Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

domingo, 30 de novembro de 2014

Meditação


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Eu queria Luz... e tinha noite escura!
Eu queria Amor... e tinha uma ilusão
Eu queria Verdade... e dizia mentiras!
Eu queria fé... e contava dar Vida,
à sombra, à escuridão!

Queria ser alma... não tinha coração!
Queria ser boa... desprezava a virtude!
Queria ser santa... renegava o fervor!...
E era um nada...
Uma folha caída...
(Folha de livro? Sei lá!)
- Amava a vida...
Mais do que a mim, mais do que Deus
mais do que o mundo...
Amava, sem amar...
Queria, sem procurar...

Depois... busquei nas trevas
enriqueci-me de tudo
de tudo que era noite!

Busquei nas trevas
e encontrei nos caminhos da luz
alvoradas de Luz!...
E na Luz encontrei a Verdade
e encontrei Amor...
E debruçado sobre a minha alma
Vos encontrei, Senhor!!!...     


Maria Helena Amaro
10/02/1956

sábado, 29 de novembro de 2014

Páscoa


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Encontrei o Senhor no meu caminho
Vinha exangue, triste esfarrapado
trazia no olhar, sonho magoado
um mundo imenso de Amor e carinho...

Passei por Ele sem O ver, sem parar
silenciosa, fria indiferente
sabia a pó a minha boca ardente
sabia ao nada a vida a despertar....

E o Senhor parou na minha estrada
poeirenta cheia de rosas murchas
onde caí na lama espezinhada...

Olhou-me e com voz toda magoada
pondo nas minhas as suas mãos enxutas
numa palavra eu fiquei perdoada!


Maria Helena Amaro
19/03/1955

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Nunca mais! ...


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Minhas quimeras, meus sonhos, meus anelos
Ninguém os viu, ninguém os encontrou
foram-se com o tempo fugaz que os levou
má desventura a minha de perdê-los

Busco-os no espaço vazio dos meus olhos
em que sonhei não mais os encontrar
que importa o sonho - miragem salutar -
se elas estão tornados em abrolhos?

Um é chaga, outro dor, outro desgosto
outro as sombras sulcadas no meu rosto
outro o eco dolorido dos meus ais

Pergunto se voltou, um sopro, um gemido
ao meu olhar no espaço perdido
e ele diz-me: Nunca mais! Nunca mais!

Maria Helena Amaro
18/03/1955 

domingo, 23 de novembro de 2014

Já não sou poeta


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

A noite escura cobriu os olhos meus
e a inspiração ameaçou fugir
Já não sou poeta! Já não busco a sorrir
no espaço azul a vibração dos céus!

Já não sou poeta! Já não tenho em mim
um doce sonho, feliz, abrasador
não tenho em mim a beleza do amor
e só peço a Deus um prematuro fim...

As minhas mãos no peito se cruzaram
e os meus dedos ficaram-se crispados
numa revolta, cruel, indefinida...

Já não sou poeta! As ilusões passaram
só os meus sonhos, em versos transformados
ressoam tristes, na minha triste vida!

Maria Helena Amaro
27/03/1955

sábado, 22 de novembro de 2014

Saudade...


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Saudade...
Saudade da frescura da manhã
do cheiro a alecrim
a mel e a castanha
a lagar a jeropiga
a trevo e hortelã...
Do comboio da linha da Lousã
a dançar nos carris
em busca de Serpins...
Dos corvos negros a gritar
por cima de olivais...
das cotovias
mochos e pardais
a namorar
as azeitonas caídas no terraço...

Do passeio matinal
até à Vila da Lousã
do pingo quente
no café da esquina
café da D. Lúcia
que nos servia gentilmente
com o seu rosto tão fresco
de menina...

Saudade...
Saudades da sesta caloreira
em que brincávamos
os corpos encharcados de suor
nas águas cristalinas
de godos reluzentes
do velho Rio Ceira.

Saudade...
Saudades das noites estreladas
dos cantos das cigarras
que vinham até mim...
e as luzes distantes do Trevim.

Saudade...
Saudades da festa da Pégada
da chanfana
arroz doce
tigelada...
dos espantalhos erguidos nos trigais...

Saudade...
Saudades de ti
de mim
de tudo que foi a nossa vida.
Em aventuras tais
e que não regressam mais!

Maria Helena Amaro
Braga, novembro, 2014.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Meus versos


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Meus versos são soluços comprimidos
que saem pouco a pouco de meu peito
são lembranças do meu sonho desfeito
são o eco dos meus débeis gemidos

Meus versos são poemas da tortura
que minha alma murmura em desatino
são atalhos tortuosos do destino
que me conduzem à negra desventura

Meus versos são rosários de amargura
são os cânticos daquela ventura
que eu sonhei um dia com ardor

Meus versos são os muros arruinados
os meus castelos de ilusão levantados
Meus versos são hinos sem Amor!

