Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

sábado, 31 de maio de 2014

Pôr do Sol


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

É tarde. O sol vai-se com o dia
a lua é mão de oiro, toda a rir...
Na minha alma morreu toda a alegria...
Quem iluminará o meu porvir?

Quantas vezes à hora do sol-pôr
sentada no teu seio, ó avozinha!
Mãos erguidas rezava com fervor
aquela linda e humilde, prece minha! ...

Era pobre mas tinha a suavidade
dum anjo branco a voar aos céus
e minha alma sedenta de bondade
ia com ela até ao doce Deus...

E Jesus amigo das crianças
abençoava a reza de humildade
as horas e as eternas esperanças
vividas na triste humanidade...

Maria Helena Amaro
Esposende, 15/03/1950
(Dedicado à Avó)  

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Poesias























(Ilustração de Maria Helena Amaro)



"Chamai-me louca e eu dir-vos-ei que sou rainha..."


Maria Helena Amaro
Esposende, 25 de agosto de 1958

domingo, 25 de maio de 2014

Saudade


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Saudade é o reviver da vida
é sentir no peito um sofrimento
saudade é rever no pensamento
a visão de uma quimera perdida

Saudade é sentir no coração
o passado que se sonha reviver
saudade é tudo... e é sofrer...
... E penar a vida numa ilusão!

Saudades de mentiras e verdades
duma vida que já possui brilho
saudade que a mãe tem por um filho
É a mais pura e santa das saudades!

Maria Helena Amaro
Esposende, 5/10/1951

sábado, 24 de maio de 2014

Mãezinha





















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Repousa em paz à sombra dos cipreste
que à noite irei à tua sepultura
recordar as palavras que disseste
cheias de saudade e amargura

Mãezinha! Essas palavras de ternura
que ao morrer disseste com saudade
hão de ir comigo até à branca altura
onde repousas com suavidade

Repousa no Céu junto a Jesus
ora pela filha querida que na terra
deixaste tão longe dessa luz
maravilhosa que teu jeito encerra

Mãos em prece, sozinha, hei de rezar
para que outra mãezinha me proteja
aquela santa que está no altar
além na linda casa da Igreja!


Maria Helena Amaro
Esposende, 5/03/1950
(versos dedicados à mãe de uma amiga)

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Prece do escravo



(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Ergueu a face bela, escurecida
olhando com fervor a negra cruz
a voz saiu-lhe fraca, enrouquecida
mas muito doce ao murmurar: Jesus!


Maria Helena Amaro
1955

domingo, 18 de maio de 2014

Oração de férias


















(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Obrigada meu Deus
Por estas horas calmas e serenas
Por esta solidão feita de sol
Por este entardecer todo grandeza
Em que meus olhos são meninos cegos
A percorrer o mar…
A saltitar as ondas…
Mais longe… mais longe… até tocar
A linha azul do horizonte longo…
Obrigada meu Deus
Pelos corpos tostados das crianças
Que brincam sobre as rochas…
(- Tão tostados, Senhor, lembram carvões, jamais incendiados)
Indiferentes às ondas que os beijam
De olhos tão serenos
De risos tão inquietos
Que ninguém será capaz de recordá-los
Doentes ou mirrados…

É bom vê-los brincar
Meninos sãos de olhos transparentes
A chapinhar aos saltos
Nesses regatos deixados à tardinha
Pela maré que vai…

Obrigada meu Deus
Por esta areia escaldante ao meio dia
Como se fosse cinza incandescente
E tão doce
Tão macia e suave
À hora do Sol-pôr…

Deito-me toda aqui junto aos penedos
E fico-me a pensar…
O céu é sempre céu…
A areia sempre areia…
O mar é sempre mar…
- Ai que vontade doida de cantar!
É de risos a voz do mar gigante
E se é de risos
Porque me fico depois a meditar?
Não sei porquê…
Toda eu sou voltada para o mundo…
Onde estão aqueles meus irmãos
Que nunca têm férias?
E são tantos, Meu Deus!
Passam aos centos logo de manhã…
O homem das cautelas… a velhinha da fruta…
O pai… A mãe…
E toda aquela gente lá do bairro
Vergados e ligeiros
Como formigas humanas passeirosas
Trabalham sol a sol…
E na torreira das tardes estivais
As suas sombras são cruzes tombadas
Nas estradas sem fim…

