Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

domingo, 29 de setembro de 2013

Os órgãos dos sentidos


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(Fotografia de António Sequeira)
 

Isto é salgado... isto é doce...
Sopa de nabo? Desgosto!
Para descobrir o sabor
uso o sentido do Gosto.

Às escuras, eu apalpo
e descubro o meu sapato...
Sinto o frio... sinto o quente...
Uso o sentido do Tato.

Cheira tão bem na cozinha!
Vou comer arroz de pato
Vem o cheirinho ao nariz...
É o sentido do Olfato.

Vejo o céu e vejo a lua,
o vídeo e a televisão.
Vejo as cores... vejo as pessoas,
uso o sentido Visão.

Ouço a rádio a tocar...
A chuva... o vento... o trovão...
Fala baixo... não me estragues
o sentido da Audição...

Maria Helena Amaro
1987
No âmbito da atividade docente - 2º classe

sábado, 28 de setembro de 2013

Praia de Esposende


(Fotografia de António Sequeira)

Passaram anos velozes
que me fizeram esquecer
rostos e nomes... as vozes
não mudaram no dizer...

Dos grupos chegam a mim dizer
conversas e gargalhadas...
A mesma alegria... (enfim!)
de pessoas animadas.

Só eu fico no remorso
das coisas abandonadas
São horas feitas descanso
gritos de pedras lançadas...

Não vou dizer que estou morta
ou que esqueci o passado.
Mas quem bate à minha porta
só tem silêncio gelado.

Quanto mais tempo vai ser
este tempo sem medida?
Quem sabe do meu viver
deste viver sem ter vida?

Olho na palma da mão...
Só vejo linhas cruzadas...
este pobre coração
vai ver mais encruzilhadas?

Nos sonhos e no viver
procuro o lado da arte...
Mas quando tem que escolher,
só recebe a pior parte...

Por isso pergunto à vida,
se na força do viver,
eu só posso ter saída
se for capaz de escrever...
 
Maria Helena Amaro
Agosto, 1987

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Concurso Pedro Homem de Melo
















(Fotografia de António Sequeira)

Poetas do meu país
Estais loucos ou perdidos?
De que lira vos servis
Rindo dos sonhos que peço?
Onde estais? Não vos conheço!

Hoje um poeta nasceu
Onde nasce o doce povo...
Mil sonhos grato vos deu
Em versos de puro ouro
Misto de cristão e mouro...

Doido, doido lhe chamaram
Ele não ouviu... Gritaram!

Mãos atadas foi dizendo
Estou preso. Não me ledes?
Luto por dias felizes...
Onde estão? Vós não os vedes?

Maria Helena Amaro
Concurso Pedro Homem de Melo
1985 

domingo, 22 de setembro de 2013

Vindimas



(Fotografia de António Sequeira)



Na vinha
ao romper da aurora
Corta, corta, corta a-i-ô
Vindimam por aí fora
Corta, corta, corta ai ô

E na vinha e no lagar
ouve-se o mesmo cantar
Corta, corta, corta ai ô

Levando cestos pesados
upa, upa, upa ai -ô
Os homens lá vão cansados
upa, upa, upa ai ô

E na vinha e no lagar
ouve-se o mesmo cantar
upa, upa, upa ai-ô

No lagar atarefados
Pisa, pisa, pisa ai-ô
de calças arregaçadas
pisa, pisa pisa ai-ô

E na vinha e no lagar
ouve-se o mesmo cantar
pisa, pisa, pisa ai-ô


Maria Helena Amaro
1983
Escola de S. Lázaro, Braga
Adaptação de uma música popular

sábado, 21 de setembro de 2013

Bodas de Prata (dedicatória)
















(Fotografia de António Sequeira)


O amor foi
aurora florida
que encheu as vossas mãos
de Sol incandescente
(ai como o brilho do vosso olhar não mente!)

O amor é
a certeza serena
da caminhada feita de mãos dadas
num jeito de carícia...
(olha um par de namorados sem malícia!)

O amor será
a promessa radiosa
da apreciar da vida
o doce entardecer
unidos, à janela...

O sol há de ser lua
o ouro será neve
e vós
felizes e em paz
na esperança singela
de envelhecer à luz da
mesma vela!

Maria Helena Amaro
Outubro, 1984
(Dedicado a um casal amigo)

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Ilha


(Fotografia de António Sequeira)

Cada um de nós é uma ilha.
Bate-lhe o mar
o vento...
A solidão é barco
a atracar no cais
em maré de tormento...

Nascem flores
nas encostas vidradas
o sol as beija
o vento as estiolas
a solidão é barco
que as leva ao mar alto
sem esperança de vida...

Cada um de nós é uma ilha
por isso somos um bando de gaivotas
esfomeadas
tentando angariar
um gão de paz
em searas alheias...

