O nevoeiro descia na cidade
e a Avenida tornava-se num cais,
de penumbra e mistério…
Então,
eu saía pressurosa para a rua
e ia tarde fora,
a descobrir os vultos
que cruzavam comigo
estranhos e ligeiros…
na penumbra tão nua.
Na névoa cerrada da Avenida,
deslizavam pessoas como nuvens
a tremer, aos pedaços,
em estranha corrida.
E, eu pensava:
- Lá vem, lá vem, agora é um fantasma…
um duende…uma fada…
uma mulher sem pernas…
ou um homem sem braços…
Se for uma criança,
há de trazer no cabelo caído,
uma trança com laços,
e um longo vestido…
Lá ia eu a sonhar maravilhas:
- é que os fantasmas,
os fantasmas vindos no nevoeiro,
descem à cidade enevoada,
certamente a chorar
à procura das filhas…
- é que os duendes que moram na Avenida
penduram-se nas tílias
e dançam em rodopio,
sem medo,
sem cansaço,
sem frio.
- é que as fadas que percorrem Braga, vestem de rendas, de tule e de brocados,
dançam à roda,
à roda, à roda,
nas ruas, nas varandas,
pendentes dos telhados.
No nevoeiro,
no nevoeiro da Avenida,
eu encontrava sempre
um pouco de mistério,
um nada de poesia…
O nevoeiro descia na Avenida…
Eu tinha quinze anos!
Linda cidade! Amor, sem desenganos!
O meu pincel era uma estrela,
a rua, a minha tela,
e na tarde enevoada e fria,
tão misteriosa, escura
surgia uma pintura.
Inédito – Maria Helena Amaro
Braga, novembro de 2009.
Estou a apreciar muito a beleza de todos os poemas, mas este é um dos meus favoritos.A magia do poema é notável, li-o para a minha filha ( de 2 anos ) e ficou presa a cada palavra, com um sorriso.
ResponderEliminarObridado,Carla. Um abraço virtual.
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