Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Loas


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

O poeta é «mentidor»,
mente por tudo e por nada,
do sapo faz uma flor
dum boi faz uma manada.

O poeta é «mentidor»
mente de noite e de dia,
de um sorriso faz amor,
de uma tristeza, alegria.

O poeta é «mentidor»
da guerra faz harmonia,
de afeto faz favor,
do sonho faz nostalgia.

De tanto, tanto mentir,
ninguém vai acreditar
que é mendigo a pedir
que é barco a naufragar.

Maria Helena Amaro
Janeiro de 2011

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Cantilena


(Fotografia de António Sequeira)

Na orla do mar
na orla do rio
estendi a alma
cheiinha de frio...

Na orla do rio
na orla do mar
estendi a alma
tão perto do céu
chamei o teu nome
ninguém respondeu...

Chamei as gaivotas
na orla do mar
chamaram por ti
- tão belo chamar!
Na orla do rio
na orla do mar
ouvi o teu nome
um anjo a chamar
sonhei acordada
dormi a cantar
na orla do rio
na orla do mar!

Maria Helena Amaro
11/novembro/2010

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Janeiro


(Fotografia de António Sequeira)

Bailava o vento, bailava
por cima da penedia...
E se o sol se atrasava,
então o vento parava
e o nevoeiro descia...

Todo o mar se encapelava
e toda a praia gemia...
Gaivota velha piava,
o farol, enfim, berrava
e todo o barco fugia...

Por cima do casario
o nevoeiro pairava...
E se o sol se escondia...
Era noite? Ou, era dia?
Hora certa não contava.

Por cima do arvoredo
o nevoeiro dançava
E se o sol não aparecia,
toda a gente se escondia...
Noite cerrava... Que medo!

Maria Helena Amaro
15/01/2011


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Cantata


(Fotografia de António Sequeira)

Enamorada do amor,
de ti, me enamorei,
e nos caminhos sem cor
que percorri,
em versos te cantei...

Se foi o amor
que me enganou,
eu já não sei...
A vida foi tão breve
e a morte te levou
e eu fiquei...

Foi engano viver o que vivi
porque enamorada do amor,
de ti me enamorei...
Hoje
simplesmente
envolta numa saudade que me doí
se tudo se foi
eu nada sei, do amor
apenas enamorada
de ti me enamorei...

Maria Helena Amaro
26/10/2010

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Lua


(Fotografia de António Sequeira)

Apaga a lua, não quero ver a lua,
que a lua é traiçoeira, é enganosa,
veste de anil dourado, cor de rosa,
as paredes dos prédios cá da rua...

Apalpo as formas que estão à minha beira.
Todas iguais? Não, é puro engano
dá-lhes forma a lua todo o ano,
brilham de luz, assim, desta maneira.

Apaga a luz, não quero a lua aqui,
vem recordar tantas noites que vivi
recostada em teu braço ardente...

Passou a vida. Na dor fiquei sem ti,
mas as horas de luar não esqueci.
Não quero a lua, porque esta lua mente.

Maria Helena Amaro
Braga, 1/10/2010 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

História mal contada


(Fotografia de António Sequeira)

A amizade que deste a tanta gente
tornou-se história  fingida e mal contada
Pediste ajuda na dura caminhada
e tudo estava fora... estava ausente...

Dura lição na dor inclemente,
corpo desfeito e alma destroçada,
não encontraste amigos na estrada
que te apoiassem seguros, fielmente.

Mas fiquei eu, a teu lado indiferente
ao desvairo, ao insulto, ao desgosto
que semearam assim nas nossas vidas.

Recordo hoje a sarça ardente,
o sofrimento escrito no teu rosto,
e tantas noites em claro perdidas.


Maria Helena Amaro
Setembro, 2010

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Registo


(Fotografia de António Sequeira)

Setenta e cinco anos?! «Linda idade,
não parece, não» me dizem todos.
Mas estes elogios são engodos
que me reportam à minha mocidade.

São cinzentos anos de saudade
Recordá-los assim não é tolice
Eu tinha vinte anos... brejeirice!
A alma cheia de risos e bondade.

Na mão esquerda trazia o coração
Na mão direita o sonho e a razão
O meu futuro era a terra prometida

Nesta viagem muitos me encontraram
Os sonhos que levava mos roubaram
Fiquei, assim, pendurada na vida!