Cada um de nós é uma ilha...
Se não fizermos pontes
cada um de nós irá morrer
como morrem nas encostas vidradas
flores secas que não sabem boiar!

Maria Helena Amaro
Outubro, 1984
Concurso Jovens Poetas

domingo, 15 de setembro de 2013

Saudade (Concurso Jovens Poetas)
















(Fotografia de António Sequeira)

Ter saudades,
mata-las
enterra-las
(em vão!)
e dizer aos outros
que não... que não... que não...

Ter alma
fecha-la
tapa-la
rasga-la
(em vão!)
e dizer aos outros
que não... que não... que não...

Maria Helena Amaro
outubro, 1983
 
Concurso Jovens Poetas


sábado, 14 de setembro de 2013

A casa do citadino


(Fotografia de António Sequeira)

Moro muito cá no cimo
No cimo dum 6º andar
Meus olhos são andorinhas
Se à janela vão olhar...

Pintas negras, são os homens
Pintas brancas, as mulheres
Ruas, jardins e meninos
São ramos de malmequeres...

Cá no cimo, cá no cimo
Ninguém me pode agarrar
Moro perto das estrelas
No meu alto sexto andar!...

Maria Helena Amaro
1982

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Canção para dia de anos


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(Fotografia de António Sequeira)

Menina crescida
menina morena
de faces gaiatas
de olhos ciganos
caminha na vida
alegre e serena
de alma suspensa
em doces enganos...

Quando por mim passas
quando p´ra mim ris
-olhos de andorinha
riso - gargalhada!
na sombra da rua
da vida feliz
és a Primavera toda rendilhada.

Estrelas te guiem
os céus te protejam
as aves azuis
encham teus espaços
que eu fico sonhando
rezando baixinho:
menina crescida
nunca serás só...
Por muito que cresças
sempre caberás
com todo o carinho
nos braços da avó!

Maria Helena Amaro
maio, 1976

domingo, 8 de setembro de 2013

Dia da Mãe (1981)


(Fotografia de António Sequeira)

Mãe,
hoje, eu queria ser uma andorinha
e ir roubar ao Céu
um pedaço de nuvem
para enfeitar teu rosto...
Eu queria ser uma gota de orvalho
e transformar-me toda
em joia preciosa
para enfeitar teus olhos...
Eu queria ter um punhado de estrelas,
fazer dele um ramo cintilante
e coloca-lo nas tuas mãos vazias...

Mas, sou uma criança,
e, vou fazer como todos os dias:
vou dar-te, minha Mãe,
as minhas traquinices,
os meus desgostos,
as minhas alegrias.
E vou dizer-te,
com carinho profundo:

Minha Mãe,
tu és, para mim,
a mais linda flor
dos jardins deste mundo!


Maria Helena Amaro
24 de maio de 1981 

sábado, 7 de setembro de 2013

Entrevista




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Falam-me de Deus... creio.
Falam-me de flores... gosto.
Falam-me de espaços voo.
Falam-me de paz... Amo.
Falam-me de dor... sofro.
Falam-me de verdade.. canto.
Falam-me de luz... pinto.
Falam-me de castigo... choro.
Falam-me de amor... sonho.
Falam-me de crianças...
Vivo!!!

Maria Helena Amaro
Maio,1976
Publicado no jornal da Casa do Professor.



quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Cantiga (para a Maria)


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Coração de vidro trazes
pendurado no teu peito...
Vê lá o mal que lhe fazes
balouçando, assim, sem jeito...

Coração de vidro fino
num constante baloiçar...
Ainda tão pequenino
e já sujeito a quebrar!

Não gosto de ver brincar
com os corações por gosto...
Se o vais estilhaçar
imagina que desgosto!

Também trouxe um coração
pendurado no meu peito...
Agora, vejo-o no chão
em mil pedaços desfeito...

Bem gostava de o ter
de novo no meu pescoço...
Mas quem mo partiu não quer...
E eu sozinho não posso!

Coração, nunca tocado,
deve andar sempre escondido.
Não o tragas pendurado
no decote do vestido.

Quis mostrar, o meu à vida
e a vida mostrou-me a dor...
Alma de negro vestida,
num coração sem Amor!

Maria Helena Amaro
setembro, 1975

domingo, 1 de setembro de 2013

Epitáfio


















(Ilustração de Maria Helena Amaro)



Eu quero morrer cantando
junto de um rio correndo
água que vai afogando
esta dor que vai crescendo...

Eu quero morrer cantando
junto de um cato florindo
espinhos que vão sangrando
coração que vai abrindo...

Eu quero morrer cantando
junto de uma cruz erguida
luz que se vai apagando
morte que à vida dá Vida!


Maria Helena Amaro
9/06/1975