Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Será loucura?


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Irmão: será loucura ser poeta
viver assim um longo sonho louco
ter a vida de certa borboleta
voar, voar, morrendo pouco a pouco?

Irmão: será loucura ser cantora
dum sonho que a alma acalentou
recordar o tempo que passou
quando o tempo foge vida fora?

Irmão: será loucura eu cantar
sentindo o mundo já a bocejar
destas maleitas  que não têm fim?

Irmão: será loucura querer venturas
será loucura chorar só amarguras
vivendo a dor pela vida, por mim?

Maria Helena Amaro
Braga, 8/02/1954

domingo, 26 de outubro de 2014

Ansiedade


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Eu desejei ser tanto, Meu Jesus!
Quantos sonhos eu ando a sonhar
quantos projetos eu ando a traçar
no meu caminho de verdade e luz...

Eu desejei ser tanto! Oh! Bem sei
que outrora não fui o que sonhaste
não quis cumprir aquilo que mandaste
e perdi-me no mundo que encontrei...

Tal como um Rei pobre, destronado
de manto sujo, negro, esfarrapado
vou mendigando um pouco de ventura

Tal como um Rei errante e exilado
busco a Luz da Fé em todo o lado
que a má sina desfez em amargura...


Maria Helena Amaro
8/02/1954

sábado, 25 de outubro de 2014

Simpatia


(Ilustração de Maria Helena Amaro) 

Gostei de ti... não sei... não sei dizer
porque gostei assim tanto de ti
desde aquela manhã em que te vi
é que senti como é belo viver! ...

Gostei de ti... eu não posso esquecer
porque nunca, nunca mais esqueci
aquela ilusão enorme que senti
aquelas horas felizes a valer...

Gostei de ti... Seria uma ilusão
aquela pura e grande comoção
aquela simpatia que vivi?

Não sei se foi louca fantasia
aquela afeição que tive um dia
só sei, amigo, que gostei de ti...

Maria Helena Amaro
8/02/1954

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Poema da distância


(Ilustração de Maria Helena Amaro) 

O poema da distância
é feito de memórias
de histórias
que o tempo docemente
embrulha num lençol
de noite/esquecimento.

O poema da distância
não tem data
nem ano, mês ou dia,
desliza na saudade
e guarda-se de nós
sem nome e sem idade
apenas soa, em voz.

Caminho no presente
e vou perdendo a noção
da distância...

Não peço
não anseio
mas sinto que regresso
aos teus dias luminosos
da infância!

Maria Helena Amaro
Braga, 15/10/2014

domingo, 19 de outubro de 2014

Abandono


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Pobre de mim! Triste desventurada
que vagueio no mundo sem ter Luz
olhai pr'a mim, perdoai-me Jesus!
Dai-me uma guia nesta longa jornada...

Mostrai-me um caminho uma estrada
onde possa caminhar sem mais ninguém
levando em mim a presença do Bem
P´ra não mais me sentir abandonada

Já que todos fingem não me ver
ao menos Vós entrai no meu viver
na minha vida, no meu pobre coração

Aliviai-me desta grande amargura
que faz da minha vida a desventura
que faz deste sofrer uma ilusão

Maria Helena Amaro
Braga, 12/12/1953

sábado, 18 de outubro de 2014

Renúncia


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Perdoa, amigo, senão soube merecer-te
o teu carinho toda a tua ventura
Perdoa, amigo, se seu tentei perder-te
no meu mundo de dor e de amargura

Perdoa, amigo, todo esse meu desdém
todo o desprezo que vias nos meus olhos
perdoa, amigo, perdoa que eu também
já perdoei à vida os meus abrolhos

Perdoa, amigo, esse sonho impossível
que um dia julgaste ser possível
na minha vida risonha a florir

Perdoa tudo, deixa-me abandonada
para que possa morrer já descansada
recordando a tua imagem a sorrir... 

