Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Magistério


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Na Avenida Central, se a memória não falha
num edifício altivo, sobranceiro
muito encostado à cangosta da palha
ficava a nossa Escola - Magistério.


Escola dos passeios, escola dos tormentos
das festas, dos trabalhos, dos trapos e sessões
escola dos cortejos e dos divertimentos
que encheu de saudade os nossos corações.


Havia a turma A, de meninas gentis
de muitas brincadeiras elas eram capazes
Havia a turma B, meninas senhoris,
tinham por sua conta onze rapazes.

No Curso havia ruivas, louras e morenas
De toco erguido e de trancinha ao lado,
Muito atinadas eram boas pequenas
com pensamentos e rabo de cavalo.

Não correr nos gerais... e não parar
Não conversar no átrio ... e nos recreios...
não abrir a janela e espreitar
ir a todas as festas e passeios...


Estar presente em tudo a qualquer hora
não discutir tarefa, nem momentos
O nosso curso tão vigiado, embora,
até deu namoros, casamentos...

Havia cargos e cargos divididos
era uma empresa bem organizada
Caixa escolar, com quotas e recibos
e a malta a pagar desesperada.

Era a Irene a Ção Rego, a Idalina
sempre metidas em tanta papelada
Era a D. Ilda e a Carmo, na cantina
entre tachos e panelas escalada.

Era a Candida Lima florista
a pôr flores nas salas e salões
Era a Farinho com as suas mãos de artista
a desenhar algarismos e cifrões.

Era a Helena Braga a dar ao pé
a chefiar as festas, receções
Pois cada festa era um grande banzé
comes e bebes e muito foliões.

Era o intercâmbio... as cartas recebidas
idas e vindas, eram bem censuradas,
não fosse às vezes tornar-se repetidas
e transformar-se em mensagens amadas.

Era a Biblioteca... lembro agora...
Só tinha livros que não faziam falta
E o Sr. Moreira, com calma sofredora
a pedir silêncio e a calar a malta.

Era o Sr. Pontes em dias semanais
a resmungar com todos por tudo e por nada
naquelas aulas de trabalhos manuais
em que nem se aprendia nem se fazia nada...

Eram as tardes de torreira nas Anexas
a vigiar alunos comportados
O sobe e desce nas escadas complexas
até ficarmos doentes e cansados.

Era a caravana, castigo aterrador
eram os pontos terríveis ameaças
Eram as aulas sem preço e sem valor
e todos nós a inventar trapaças.

Era a Nídia alegre e prazenteira
a estender com um grito o seu Ao Largo
e nós sem dinheiro na carteira
a dizer-lhe com um gesto: hoje não pago!

Havia a «Escola Remoçada» faroleira
Jornal da caserna quinzenal
Fernando Soares e Lopes de Oliveira,
Gil Duarte, Carmo e Laura Vale.

Maria Helena Amaro
Inédito, maio 2004



   

 

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