Maria Helena Amaro
Julho, 2012.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Momentos


(Fotografia de António Sequeira)

Tão longa a caminhada
o rumo tão incerto
a dor e a saudade estão por perto
em cada esquina
em cada encruzilhada...
A vida é um deserto...

Calaram-se as guitarras
morreram as canções
os olhos são de prece
os lábios orações
e as vozes de grilos cigarras
são gritos e pregões...

Procuras estrelas apagadas
nos céus pardacentos do outono...
Corpo cansado e a alma sem dono
caminhas só, no rumo tão incerto
a dor e a saudade estão por perto
em lágrimas salgadas.

Maria Helena Amaro
Novembro, 2011

domingo, 17 de janeiro de 2016

Foto


(Fotografia de António Sequeira)

Olhas dentro do teu peito,
e só encontras tristeza,
coração todo desfeito,
e corpo nu de beleza...

Foi duro o teu caminhar,
nas estradas desta vida,
e, mesmo no verbo amar,
sempre te achaste perdida...

E, agora que a vida foge...
Que fazes no dia de hoje?

Maria Helena Amaro
Janeiro, 2011 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Vida


(Fotografia de António Sequeira)

Um pouco de harmonia e poderei sonhar...
Um pouco de fé e poderei rezar...
Um pouco de saudade e poderei chorar
Um pouco de silêncio e poderei pensar...

Um pouco de alegria e poderei sorrir
Um pouco de amargura e poderei fugir
Um pouco de solfejo e poderei sentir
Um pouco de fracasso e poderei partir...

Um pouco de poesia e poderei dizer...
Um pouco de esperança e poderei viver...
Um pouco de vontade e poderei fazer...
Um pouco de doença e poderei morrer...

A vida não se escolhe... É uma aceitação,
constrói-se com amor, com Luz
                      e com perdão!

Maria Helena Amaro
Janeiro 2011

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Esperança e vida


(Fotografia de António Sequeira)

Tantas vezes a vida foi ventura!
Tantas vezes a vida foi certeza!
Quantas vezes a vida foi ternura!
Mão cheia de luz e de beleza!

Um pouco de ilusão... Um risco de loucura.
Um nada de miragem... um traço de riqueza...
A promessa dum sonho, tornado noite escura,
e nessa noite escura, a vela acesa.

De repente, o adeus. Solidão prematura,
vida feita deserto, areia, pedra dura,
e nessa caminhada vai a alma estendida...

Solidão, vai-te embora! A minha alma procura,
um refúgio de Paz, de Infinito, de Altura,
onde cante com Fé, a Esperança e a Vida.

Maria Helena Amaro
(Poema dedicado a uma colega aposentada)
2/02/1985

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Imagens - 1957 - Esposende


(Fotografia de António Sequeira - Praia do Lombo Gordo, Nordeste, S. Miguel, Açores)

Crianças sujas, descalças
ao fundo da minha rua...
Rotas, camisas e calças,
corpo frio e alma nua.

Cheiram a peixe salgado,
a iodo, a maresia,
e correm por todo o lado,
tarde quente ou tarde fria.

Têm olhos azulados
cor do mar, do firmamento,
rostos sardentos tostados,
ressequidos pelo vento.

Sabem de cor as lições
que lhes falam de marés,
também dizem palavrões,
gritam, batem com os pés.

São montanhas de alegria...
São quadros de pobreza...
Pão nosso de cada dia
nesta praia portuguesa...

Meninos que tanto riem
esquecidos da riqueza?
Por onde anda a vossa mãe?
Vende peixe, com certeza...

Crianças sujas, descalças
ao fundo da minha rua...
São imagens de desgraças...
Tristezas... que sorte a sua!

Maria Helena Amaro
Janeiro, 2011


sábado, 9 de janeiro de 2016

Retrocesso


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Volto à solidão dos vinte anos,
alma solteira e coração vazio,
medo de fraudes, de erros, de enganos,
tardes de vento e noitadas de frio.

Faço caminhadas sem esperança,
volto às rimas de Régio e de Pessoa,
aos versos tristes de Florbela Espanca
e aos fados dolentes de Lisboa.

Da noite faço dia, do dia madrugada,
caminho exausta nesta longa estrada,
a recordar o que tive e perdi...

Do muito faço pouco, do pouco faço nada,
acordo morta, adormeço cansada...
Sei que não vens... Mas espero por ti.

