Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Elegia a uma peixeira de Esposende


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Menina linda de farrapos vestida
porque na tua dor
consegues ser
resignada e nobre
humana e pura
ensina-me as palavras luminosas
do cântico da vida...
Menina linda de farrapos vestida!

Menina linda descalça pela rua
de mãos traçadas num jeito de mulher
porque na tua dor
consegues ser
resignada e nobre
humana sem ser má
e pura sem ser fria
Ensina-me as palavras luminosas
do livro d' Alegria...

Quando tu passas
menina linda de farrapos vestida
o temporal desfaz-se
e o barco da esperança torneado de cantigas
vais tu levá-lo ao mar...
Nas tuas mãos estreitas e morenas
vai a concha da vida...
E eu não sei
porque te ris dos meus sorrisos mortos
se me vesti de rendas
E tu lá vais de farrapos vestida...
Grito de sangue, de dor, de maldiça
é o teu grito
a que chamam pregão...
Ah, mas eu sei
que esse grito
menina de farrapos vestida
é o cântico branco
que te ensinaram a cantar à Vida!
Quando tu passas
menina linda de farrapos vestida
humana e pura
misto de carne, de fome de quimera
eu fico só por detrás da cortina
a murmurar canções,
canções de sol que chamem primavera
e, a minha prece ao Céu, à Terra, ao Mar
prece de fogo, de desespero e dor
é sempre igual
sem nome e sem medida,
mas jamais tem a força do pregão
esse pregão que soltas divertido
menina linda de farrapos vestida!

Maria Helena Amaro
Esposende, agosto de  1970.
Publicado em "Aurora do Lima".


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