(Ilustração de Maria Helena Amaro)
Autocarro acima,
autocarro abaixo,
lá ia eu de sacola no braço
atravessar
toda a cidade
sem chegar
a Gualtar...
Era assim
isto
todo o dia...
Escolinha à espera
Todo o inverno
outono
primavera
No verão
era o lazer a lassidão...
Era a vida perene
de trabalho
de canseiras
de arrelias
de lições...
Os meninos à espera
pr'a me darem
consumições
cuidados
alegrias...
Regressava a casa
cansada mas feliz
que a Escola era a casa bela
onde abria uma porta
e uma janela
para a vida futura...
Tempo de rosas
de risos
de Ventura
Hoje
ao recordar
ao reparar
no autocarro que passa rastejante
fico a pensar
que o melhor da vida
é trabalhar
mesmo que o trabalho
seja duro
cansativo
extenuante...
Autocarro
que levas meninos de Escola
vens dizer-me
que não podes levar-me
a atravessar
a velhinha cidade
sem chegar
a Gualtar...
Neste meu tempo
de repouso e calma
dói-me a vida!
dói-me o corpo!
dói-me a alma!
Maria Helena Amaro
Inédito, novembro, 2008
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