(Ilustração de Maria Helena Amaro)
Saudade...
Saudade da frescura da manhã
do cheiro a alecrim
a mel e a castanha
a lagar a jeropiga
a trevo e hortelã...
Do comboio da linha da Lousã
a dançar nos carris
em busca de Serpins...
Dos corvos negros a gritar
por cima de olivais...
das cotovias
mochos e pardais
a namorar
as azeitonas caídas no terraço...
Do passeio matinal
até à Vila da Lousã
do pingo quente
no café da esquina
café da D. Lúcia
que nos servia gentilmente
com o seu rosto tão fresco
de menina...
Saudade...
Saudades da sesta caloreira
em que brincávamos
os corpos encharcados de suor
nas águas cristalinas
de godos reluzentes
do velho Rio Ceira.
Saudade...
Saudades das noites estreladas
dos cantos das cigarras
que vinham até mim...
e as luzes distantes do Trevim.
Saudade...
Saudades da festa da Pégada
da chanfana
arroz doce
tigelada...
dos espantalhos erguidos nos trigais...
Saudade...
Saudades de ti
de mim
de tudo que foi a nossa vida.
Em aventuras tais
e que não regressam mais!
Maria Helena Amaro
Braga, novembro, 2014.
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