(Ilustração de Maria Helena Amaro)
Mãe:
Vai para ti, em sonhos,
esta carta,
esta carta que não lês,
e que por certo,
ficará perdida
no deserto,
duma folha branca de papel...
Se fosses viva,
era no teu colo aconchegante,
que eu poria
a minha carta
tão cheia de amargura...
Deste-me vida,
mas não me deste sorte,
porque a sorte que me foi confiada
era de paz e de amor
um tudo nada
não passava dum sonho de menino
fantasia passada.
Mãe:
Se fosses viva
se pudesses viver a minha vida
talvez soubesses
que a tua filha querida
não tem luz
nem paz
nem aconchego
nem benesses.
Mãe:
Ai no céu
onde pairas celeste.
Vê o meu sofrimento
Sou a filha
que foi apenas escolhida
para servir aos outros toda a vida
sem paz
sem gratidão
sem merecimento.
Maria Helena Amaro
Inédito, dezembro, 2009
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