Maria Helena Amaro
12/12/1953


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Pomba perdida


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Aquela pomba que partiu para além
em manhã fria de sombrio outono
não mais voltou, não mais soube ninguém
se acaso morreu ao abandono

Voou, voou no espaço azulado
mais cinzento, mais triste nesse dia
e não mais voltou ao passado
a sua alegre e linda moradia

Pomba formosa de extrema brancura
que um dia foste à cata de ventura
volta de novo ao teu antigo lar

Há quem espere chorando de amargura
a tua fuga alada à desventura
e a tua vida de neve a despertar...

Maria Helena Amaro
Braga, 20/12/1953

domingo, 12 de outubro de 2014

Outono


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Canção do outono que tanto me entristeces
vem embalar-me nas tuas nostalgias
põe-me na alma as loucas fantasias
com que à noite, em pranto, me enterneces

Quando à tarde à hora do sol por
quando a folhagem ciciar baixinho
mil lamentos e faltas de carinho
quero que tu me cantes só Amor

Canção do outono que à noitinha o vento
canta baixinho o tempo que passou
por entre as árvores já todas despidas

Canção de outono que é quase um lamento
daquelas folhas que o vento levou
e que agora são folhas já caídas.


Maria Helena Amaro
Braga, 18/12/1953 




sábado, 11 de outubro de 2014

Romance



(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Eu já tinha esquecido aquele sonho
para o mundo já tão incompreendido
eu quase já me tinha convencido
que o futuro jamais era risonho

Eu já tinha chorado de saudades
e de te amar me tinha arrependido
mas tu vieste recordar o esquecido
recordações de mentiras - verdades

Acreditei em tudo que disseste
com esses olhos de tristeza  infinda
que nos meus, a medo, depuseste

E aquele sonho que  amamos ainda
é a promessa que um dia fizeste
é a lembrança do sonho que não finda!

Maria Helena Amaro
23/11/1953




quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Mentira


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Quanta loucura eu ando a sonhar
Quanta ilusão eu ando a viver
Pela verdade em que não quero crer
Pela mentira que quero acreditar

Eu que outrora só podia amar
toda a verdade que conseguia ver
em cada dia da vida a renascer
e caminhava só sem tropeçar...

Mas um dia eu menti sem saber
Disse mentiras que ouvi dizer
que andavam perdidas pelo ar...

Desde esse dia fiquei só a sofrer
e nunca, nunca mais pude esquecer
essa mentira que vivo a recordar...

Maria Helena Amaro
Braga, 17/11/1953

domingo, 5 de outubro de 2014

Lendas



(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Há lendas que nunca sei contar
tão fugidia eu ando de carinho
Há imagens que quero recordar
e lembranças perdidas no caminho

Há dores que não sei suportar
longas insónias dum infindo sofrer
Há coisas belas que não consigo amar
e ilusões que não posso viver

Há ideias perdidas pelo ar
neste mundo de descrença sem par
de desespero e de futilidade

Há pensamentos que não posso ocultar
Há amarguras que não sei chorar
e há dentro de mim uma saudade...

Maria Helena Amaro
Esposende, 13/11/1953

sábado, 4 de outubro de 2014

Leva-me...


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Adeus ó Sol que em breve vais partir
lá para longe, além, além do mar
leva-me contigo porque eu quero amar
os outros mundos que tu vais colorir

No teu manto de oiro diamantino
há corações que enchem o meu mundo
todo feito de sonho e amor profundo
onde os abismos se chocam em desatino

Quando parti debaixo desse manto
que põe em cada gota um terno encontro
que põe em cada riso uma flor

Leva-me ó Sol, leva-me a longas terras
que ficam além, além das serras
onde tu desces triste e pensador!

Maria Helena Amaro
Braga, 11/02/1953 

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Regresso à escola


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Entrava na sala lentamente
e abria as janelas com brandura.
A aula é para mim uma aventura
em que embarcava feliz e sorridente.

Quando a sineta tocava estridente
e a algazarra enchia o corredor,
era sinal da hora do labor,
de ocupar a alma, o coração, a mente.

Olhava as crianças sem demora:
«Bom dia, bom dia, professora.
Que vamos fazer hoje? Que lições?»

A minha sala era um livro aberto.
O silêncio e o amor eram, por certo,
o melhor meio de encher corações.


Maria Helena Amaro
Braga, 19 de setembro 2014
Inédito