Meu Deus
Quando eu sentir o sol queimar-me o rosto
E estas ondas vestirem-se de espuma
Fazei-me recordar
O sentido grato dumas férias
Que já foram negadas
A outras como eu
Possivelmente
Muito mais merecedoras de repouso
Mas a quem
Os mestres e patrões
Nunca deram um só dia de descanso…

Por elas
Eu quero oferecer minhas férias
O que for de mais sereno e doce
Para que nas mãos todas gretadas
Desses irmãos, operários de sempre
A tesoura, o eixo o maçarico
Se tornem muito leves
E brinquem nas mãos deles
Como as crianças brincam nos rochedos
Indiferentes ao sol e à rotina…
Dai-lhes Senhor a certeza profunda
Da tua mão guiando as suas mãos
Mesmo que o trabalho seja todo fogo
As costas todas dor
Os olhos todos mágoa
E tenham de servir a vida toda
Por algum oiro e nenhuma alegria…
Em troca desse banho de pó
Dá-lhes o teu Amor!

Por eles…
Por esses outros que têm sempre férias
E não sabem vivê-las cristãmente…
Por eles
Que na praia feita arsenal de luz
Não sabem encontrar-vos
No mar, no céu, na onda rendilhada
Nos olhos doces dos meninos sãos
Que brincam nos rochedos…

Obrigado meu Deus
Por estas horas calmas e serenas
Por esta solidão feita de sol
Por este entardecer todo grandeza
Em que meus olhos são meninos cegos
A percorrer o mar
A saltitar nas ondas
Mais longe… mais longe… até tocar
A linha azul do horizonte largo…

Agora
Deixa-me Senhor falar convosco
Nesta quietude feita de coisas belas
E murmurar rezando

Dai-me Senhor
Um coração grande como o mar
Alegre como o Sol
Puro como as estrelas…

Maria Helena Amaro

Agosto de 1964

sábado, 17 de maio de 2014

Oiro desfeito em pó




(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Não vou ficar de mãos entrelaçadas
ao ver o oiro em pó…
Não vou ficar de olhos marejados
porque me sinto só…
Ajuda-me Senhor!
rasgas os farrapos pintados de grandeza
e põe a luz nessas veredas mortas…
Horas suplicantes
Orações vivas de Fé e de Certeza
são a oferta
que posso colocar
nas calçadas sem luz
Quando a lua aparecer
a espreitar às portas
a gritar que estou só…

Olhai farrapos pintados de grandeza
oiro desfeito em pó
Agora sei
dolorosamente
porque me sinto só…

Só, com as ruas pejadinhas de gente
gente crescida e garotos descalços…
o sol não vem a estes mas mortas
e o oiro aos montes que anda pelo ar
só vai dourar
a Fé enorme que levo nos meus braços…



Maria Helena Amaro

Março, 1967

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Dedicatória





















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Tocou o telefone
E a tua voz de menina cigana
Veio pedir-me num jeito muito teu
Uns versos; só uns versos…
Sorri-me toda.
E quando desliguei
Estes meus olhos ansiosos de azul
Lá foram tontos pela janela fora
Saltitar nos telhados…

Fiquei a meditar no teu pedido
E quando despertei
Tinha-os moldados.

Pediste uns versos…
E a ti Maria
Não posso dizer: Não!

Como fantasmas vivos
Vieram-me à lembrança
Aqueles tempos que vivemos no lar…

Os anos passam…
(E nunca passam por nós sem nos levar…)
Mas, tu, Maria
Para mim
Continuas a ser a menina trigueira
Esguia e levantada
De olhos trocistas e risos de luar
Que um dia me foi apresentada
Na sala de jantar…
Ainda és
A Maria (…) das canções
Meias estropiadas
Cantadas à varanda a meia voz
Nas noites estreladas…
A que me prometia oiro em pó
Só para que eu «assassinasse»
Na minha voz sem dote
Um fado de Coimbra…
(Um só, um só!)
(Quando me lembro…)
(E das serenatas do 1º de dezembro)
…………………………………………………………
Pediste-me uns versos…
Quem me dera fazê-los de cristal
E enviar-tos em asas de andorinha!
Feitos de primavera
Gritariam ao sol, ao firmamento
Que tu
Serás eternamente
A menina de pele aciganada
D’ alma sensível, errante como o vento!
Mas não posso fazê-los
Nem sonhá-los sequer…
Envio-te estes
Rabiscados à toa
Num receio da escola
Ouvindo as pequenitas
Cantar a tabuada…