Maria Helena Amaro
24/07/1953

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Anoitecer


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Calam-se as noras ao findar do dia
Balem ovelhas entrando no povoado
Nos pinheirais já cantam a cotovia
leves queixumes num chinfrim magoado...

Sinos repicam... doce nostalgia
Cantam os rios descendo o valado
Hora das rezas - Salvé ó Mãe Maria!
Rezam mulheres no regresso do prado...

O sol já desceu vermelho e dourado
velho, tão velho de fazer chorar
É o mar azul a sua campa bela

Há nos olhos moços reino adorado
Há nos campos loiros rendas de luar
Beijam-se as flores à minha janela...

Maria Helena Amaro
Foz de Arouce, 18/11/1955

domingo, 9 de novembro de 2014

3º Aniversário da fundação do blogue Maria Mãe

Caros leitores:
Este vosso espaço literário comemora hoje, dia 9 de novembro de 2014, 3 anos de vida.
São 1095 dias de atividade literária em que foram sendo publicados mais de 850 poemas e 21 contos da autoria de Maria Helena Amaro.
Agradecemos a todos aqueles que permitiram a este espaço virtual ter ultrapassado as 45.000 visitas.
Esperamos que as criações literárias apresentadas neste nosso «lar digital» vos tenham proporcionado bons momentos de fruição.
Atentamente,
António Sequeira (editor).  

Mater dolorosa


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Minha mãe! Tu tens dentro de ti
alguma coisa que cura e vivifica
e o teu peito de mãe onde vivi
tem algo belo que também purifica...

Quando eu olho  os teus olhos cinzentos
onde se espalha a mágoa e o pesar
tu tens sempre ternura para dar
aos meus abrolhos escuros e sangrentos...

Quem me dera olhar por toda a vida
o teu olhar de Mater Dolorosa
que sofre, que perdoa, que enternece...

Ó quem me dera minha mãe tão querida
que a morte viesse vagarosa
e reunidas o Céu nos recebesse...

Maria Helena Amaro
Esposende, 17/01/1955


sábado, 8 de novembro de 2014

Fantasia


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Ele passou... passou e não me viu
Mais um que passou e não foi meu
Quimera morta, num sonho todo ateu
E que, por Deus, ele não descobriu...

Ele passou... levava no olhar
a chama ardente que a vida acalenta
Ele passou e minha alma sedenta
ficou na bruma, suspensa, a esperar...

Ele passou... Quisera eu pedir
que ficasse, que falasse para mim
que me desse a esmola dum carinho

Ele passou... Não me viu a sorrir
Não viu minha alma a suportar o fim
duma esperança, que perdeu no caminho...

Maria Helena Amaro
Braga, 23/07/1955

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Pétalas brancas


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Pétalas brancas que soltei ao vento
em dias loucos da minha ventura
vejo-as hoje já no esquecimento
cobertas de pó e de amargura...

Pétalas brancas que um dia espalhei
em tarde amena de sereno verão
não mais as vi, não mais as apanhei
elas se foram e não mais voltarão...

Pétalas brancas são sonhos de magia
que desfolho de rosas, dia a dia
no meu jardim de ilusões florido

Pétalas que murcham sem serviço, sem vida
são a imagem duma primeira vida
são os despojos do meu reino perdido...

Maria Helena Amaro
01/01/1954

   

domingo, 2 de novembro de 2014

Avozinha


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Quando me ponho, avó, a meditar
na minha infância distante que passou
sinto minha alma baixinho soluçar
ao recordar os sonhos que sonhou...

Eras toda carinhosa, branquinha
suave, terna a segurar meus passos
recordo os teus carinhos avozinha
e o aconchego dos teus cansados braços...

Quando partiste nessa viagem infinda
levaste a ventura dos meus alegres dias
dos meus tempos distantes de criança

E eu sinto avó pairar ainda
nos risos loucos, nas minhas fantasias
a tua imagem a Luz da Rocha Esperança

Maria Helena Amaro
2/02/1954
(Dedicado à Avó Helena de Jesus)

sábado, 1 de novembro de 2014

Viver


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Dai-me vida, Meu Deus, quero viver
uma existência cheia de verdade
quero sentir a dor ou a saudade
com um sorriso que anseia sofrer...

Dai-me vida, Meu Deus, quero esquecer
o meu passado negra recordação
quero curar o meu ferido coração
E depois então... sei lá... quero viver!

Porque foi, porquê, Ó Deus, que certo dia
tentei viver da vida a fantasia
num sonho louco todo embriaguez?

Louca de mim! Se eu vivesse o "eu"
naquelas horas que a vida me deu
eu seria hoje como Deus me fez.


Maria Helena Amaro
6/01/1954