As crianças…
Aquelas que vagueiam pelas ruas,
Rostos cheios, sujos, pernas nuas,
Em busca de comida…
As que sentadas ao longo dos passeios
Imitam dos adultos os meneios
Os ditos, as chalaças…
Aquelas que, nos bairros da cidade,
Criticam com gestos de maldade
A vida dos crescidos…
As crianças…
Aquelas que por becos e vielas
Espreitam às portas, às janelas,
Os mistérios da vida…
Aquelas que nos fitam espantadas
Quando passamos, alegres, apressadas
Nos bairros miseráveis…
As crianças…
Aquelas que possuem a pureza
Na alma, vivendo a incerteza
Que o amanhã futura…
As que trazem nos olhos um segredo
A mendigar ternura…
- São lírios brancos ao despontar da Aurora,
À mercê da vida, mundo fora,
Voltadas para o céu…
São gotas de orvalho cristalinas
Asas de anjos, transparentes, divinas…
Em negro mausoléu…
As crianças…
Oh! Como eu gosto de as fitar sorrindo
E lhes seguir os passos!...
De as prender num mundo de carícias
No calor dos meus braços…
De saciar-lhes os olhos de beleza
A alma de carinhos…
E ensiná-las a percorrer da vida
Os ideais caminhos…
As crianças…
As crianças, Senhor,
São todo o meu amor!
Maria Helena Amaro
In, «Maria Mãe», 1973
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