(Ilustração de Maria Helena Amaro)
Puseste a tua capa de estudante
e foste espalhar risos
pelas ruas da cidade...
Desceste a Avenida,,
passaste pela Arcada,
foste à Globo, olhaste a Brasileira,
Rua do Souto abaixo,
rumaste até ao Arco.
Depois
foste espreitar a Lusitânia,
o Passeio dos Tristes,
pouco mais...
E no Campo da Vinha,
no quiosque da Laura,
compraste dois postais...
Olhaste com humor
a esquina do Turismo
pejada de «mirones»
e os pastéis a rir na Benamor
As "tíbias"... os "secones"...
Elétrico a passar
pela Rua dos Chãos
direitinho ao Liceu...
Mas tu ias a pé,
sobe, que sobe Rua de S. Gonçalo...
Atravessavas
com passo de elefante
Largo do Campo Novo,
Rua das Oliveiras,
Igreja das Teresinhas,
Rua de S. Vicente,
com a tua capa de estudante
a ondular
no ar...
Era o tempo da música
na Avenida,
dos pares de namorados,
das verbenas e festas no Casino...
Saraus no Ateneu...
Da Missa "chic" ali nos Congregados...
Se bem me lembro,
o melhor de tudo
e tudo o mais,
era a festa do 1º de dezembro...
Ceia dos Cardeais
e as serenatas ao Luar
ali em frente ao Lar...
No S. Geraldo e no Teatro de Circo
passavam os filmes escolhidos...
"Amanhã será tarde"
"Ana"
"Sabrina"
"Direito de Nascer"
que enchiam de Amor
os corações perdidos...
Se voltares à cidade,
Não tragas espanto ou sentimento.
A velha cidade donairosa
tornou-se nestes tempos
a favor de ideias e projetos,
que a encheram de ruas e rotundas,
de bairros sem flores
de praças de cimento,
barulhenta, trapalhona, vaidosa.
Se voltares à cidade
em dezembro ou em maio
esquece as fitas
as festas
o Liceu...
Tudo passou
tudo se foi
tudo morreu...
Só ficou a saudade...
Agora, viva e fugaz
brejeira, satírica, mordaz
estonteante e ébria
passa a cantar
de estranho tricórnio
A Universidade!
Maria Helena Amaro
Inédito, outubro de 2005
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