Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

domingo, 11 de agosto de 2013

Crianças do bairro da lata



(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Na lata nasci
na lata morei
nela me perdi
nela me encontrei...
Meninos guardados
em casas de prata
meus filhos famintos
na bairro de lata...
No bairro de lata
passaram apressados
senhores de gravata
e nós... remendados!
A lata não cresce
a lata não come
a lata só desce
no mundo da fome...
Fizeram jardins
( é linda a cidade!)
Mas nós só vivemos
amarga verdade
barraca barata
no bairro de lata...

O bairro de lata
mandaram queimar...
As trouxas às costas
nós vamos erguê-lo
num outro lugar...
Semente de lata
não morre, mas mata.
Ninguém se consome
que a paz é de prata
e a vida é de fome
no bairro de lata!
Do bairro de lata
iremos fugir
descer à cidade
gritar, exigir...
Tombar os senhores
que usam gravata
um lenço de seda
um garfo de prata...
Queimar-lhe os discursos
- dinheiro é questão -
dar-lhes por almoço
batata e feijão.

E eles vão saber
sem ser por jornais
que os bairros de lata
não crescerão mais...
.............................
Venham marginais
venham à cidade
comer as flores
beber os discursos
vestir as canções,
mas digam aos homens
que usam gravatas
que mostrem gestões
que ergam cidades
sem bairros de lata!

Maria Helena Amaro
Abril, 1974
In Escola Remoçada

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