A ti Maria
Não posso dizer: Não!
Mas não sei dizer nada…

Agora
Que és tal como eu
Senhora professora!

Só Deus pode dizer
Por que embarcadas em navios diferentes
Viemos aportar
Ao mesmo ancoradoiro…

Mas…
Se Deus assim o quis
Que seja ele que te ajude a colher
Dos olhos das crianças todo o oiro.   

Maria Helena Amaro
(Dedicado a uma amiga)

1962

domingo, 11 de maio de 2014

Dedicatória



(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Porque me vindes falar de sonhos mortos
caídos na estrada
sonhos lindos tornados já fantasmas
duns outros sonhos que nunca serão meus?


Perdi a fé na vida,
já não quero sonhar...
Por mais que faça destes destroços asas
nunca chego a voar...
E a minha alma
velhinha de sofrer
vai mundo fora faminta dum olhar
que faça lembrar Deus!


Maria Helena Amaro
8 de agosto de 1966  





sábado, 10 de maio de 2014

Penumbra




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


Sou a cigana de alma esfarrapada
que encontraste um dia...
à tua espera na curva da estrada...
Lembraste amor dos meus olhos em sol
e da asa escura
daquele pássaro que passou por nós
em direção ao céu
a rir à gargalhada? ...
Lembraste, amor?
Ai se meus risos fossem badaladas
havia de contar uma por uma
as minhas horas tristes.
Estas horas paradas
em que te espero suspensa do regresso
a murmurar
tão longe já da curva da estrada
- Sou uma cigana esfarrapada...


Maria Helena Amaro
Outubro, 1962



quarta-feira, 7 de maio de 2014

Romance


(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Na noite morta
nua de estrelas
o luar era
branco de prata...
Desci ao parque
das ilusões
a passear
os sonhos meus

Fiquei rezando...
Fiquei sorrindo
na noite morta
nua de estrelas...
E quando a aurora
surgir rosada
a rendilhar
o firmamento

Veio encontrar-me
na noite morta
de olhos perdidos
de mãos erguidas
a procurar
no céu sombrio
a minha estrela!

Maria Helena Amaro
18/01/1958

domingo, 4 de maio de 2014

Definição




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


A jornada da vida
seria dolorosa
se no caminho não topássemos alguém
que nos emprestasse um braço
onde a gente se pudesse segurar...
Por isso
É que Deus criou a Amizade!


Maria Helena Amaro
2 de junho 1961

sábado, 3 de maio de 2014

Cântico amargo




(Ilustração de Maria Helena Amaro)

Meu amor...
Dos sonhos pobrezinhos
dos sonhos rejeitados
dos meus sonhos perdidos
por estradas de pó...

Meu amor...
Dos sonhos esboçados
das ideias vencidas
dos limites negados...

Meu amor...
Dos sonhos de beleza destroçados!


Maria Helena Amaro
28-05-1961



quinta-feira, 1 de maio de 2014

Amargura




















(Ilustração de Maria Helena Amaro)


- Bateste à porta? Bati.
- Ninguém abriu? Ninguém.
- Sofreste? Sofri...
                                  Ó minha Mãe!

- Contaste as estrelas? Contei.
- Sorriste às pedras? Sorri.
- Mataste sonhos? Matei...
                                 - Pobrezinha de ti!

- Bateste à porta? Bati.
- Ninguém abriu? ninguém.
                                
                                 - E à janela? Não.
                                 - Porquê Já disse, Mãe!
                                 - E à janela? Não estava ninguém?
                                 - Somente uma estrela!
                                    Ó minha Mãe!   


Maria Helena Amaro
Sem data - (dezembro de 1960/janeiro de 1961?)