(Ilustração de Maria Helena Amaro)
Ai o cântico negro de amanhã,
ninguém o cante,
pois ele há de surgir,
sem ninguém o prever...
Mas o cântico branco do porvir
ninguém o cante
sem o tentar merecer...
Pois, só Deus sabe
que as nossas mãos unidas feitas prece,
mãos egoístas,
nunca se prendem em cruz sem receber...
Cantemos, sim,
a canção da Esperança
no encontro do sol que nos seguiu...
e se formos capazes,
de cantar um poema cada dia
não haverá cântico negro de amanhã
não haverá cântico branco de porvir.
Mas surgirá a eterna melodia
e cada problema a resolver
será um espinho na vida a florir...
Não acusemos a vida de mentir
porque a harpa do sonho está em nós
e a maré viva da Paz está na alma
de quem sonha ceder...
Dai-me uma gota de lama do caminho
que hei de pô-la azul,
branca de neve,
rosa ou lilás, mas toda pura e leve
e colocá-la nos olhos do menino
que a quiser reter...
Maria Helena Amaro
Inédito, abril, 1970
(Para o bebé Pedro Miguel)
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