Maria Helena Amaro
Outubro, 2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Alzheimer


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Olhar perdido tu vês passar o mundo,
triste e corajosa vês o tempo passar,
há no teu rosto desalento profundo,
sonho perdido, no teu perdido olhar.

Por onde vais não sabes, nem interessa,
que há na vida o que te possa interessar?
Tudo se faz sem alegria ou pressa,
até que a morte te venha procurar.

Quem és não sabes, nem te interessa saber.
As portas se fecharam lentamente
O sol não veio, nem irá chegar...

Irmã da desventura e do sofrer,
vives na noite submissa, pendente,
da luz de Deus que te há de iluminar.

Maria Helena Amaro
(Dedicado aos doentes com Alzheimer)
21/09/2010

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Pinturas


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Os olhos do meu amor,
são olhos de amêndoa doce,
como olivais de Foz de Arouce,
ou carvalhos em flor...

Os olhos do meu amor,
são castanhas madurinhas,
São alegres andorinhas...
São voltejos de condor...

Os olhos do meu amor,
abertos para o luar,
eram rosas de toucar,
lá na serra do Açor.

Os olhos do meu amor,
abertos de par em par,
eram as ondas do mar,
à procura do sol-pôr. 

Maria Helena Amaro
Julho, 2011

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Mar


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

É o mar o meu sustento
minha praia, a solidão,
maré alta o meu tormento,
maré baixa, o meu caixão...

É o barco asa de vento,
meu amigo, meu irmão,
é a rede onde me sento,
meu banco, meu ganha pão.

É o farol o meu guia,
que me leva pela mão,
quer de noite, quer de dia,
é o leme, o meu timão.

Tenho remos, tenho vela....
Lá vou eu a navegar...
Numa noite de procela,
talvez eu morra no mar... 

Maria Helena Amaro
Fevereiro, 2011

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Dilema


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Vou de poema em poema,
a resolver o dilema,
que preenche a minha vida.

Ser ou não ser - a questão,
ter ou não ter - a razão,
de uma força desmedida.

Vou de poema em poema,
a lutar contra o sistema,
com uma raiva contida.

Liberdade? Escravidão?
Na palma da minha mão
anda uma linha perdida...

                        - ou uma corda partida
                        na harpa do coração!

Maria Helena Amaro
23/03/2013

domingo, 3 de janeiro de 2016

Presença


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Tão duro caminhar sem ti ao lado
tão triste recordar
horas diversas do nosso passado
sem que as lágrimas assoem
aos meus olhos...
Que rota vou tomar na minha vida
se me sinto tão ausente
tão perdida
tão suspensa
tão cheiinha de abrolhos...

Tão duro caminhar sem ti a lado...
Donde venho? Onde estou? Aonde irei?
Tu eras o meu rumo, o céu estrelado...
Tudo desapareceu... De nada sei.

Maria Helena Amaro
24/12/2010 





sábado, 2 de janeiro de 2016

Blogue


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Pendurei à janela do meu quarto
o meu lirismo
o meu retrato...
e alguns poemas loucos...
O povo passava
lia
sorria
gostava
e dizia:
- São poucos!
Queremos mais!
Fui ao caderno do meu lirismo agudo
vasculhei tudo
e coloquei os tais...
D. Prosa Mesquinha
minha vizinha
veio às janelas
- tão  velha e tagarela -
e disse às estrelas:
"É demais!"
Não gostei do aviso
que me deu prejuízo.

Peguei no caderno
de capa cor de mel
parti canetas
amassei o papel
mandei o lirismo p´ras urtigas
deixei-me de cantigas
fechei cancela e portas
e hoje
tão lenta e vagarosa
ando em prosas mortas
a poetar rimas tortas!

Sem papel
sem caneta
sem lirismo...
e... sem botas!

Maria Helena Amaro
26 de novembro de 2015

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O tempo


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Renego o tempo porque o tempo foge
Cobre de rugas o meu sereno rosto
O sol nascente parece já sol posto
O dia de amanhã parece o de hoje.

Renego o tempo porque o tempo voa
Cansa-me as asas já entorpecidas
Enche-me os olhos de coisas esquecidas
E os ouvidos de cantigas à toa...

Renego o tempo que vai e não regressa
Não diz adeus mesmo que eu lhe peça
Faz de todo o sentir uma corrida...

Se vou com ele quase me manda embora
Fico retida no dia mês e hora...
O tempo foge... Assim me leva a vida!

Maria Helena Amaro
Braga, 3 de julho de 2012