Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Poema do entardecer...






(Ilustração de Maria Helena Amaro)


É impossível que eu tenha escrito
Tantos sonetos repassados de dor...
Fui eu quem os cantei ou foi o Amor?
Se fui eu não sei... nem acredito...


Ainda há pouco quando os soletrei
alguém me disse com voz emocionada:
«Quem os cantou? Pobre alma torturada!»
E eu respondi: "Quem os cantou não sei!...»


Não sei... Não sei... Só sei que fui alguém
alguém muito diferente do que sou
alguém sem vida, sem começo ou fim...


Fui eu quem os cantei? Ninguém! Ninguém!
O grande Amor que eu cantei passou
E eu passei... (Esqueci-me de mim!)


Maria Helena Amaro
1956

domingo, 23 de fevereiro de 2014

É Natal


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

É Natal
Estava escrito que era urgente e necessário
celebrar o Natal todos os dias


Hoje e sempre, será natal!


E as pessoas celebravam o Natal
só uma vez por ano
cada um a seu modo
segundo o seu viver.


Estava escrito
que as crianças deixassem de sofrer
que os velhos parassem de chorar
que os jovens não quisessem descrer
que os mendigos deixassem de pedir
que os ricos soubessem repartir
que os humildes pudessem censurar
e os poderosos descer, descer, descer.
Nem guerra nem rancor,
palavra de ordem Amor.


Certa manhã
tornou-se urgente e necessário
chamar a todos os homens e dar-lhes por igual
o ouro, a prata, o pão e a fartura.
Abriu-se o livro
e todos o podem ler
- Trabalho e Paz, Amor e Alegrias
Agora
e no futuro
será urgente e necessário
celebrar o Natal todos os dias


Maria Helena Amaro
Natal, 1975
Publicado em  "Casa do Professor" 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Mensagem para Timor






(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Mando-vos o barco
que quis ir a Timor
carregado de Protestos
e de Esperanças.
Colocai-o nos olhos das Crianças.
Elas ouvem notícias...
Elas leem jornais...
Ouçam-nas.
Escutem-lhe os gritos,
estudem-lhe os gestos,
vejam os traços que pintam no papel.
Elas falam de Paz...
Da liberdade...
Da tristeza, de Dor...
Colem-no todos nas ruas da cidade,
nas paredes, nas janelas, nas postais,
num Protesto de Amor.
Porquê Porquê Porquê
Por causa de Timor,
não acreditarão nos Homens
nunca mais! 


Maria Helena Amaro
Natal, 1994
Jogos Florais- Casa do Professor
1º Prémio - Poesia

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Aniversário (1997)


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Vejo-me ao espelho:
Tenho sessenta anos!?
Vieram rosas
doces
risos
sons
Porque todas as coisas
tem medida certa
controlada?
Nunca contei o tempo
Deixei o tempo passar
despercebido
e fui com ele
na vida de mão dada...
O tempo é só mensagem.
Talvez sessenta anos
sejam o meu bilhete
de viagem.

Maria Helena Amaro
Julho, 1997.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Quotidiano
























(Ilustração de Maria Helena Amaro)

A vida é isto.
Silenciosamente
na solidão
escuto a voz das coisas.
Todos os objetos
da minha casa
têm um nome
recordam-me uma voz
conversam de um assunto.
Fecho os olhos
e adormeço embalada
pelo som
pela presença
pelo sussurro
quase nada.


Maria Helena Amaro
Julho, 1997



sábado, 15 de fevereiro de 2014

Cotovia







(Ilustração de Maria Helena Amaro) 

Ninguém ouve a cantilena
da cotovia que passa
(cantilena de desgraça)
escutar não vale a pena...


Nos caminhos desta vida
quando passa a cotovia
foi-se a noite, vem o dia
cheio de sol sem medida.


E então esta gente canta
manda p'ra longe a desdita
só quer da sorte bendita
a cantilena que encanta.


Maria Helena Amaro
Julho, 1997

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Muro




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Ergueu-se muro
lentamente
pedra a pedra
alto a alto
tornou-se fortaleza.
Não tenho forças
para derrubar o muro...
Tudo ruiu em mim
Não tenho força
capacidade
nem sequer confiança...
Regresso ao tempo
em que era criança...
Rodeada de muros
chorava no regaço dos meus
sonhos
e ninguém escutava.

Maria Helena Amaro
julho, 1997

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Oração


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Sem orações
sem palavras
boca fechada
alma aberta
no silêncio das coisas
eu medito
Deus não é miragem
nem promessa
nem um mito
sem orações
sem palavras
eu sou
eu acredito.

Maria Helena Amaro
Julho, 1997.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Registo II




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)
 

Ficou o cordel na minha mão
o cordel de balão
para eu encher de Amor.

Era afinal o cordel da vida
para prender-me a alma
sem medida...

Procurei a cor do meu balão...
O vermelho encontrei...
De nova lá fui com o cordel
da vida...
Corri e não parei:
Hoje
penso tantas vezes
(e a saudade na minha alma acende...)
Que afinal naquele dia
não te encontrei
porque o destino
tanto engano
desprende!
Ficou-me o registo
naquele pedaço de papel
«grito de alguém,
silêncio que a alma não entende!»

Afinal...
Registo com ternura
o teu rosto
tonto de luz e vida
a desaparecer por entre a multidão
no fundo da Avenida!

Maria Helena Amaro
Maio, 1997

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Registo I



(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Naquele maio fui à tua procura
vestida de azul
calçada de branco
enfeitada de prata...

Fui à tua procura
doida de sonho por entre a multidão.
Não era amor, não era,
era apenas esperança.
O meu riso era riso de criança
que retém um balão...

Seguiste, então, de rosto esfusiante,
tão bem acompanhado...
Larguei o meu balão!
Ficou só o cordel na minha mão
e eu parada...
Nunca mais esqueci
o ondular da tua capa de estudante
a desaparecer tonta de dança e vida
no fundo da Avenida!

Maria Helena Amaro
Maio, 1997

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Despedida




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Hei de ir de vez
e ninguém vai notar...
Hei de ir de vez
e se alguém me agarrar
grito que não... que não... que não...

Basta de loucos!
Partido o coração
ninguém o solda as formas...
(grito que não... que não... que não...
que não...)
São loucos!

Maria Helena Amaro
Maio, 1997