Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Terra




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Amo a terra. As minhas mãos sedosas,
mexem na terra com afago e amor,
que a terra negra gera uma flor;
em madrugadas lentas, luminosas.

Amo a terra. A terra é minha irmã,
tem como eu atitudes serenas,
abre-se em sulcos, tem luzes e poemas,
é toda risos e promessas, sã.

Amo a terra. Não é amar em vão,
com ela eu vou e cada estação
à procura de vida e novidade.

Na primavera eu lhe chamo ilusão,
é luz e fogo no limiar do verão.
Inverno e outono, ela é toda saudade.


Maria Helena Amaro
Inédito
Braga, 16/11/2012 
 



domingo, 27 de janeiro de 2013

Naufrágio (2009)


(Fotografia de António Sequeira)


Atravessei o mar
e não sobrevivi.
Enrolei-me perdida
nos sargaços
esqueci o sorriso
e os abraços
nas ondas cruciais
onde vivi...

Debaixo do sol e do luar
fui de encontro aos rochedos
e bati...
Ficou-me o corpo a sangrar
em pedaços
gritei
chorei
submergi.

Se fores ao mar
se descobrires uma estrela nos penedos
não penses que sou eu que já morri...

A alma nunca morre
no meio doss naufrágios
é uma torre
erguida sob o sol
senhora de gritos
e presságios
transforma-se na noite
na luz difusa do farol...

Maria Helena Amaro
Inédito, novembro de 2009. 

sábado, 26 de janeiro de 2013

Aniversário de Casamento - Pedro e Lola


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(Fotografia de António Sequeira)
 
 
Amor é uma canção
é uma trova
um desafio
quando se põe à prova
e se procura
nova melodia...
Um violino de oiro
que se afina
todo o tempo
toda a hora
todo o dia
numa constante busca
da harmonia.
 
Fazei dessa procura
uma Alegria.
 
Maria Helena Amaro
Inédito, 11/09/2009


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Silêncio (2012)

 
(Fotografia de António Sequeira)
 
 
Fecho a boca,  fecho os olhos,  fecho o rosto
O silêncio ocupa a minha sala.
Ninguém grita, ninguém chama, ninguém fala
Eu busco o silêncio no sol posto.
 
No sol posto busco a claridade
Na noite sou serena, sou rainha.
Sou feliz no silêncio - Sorte minha!
Da penumbra acena-me a saudade.
 
A saudade é a minha companheira
Senta-se aqui, no chão, à minha beira
Fica comigo quer de noite quer de dia.
 
O silêncio que desce sobre mim
Faz do papel das letras um festim
Num bailado de luz e de posia.
 
  Maria Helena Amaro
Inédito, 13 de julho de 2012

domingo, 20 de janeiro de 2013

Casa da Mata

(Ilustração de Maria Helena Amaro)

 
Minha casa
minha asa
meu pátio cheio de luz
minha janela rasgada
para o nascente voltada
Meu amor... meu ai Jesus!
 
Minha casa
minha casa
minha varanda florida
com cortininha de renda
minha serra estremecida
sossego da minha vida
minha jóia minha prenda
 
Minha casa
minha asa
minha calma meu dormir
na noite tão estrelada
minha canção meu sorrir
minha alma enfeitiçada
meu anseio meu sentir
 
Minha casa
minha casa
meu abrigo ignorado
afastado dos mortais
Casa de velho telhado
Paraíso dos pardais
postigo do meu agrado.
 
Minha casa
minha casa
rodeada de olivais
de cor verde/ acinzentado
amarelo ou cor de fogo
Vou-me embora
adeus adeus
minha casa
minha asa
fujo aos céus
mas volto logo.
 
Maria Helena Amaro
Inédito, agosto de 2009.
 
 


sábado, 19 de janeiro de 2013

Saramago


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Chamamos Deus
e Ele não responde...
Onde está Deus?
Onde? Onde? Onde?
Onde está Deus
que não me escuta
que já não me protege?

Talvez esteja escondido
neste rancor
neste desafio desmedido
no desespero da tua alma herege.

Maria Helena Amaro
Inédito, novembro 2009

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Casa do Pombal

(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Ali no cimo da íngreme ladeira,
ficava a casa de paredes cercada,
dava-lhe acesso  o portão de madeira
de aldabra negra em ferro, bem forjada.

Abram a porta! - Gritava a avó chamando -
Abram a porta que o pastor quer entrar!
As doces pombas espantavam-se em bando
iam serenas no telhado poisar!

O pátio enorme cheirava a rosmaninho,
a feno verde, a cidra, a hortelã,
os pardalitos pipiavam no ninho
entontecidos com o sol da manhã.

Casa de agricultor! Tanto trabalho
Tanta lida, tanta vida, tanto ardor!
No tempo da azeitona, ceifa ou malho
trabalhavam até o sol se pôr.

Um grilo tonto na lareira escondido,
uma cigarra perdida no pomar,
a tontinegra com o seu alarido
compunham árias em noites de luar.

Vinho o cheiro de mosto do lagar,
vinham sacos de farinha do moinho,
vinha azeite da talha a gotejar,
vinha fruta, hortaliça, pão e vinho.

Primeiro foi a avó que foi embora,
cansada de trabalho e de sofrer.
Em cada mês, em casa dia, em cada hora
doce lugar ficou por preencher.

E houve um dia  em que todos partiram,
malas na mão e na garganta um nó.
Morreram uns, outros logo fugiram
do trabalho da terra feita pó.

