(Fotografia de António Sequeira)
Rosinha era filha daquele moleiro
daquele moinho à beira da estrada
Tinha na boca linda, um olhar feiticeiro
e um porte altivo de moura encantada
Era tão linda a Rosinha Modesta
tão simples e boa como a pobre giesta...
Tinha uns olhos negros, negros como o Céu
em noites de inverno que não têm fim
Tinha negras tranças, negras como o Céu
e a pele era branca, branca de jasmim
Quando ela sorria, sorria o luar
e os dentes eram jóias achadas no mar...
Mal o sol nascia no monte azulado
Rosinha era ave cantando no ninho
Sorria às flores, ao rio, ao prado
sentada a fiar à porta do moinho
E passava o dia sentada a fiar
ouvindo das aves o doce cantar
E desde a aurora até o sol por
Rosinha fiava com vida e ardor
cantando à noite como o rouxinol
canções meritosas de sonho e amor
E Rosinha sonhava enquanto dobava
as estrigas de linho que ela fiava
O pai era um velho de olhar bondoso
um pobre moleiro que não maquiava
Para toda a gente era caridoso
Pobre lhe pedia e rico lhe dava
Vivia feliz com sua Rosinha
O anjo bendito que do Céu lhe vinha
Mas um dia na aldeia os sinos tocaram
Tocaram um toque, cheio de saudade
Morreu a Rosinha! Amores a mataram!
Da morte só Deus sabia a verdade...
Passado algum tempo o sino tangia
Era o pai da Rosa que também morria!
E no cemitério cheio de ciprestes
foram enterrar os dois lado a lado
Foram-se as estrigas, os cantos celestes
Ficou o moinho deserto e parado...
E nunca mais se viu Rosinha a fiar
sentada sozinha à porta do lar...
Maria Helena Amaro
13/10/1954
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