desventura
vem dizer "não" ao meu alvorecer...

Eu sofro Senhor! Mas porventura
um "sim" de vida é para ti um "não"
Um "não" de vida é para ti um "sim"!

Eu quero Luz, Senhor! Quero ternura
quero merecer do Céu o seu perdão
Quero encontrar-te aqui dentro de mim!

Maria Helena Amaro
24/12/1956

sábado, 27 de junho de 2015

Moça do campo


(Fotografia de António Sequeira)

Na eira branca entre espigas douradas
tu sorrias, cantavas como louca...
Era uma rosa vermelha a tua boca
nas tuas faces morenas e rosadas...

E à noitinha nas grandes desfolhadas
Àquela hora em que a luz é pouca
entre montes de oiro e palha oca
tu soltavas alegres gargalhadas...

Moça do campo! Trocara eu contigo
o meu trono de princesa encantada
o meu reino de dor e de quimera...

Por tudo o que é teu pelo teu lar amigo
Pela tua vida entre a palha dourada
Pela tua alegria, o sol da primavera!

Maria Helena Amaro
1956  

quarta-feira, 24 de junho de 2015

A Lenda do Cisne


(Fotografia de António Sequeira)

O cisne era branco, muito branco
e vogava nas águas...
No céu azul havia oiro e rendas lindas
Nuvens de cores infindas
cinzentos, aniladas...

O cisne era branco, muito branco
com olhos cor de céu...
E da neve branca majestosa
Deus havia tecido
a penugem sedosa...

O cisne era branco, muito branco
e vogava nas águas...
Nas águas prateadas lá do lago
perto do paraíso
das coisas encantadas...

O cisne era branco, muito branco
e vogava nas águas...
Diz a lenda antiga lá da aldeia
que o cisne cantava
sozinho suas mágoas...

O cisne era branco, muito branco
de olhos cor do céu...
Mas veio a noite e o cisne calou
a sua meiga voz...
A lenda do cisne já morreu!
... E dela que sei eu?
... ... ... ... ... ... ... ... 
O cisne era branco, muito branco
e vogava nas águas...
De olhos cor do céu!


Maria Helena Amaro
13/11/1956 

domingo, 14 de junho de 2015

Fantasmas


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Descera a noite. No pinheiral distante
ralos cantavam, uma canção de amor
e a lua além sorrindo esfuziante
tinha vestidos de prata e de calor...

Desabrochavam à beira do caminho
hortênsias brancas, azuis, de mil cores...
Havia um concerto d'amor em cada ninho...
Nos meus jardins casavam-se as flores!

Noite de sonho, cálida, inebriante
com mil perfumes de mulher formosa
que é a terra numa noite de estio.

Fui noiva, fada; fui cavaleiro andante
num sonho imenso que a doce natureza
trouxe nas águas escuras d'algum rio! 

Maria Helena Amaro
13/02/1955

sábado, 13 de junho de 2015

Dezassete anos


(Ilustração de Maria Helena Amaro)



Tenho dezassete anos! Quando os fiz?
Nem eu sei já dizer... Há tanto tempo!
Dezassete anos de dor, de sofrimento...
Dezassete anos! Que idade tão feliz! ...

Sorri minha alma ao sol da primavera
abre teus braços - um sonho profundo...
Voa mais alto! Esquece o mal do mundo!
Busca no alto paragens de quimera!

Dezassete anos! Ai, quem mos daria!
Se fossem rosas talvez alguém mas desse
Se fossem espinhos ninguém os quereria...

Tenho dezassete anos, que alegria!
«Bouquet» de abrolhos que a vida me oferece
e que eu recebo sorrindo de ironia!

                                                                                                                                  Maria Helena Amaro
                                                                                                                                                 Abril de 1955

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Busca


(Ilustração de Maria Helena Amato)

A noite veio... Na densa escuridão
vão-se meus olhos perdendo pouco a pouco
Eu tento ver, mas é esforço louco
porque sou cega. O que vejo é em vão...

Busco-te ansiosa por entre a multidão
das mil sombras que há ao meu redor
Onde estás tu? Onde estás tu, Amor?
Eu já não sinto bater o coração...

Olho o Céu escuro onde a brilhar
há mil estrelas que não posso alcançar
e para mim são uma tentação...

Eu chamo... grito... e não vejo nada!
Vejo apenas a minha alma cansada
e tu não vens! Maldita sedução!

Maria Helena Amaro
13/12/1954

domingo, 7 de junho de 2015

Visão


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Ele há-de surgir no meu caminho
quando minha alma menos o esperar...
Pousará no meu, o seu claro olhar
e há-de sorrir-me com meiguice e carinho...

Há-de vir talvez cansado da jornada
de me buscar neste mundo sem fim
Hei-de confortá-lo tanto... e ele a mim
Muito hei-de amar... Muito serei amada...

E de  mãos dadas iremos vida fora
curando nobremente os abrolhos
que a vida nos deu precocemente

Dar-lhe-ei o que sonhei agora
e Deus há-de pôr nos meus olhos
a ventura, o amor, eternamente...

Maria Helena Amaro
13/12/1955

Despertar


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

A minha alma nasceu quando te vi
quando meus olhos se abriram para a vida
Eu andava só, neste mundo perdida
quando no meu caminho reparei em ti...

Olhaste-me sem ver e o teu frio olhar
pousou em mim, fugidio, indiferente
E foi nessa hora que fiquei ausente
a sonhar a vida pintada de luar...

Hoje não sonho, não creio na ilusão 
Já não vejo em ti quimera perdida
Já não temo viver no mundo em vão...

Hoje para mim és folha caída
tu que ainda ontem parecias o botão
do grande amor de toda a minha vida!

Maria Helena Amaro
17/09/1954

sexta-feira, 5 de junho de 2015

60.000 visitas

Obrigado a todos os leitores que passam por este espaço literário. Boas leituras. Um abraço virtual.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Renúncia


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Em vez do belo sol da primavera
que tinge a luz da madrugada
eu quero a noite escura, sossegada,
sem luz, sem colorido, sem quimera...

Em vez da luz doce do sol por
que põe no espaço só saudade
eu queria um manto feito de humildade
para esconder o meu sonho de amor...

Em vez dos meus olhos, noite escura,
que rezam sozinhos rosários de amargura
quando os teus sorriem divertidos

Eu queria uns olhos com sonhos de ventura
e que os olhos pedissem só ternura
em troca dum olhar compadecido...

Maria Helena Amaro
Novembro, 1955