Fechou-se a casa, o avô ficou só
alquebrado, queixoso, sem ninguém...
e começou a andar... metia dó...
pela casa dos filhos: um vai/vem...

Envelheceu a casa... em todo o lado
cresciam ervas... tudo era solidão...
Subiam as silvas até ao telhado
e cogumelos enfeitavam o chão...

Mas um dia o milagre aconteceu,
alguém a viu, alguém a desejou
e a casa do Pombal que se perdeu
moradia alegre se tornou.

Casa dos meus avós, das minhas tias,
da minha infância feliz e descuidada.
Passo por ti e só sinto alegrias.
Ao ver tuas paredes restauradas.

Sejam felizes os que lá vivem nela,
os que enfeitaram de flores essa calçada...
fizeram dela uma pousada
e colocaram vasos na janela

E ao subir a íngrime calçada
possa eu ver essa casa florida
que encheu de amor a minha madrugada
pois foi o ninho duma família querida.

Maria Helena Amaro
Inédito, novembro de 2009  

domingo, 13 de janeiro de 2013

Identidade (2009)

 
(Ilustração de Maria Helena Amaro)
 
 
Sou como um pássaro
que voa que esvoaça
através do mundo
e não me inquieto nunca.
Minhas asas desenham nos espaços
figuras mágicas
que as estrelas pretendem apagar
nas noites misteriosas.
Sou como um pássaro
fugidio, inquietante, vivo
sem pousada, sem ninho, sem embalo. 
 
Se avistares lá no alto
um pássaro de asas de cetim
esvoaçar ao longe
em gesto de partida.
Sou eu
Sou eu que fujo ao mundo
Sou eu que fujo à vida,
Sou eu que fico em mim.
 
Maria Helena Amaro
Inédito, novembro de 2009



sábado, 12 de janeiro de 2013

Lenda (2009a)




















               (Ilustração de Maria Helena Amaro)



Que cavalos são aqueles
que fazem sombra no mar?
São os «cavalos» de Ofir
são os penedos de Fão
suspensos no seu arfar
em castigo ou punição...

São penedos tão medonhos
tão difíceis de agarrar
escondidos nas marés
voltados para Esposende
Já não podem cavalgar
que o mar de sal bem os prende...
na lenda do rio Zende.

Que cavalos são aqueles
que fazem sombra no mar?

São lendas que ninguém conta
Mas que o farol sempre aponta
não vá alguém naufragar!


Maria Helena Amaro
Inédito, novembro de 2009.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Aviso

(Ilustração de Maria Helena Amaro)
Saíste no mar
a navegar
no teu batel
no cimo das ondas alterosas...

Não vás ao mar
não vás
que as águas são de fel
e as marés
com ondas a cantar
são tão medonhas
traiçoeiras
maldosas...

Não vás ao mar
não vás
senta-te aqui
ao pé de mim na praia...
Deixa que venha o Sol
que enxugue a minha saia
pois o farol
na noite/tempestade
já não é luz
já não serve de guia
e as sereias
perdidas nos sargaços
só nos cantam canções
de morte e de cansaços
de vento e de saudade...

Não vás ao mar
não vás...
Estende as tuas redes nos rochedos
aceita sonhos desencantos
e medos
e espera a bonança
que te dará esperança.

Não vás ao mar
que essa viagem pode não ter fim
perde-se toda nas nuvens dos Céus
em brulhada em cetim
ao encontro de Deus.

Maria Helena Amaro
Inédito, novembro de 2009.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Viagem (2009)



















(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Vou ao mar?
Ao mar não vou
pois a pescada que sou
já ninguém pode pescar.
Fico encostada à parede
toda embrulhada na rede
pois já não sei mergulhar...

Vou ao mar?
Ao mar não vou
o meu barco naufragou
na onda da maré cheia.
Nele foi o pescador
que me pescou com amor
ao ouvir uma sereia.

Vou ao mar?
Ao mar não vou
fico na concha que sou
tudo sei e tudo esqueço
E se chegar a maresia
quer de noite quer de dia
nado, canso e esmoreço.

Vou ao mar?
Ao mar não vou
na rocha que me tocou
o sol não vem cintilar.
Vem a noite e as estrelas
mesmo aquelas que são belas
todas se fundem no mar...

Vou ao mar?
Ao mar não vou...
Na Poesia que sou
fico na praia a sonhar...


Maria Helena Amaro 
Inédito, novembro de 2009

sábado, 5 de janeiro de 2013

Dia de S. Martinho


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Dia de S. Martinho - 1962

Lembraste amor? Não é loucura  vã,
nem capricho, teimosia ou devaneio,
recordar hoje esse longo passeio,
que nos levou até à Golegã.

Em novembro... Dia de S. Martinho;
desfiles... charretes... cavaleiros...
trajes vistosos... sorrisos prazenteiros...
tascas antigas... castanhas... pão e vinho

Andámos de mão dada toda a tarde,
inundados de ternura e desejo,
por entre a multidão entontecida.

E no regresso... Deus meu, ai que saudade
aconteceu esse primeiro beijo
que fez de ti o par da minha vida!

Maria Helena Amaro
Inédito, 2009 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Parabéns Pedro António - 2009















(Fotografia de António Sequeira)



Pedro António:

Menino de riso aberto
Todo voltado pr'ó Sol
Veja bem se «pesca» certo
com isca, linha e anzol...

Esta sua «pescaria»
na escola vale tudo:
ter muita sabedoria
com atenção e estudo...

E mesmo na brincadeira
não vale ter asneira...



Maria Helena Amaro
22/10/2009