Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Beleza


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Era miúda quando ouvi dizer
a alguém a quem me apresentaram:
- Linda pequena! Que formosa mulher! -
E pouco a pouco os meus anos passaram.

Depois mais tarde um pouco mais crescida
esse mesmo alguém olhou-me com ternura
Não me achou bela, não me ofereceu ventura
Nem de beleza me disse ser colorida...

Eu vi então meu rosto reflectido
no raso espelho das almas infelizes
e minha alma soltou débil gemido...

Minha beleza tinha-a levado o tempo
Mas dentro de mim ficaram as raízes
duma beleza feita de sentimento!


Maria Helena Amaro
13/04/1955 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Dor


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Era miúda quando ouvi dizer
a alguém a quem me apresentaram:
- Linda pequena! Que formosa mulher! -
E pouco a pouco os meus anos passaram.

Depois mais tarde, um pouco mais crescida,
esse mesmo alguém olhou-me com ternura
Não me achou bela, não me ofereceu ventura 
nem de beleza me disse ser colorida...

Eu vi entrar meu rosto reflectido
no raro espelho das almas infelizes
e minha alma soltou débil gemido...

Minha beleza tinha-a levado o tempo
Mas dentro de mim ficaram as raízes
duma beleza feita de sentimento!

Maria Helena Amaro
13/04/1955

domingo, 19 de abril de 2015

Invisível


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Caminho só em busca d´algum sonho
que a minha alma sonhou na primavera...
Que importa ir em busca da quimera
e ter na vida um abismo medonho?

Caminho só em busca de ventura
que minha alma sonhou sem nunca crer...
Que importa eu lutar e perecer
se a minha vida é toda noite escura?

Caminho só em busca de fortuna
de algum bem que ele me prometeu
de uma sombra que a noite encobriu?

Louca de mim! Busco nuvens de bruma
a encobrir tudo o que já morreu
e esse tudo ninguém vê... Ninguém viu...

Maria Helena Amaro
18/03/1955

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Calvário


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Quero arrastar meus joelhos na calçada
Do teu calvário fazendo-as sangrar
A tua cruz nos ombros colocar
e subir a arfar mortificada

Talvez encontre na dura caminhada
uma Verónica p´ra meu rosto limpar
e eu em sangue, gemendo, a vacilar
hei de arrastar a cruz na minha estrada

Depois no alto do teu roxo calvário
hei de erguer olhos numa prece a chorar
junto à tua cruz abandonada

Hei de contar muitas dores no rosário
e a minha à tua cruz hei de juntar
e nelas ambas ser crucificada!

Maria Helena Amaro
13/03/1955 

domingo, 12 de abril de 2015

Abandono


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Num sonho todo feito de incerteza
eu mergulhei minha alma torturada
E desse sonho todo feito de beleza
tudo se foi e dele resta o nada...

Esses castelos que eu ergui ao vento
uma forte rajada os derrubou
E eu fiquei nos escombros do tempo
mergulhada quando alguém me acordou...

Louca de mim que quis acreditar
numa sombra vagueando ao luar
que incidia no meu liso caminho

Meus sonhos, meus risos, meus anelos
todos se foram com os meus castelos
deixando-me à  mingua de carinho!


Maria Helena Amaro
9/03/1955

sábado, 11 de abril de 2015

Ser Mulher


(Ilustração de Maia Helena Amaro)

Nasci mulher porque Deus assim quis
e em mim pôs um lago de poesia.
Sou poeta, sou mulher e sou Maria
e sou a sombra d`algum sonho feliz!

Quando eu passo por entre a multidão
das mil sombras que há ao meu redor
dizem que tenho uma alma sem calor
mas nos meus olhos há sonho, há ilusão...

Creio em Deus e digo que não creio...
Tenho uma ilusão e digo que não tenho
Quero a todos e ninguém me quer...

Nasci mulher e se sonho, se odeio
amo muito mais o que descubro
do que aquilo que me faz mulher...

Maria Helena Amaro
Braga, 14/02/1955

quarta-feira, 8 de abril de 2015

A Morte (dedicatória)


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

A morte te levou num engano feroz
arrebatada nessas asas sombrias...
Levou-te a ti, doce luz dos meus dias
e a suavidade da tua meiga voz!

A morte te levou e eu não mais te vi
não mais senti o ruído dos teus passos
levou-te toda da prisão dos meus braços
e não mais sonhei... não mais vivi...

Porque partiste, meu sonho perdido,
quando meus olhos eram maio florido,
fechando a porta férrea à desventura?

Ó sonho meu! Se puderes diz à morte
que eu fiquei sem estrela, sem norte,
porque contigo se foi toda a ventura!


Maria Helena Amaro
13/10/1954


domingo, 5 de abril de 2015

Pobreza


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Eu quero um manto escuro de pobreza
para cobrir meu frio coração
Um manto sem cor e sem beleza
sem as ardências de qualquer ilusão

O manto rico que outrora usou
tecido de rubis e pedrarias
o amor o vestiu, a dor o esfarrapou
e com ele a ventura, as alegrias!

E meu coração estremecendo
na friagem do cavalgar da vida
pouco a pouco se vai esmorecendo...

Ele que outrora foi todo valor
É hoje um mendigo de erguida
buscando na vida uma escola de Amor!

Maria Helena Amaro
13/12/2015

sábado, 4 de abril de 2015

Violeta



(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Em sonhos nasci e me formei
e na sombra eu vivo despertada...
Chamaste-me violeta... e eu sonhei!
E toda a vida me pareceu alada!

A vida ser alada... O que penei!
Pobre de mim na sombra mergulhada...
A terra é negra; eu nela me criei...
Como violeta sou triste e apagada...

Porque quiseste dar-me da alegria
os risos etéreos, cristalinos,
tecidos de  sonho e de loucura?

A violeta, amigo, é nostalgia...
É mensagem de tristes desatinos...
É como eu, nascida na amargura!

Maria Helena Amaro
13/11/1956

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Silêncio


(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Ele foi para mim um sonho nascido
dum pesadelo que um dia sonhei
Quis esquecê-lo mas mais o recordei
e continuei o sonho interrompido

Ele para mim é uma gota de água
onde se esvai na sede, um calor...
Na primavera da vida é todo Amor...
No  outono da vida é todo mágoa...

Tenho dó dele... Parece envelhecido
quando da vida recebe algum tormento
e tenta esconder a dor, um só gemido...

Oh! Quem me dera oferecer-lhe ternura
A paz da alma , tirar-lhe o sofrimento
que ele sorrindo afirma ser ventura!


Maria Helena Amaro
10/11/1954 

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Ilusão


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Uma ilusão nasceu. Mas eu não quero
que ela seja uma realidade
Quando morrer ficará a saudade
e a sombra dum amor quase sincero...

De ti nasceu esta ilusão fugaz
que há-de morrer como nasceu...
Ó quem me dera ser a Luz do Céu
desses teus olhos onde só mora a Paz!

Eu sorrio, tu sorris. Ao mesmo tempo
eu olho e tu olhas. Num olhar
vejo-te a ti e tu me vês a mim...

Mas é um só instante, um só momento
porque é ilusão o que estou a sonhar...
Ó quem me dera que não tivesse fim!


Maria Helena Amaro
16/11/1954