Periodicidade de publicação de poemas

Caros leitores:
Espero que desfrutem na visita a este espaço literário. Este sítio virtual chama-se “Maria Mãe” e tem como página principal os poemas de Maria Helena Amaro.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Canta


(Fotografia de António Sequeira)

E agora?
Foram-se sonhos, risos e quimeras
as manhãs de sol e de fulgor...
Os dias de descanso
as primaveras
as promessas de Amor...

Foram-se os gestos de dança combinados
as mensagens, as cartas os «olá»...
Tudo se foi, nada ficou por cá...
És como arbusto que perdeu flores
não tens risos nem danças nem amores
é a solidão a tua companheira...

E agora?
Agora que estás só, desamparada,
queria dizer-te a dor é quase nada,
queria-te ter aqui à minha beira.


Maria Helena Amaro
Inédito, julho, 2003. 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Retrato/Pintura


(Fotografia de António Sequeira)


Tens nos olhos poesia
e o fulgor de um dia radioso
de sol e de promessas...
Sabe-te a vida a sal
a madrugadas, a vento, a maresia,
a algas mortas, a onda rendilhada...
Quando ris
tudo ri no ar ao teu redor
tudo fala de ternura e amor
tudo grita ao mudo a tua vida...

Tens nos olhos poesia
as tuas frases são rimas escolhidas
não há no teu dizer folhas caídas
nem outono nem inverno
Se fosses estação
serias sempre
no teu riso tão terno
a primavera ou verão...

Maria Helena Amaro
Inédito, maio, 2003.


terça-feira, 29 de maio de 2012

Estátua

(Fotografia de António Sequeira)


És uma estátua de pedra
uniforme, estática, parada...
Monumento sem nome
erguida ao meu desgosto...

 
Desafias os meus gestos
a ao atirar-te pedras
elas vêm devolvidas
a bater no meu rosto...

 
És uma estátua de pedra
sem luz, sem fé, sem sentimento
e ao atirar-te pedras
elas vêm todas devolvidas
ao meu ressentimento...

 
Nunca te partirás...
Nunca serás calhaus, godo, areia...
Ficarás
ficarás para sempre
na esquina da rua

Onde me acolho
estática, uniforme, parada
sem nome e sem razão
a vida inteira...

És uma estátua de pedra...
- que sei eu?
montanha
fortaleza
pardieiro
mausoléu.

Maria Helena Amaro
Inédito, julho, 2003

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Asas do Vento


(Fotografia de António Sequeira) 

É nas asas do vento
que te encontro
velho e entristecido...
É nas asas do vento
que tu foges de mim
e te perdes no tempo...


É nas asas do vento
que me deixo partir
para não regressar
ao sítio onde te escondes...

É nas asas do vento
que um dia partirei
e farai dessa viagem
um voo sem regresso...

É nas asas do vento
que ouço o teu arfar
dividido em soluços
que não quero escutar...

É nas asas do vento
que escrevo os poemas
que falam só de ti
e que nunca vais ler...

É nas asas do vento...
porque o vento vai e vem
inconstante e perdido
soluçante e fugaz...

É nas asas do vento...
...
Foi nas asas do vento
que o desespero veio.

Maria Helena Amaro 
Inédito, abril, 2000

domingo, 27 de maio de 2012

Ocaso

(Fotografia de António Sequeira)


Enterra a cabeça na areia
e deixa que a onda
te envolva o corpo todo
Foi na orla do mar
que tu nasceste
É na orla do mar
que irás morrer...

Lá nesse lugar sereno
há só entardecer
O acaso é a bola de jogo
onde irás recolher...

Enterra a cabeça na areia
e deixa-te afogar
Foi na orla do mar
que tu correste
É na orla do mar
que irás parar...

Depois,
não há ninguém
que te possa salvar...


Maria Helena Amaro
Inédito, novembro 1999.


sábado, 26 de maio de 2012

Momento II

(Fotografia de António Sequeia)


Vai pela vida fora
com o teu riso
de criança irrequieta
Vai pela vida fora
mas não fiques parado
sentado na valeta

Vai pela vida fora
com uma chama nos olhos
e nos braços
o violino escolhido

Dança
canta
toca
grita
revolta-te
ama
sê tu mesmo

Vai pela vida fora
desprende o barco ancorado
na margem do riacho
Vai
mas volta sempre
Regressa
ao sonho interrompido

Vai, vai pela vida fora
Se encontrares a lua no
caminho
pede-lhe a aurora

Se encontrares a noite
na estrada
pede-lhe sol

Mas, se nada encontrares
regressa
ao ponto de partida
pois foi aí
que começou a Vida!

Maria Helena Amaro
Inédito, agosto 1999




sexta-feira, 25 de maio de 2012

Convite (Reunião de Curso 1998)



(Fotografia de António Sequeira)
«Se eu voltasse
de novo
a ser quem era
como naquela manhã de primavera
seria a ti
de novo
que eu escolheria
para amiga...

Contigo
cantaria uma cantiga
contigo esconderia algum segredo
contigo
choraria
sorriria
partilharia
o Sonho e a Razão
a Esperança e a Dor
a coragem e o medo»

É isto que dizemos
quando o comboio da vida
nos leva de regresso
ao Passado/Saudade

É por isso que os nossos braços
na hora do Encontro são abraços
e nós revemos
cada ano com mais vivacidade
Presente!
Para sempre
Em nome da Amizade!

Maria Helena Amaro
Inédito, julho, 1998

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Filhos


(Fotografia de António Sequeira)

Parti meu coração
por veredas diferentes
e por diferentes trilhos...
Mas, o melhor quinhão
guardei-o
para os meus filhos!


Maria Helena Amaro
Inédito, dezembro (Natal) 1996. 


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Recordação

(Fotografia de António Sequeira)


Submerso no tempo
ficaste tu
como se nunca te tivesse visto
como se nunca te tivesse encontrado

Submerso no tempo
ficaste tu
como uma nuvem dispersa no espaço
como traço na poeira
da calçada
como um fio de metal
no estendal

Submerso no tempo
ficaste tu
Fecharam portas
cerraram cortinados
desceu o Sol
permaneceu a lua

Submerso no tempo
ficaste tu

Por todo o lado te procuro
como a vida
fosse passageira
e do outro lado do cais
eu te encontrasse
à minha espera...

Submerso no tempo...
Naquela manhã de Primavera.


Maria Helena Amaro 
Inédito, agosto, 1999.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Pausa I

(Fotografia de António Sequeira)

Quando falo de Paz
é a ti que eu encontro
no meio da tormenta
no meio da amargura
Quando falo de Sonho
é o teu rosto que eu vejo
e nele me revejo
e vou e volto
no mesmo chamamento.
Quando falo de Amor
nunca te encontro
Perdido anda o sonho
por veredas estreitas
Onde não cabe este meu
desejar
Quando falo de dor
és sempre tu que estás nesse retrato...
Porquê? Porquê? Porquê?
Então, me flagelo, me revolto, me mato.

Maria Helena Amaro
Inédito, setembro, 1999

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Memória

(Fotografia de António Sequeira)

Tu fechavas os olhos
e cantavas
Erguias os braços como asas
e o teu xaile negro
abria-se em flor...
Era papoila, violeta ou dália?
Na plateia
o povo sussurrava
«Amália, Amália, Amália!»


Maria Helena Amaro 
Inédito, outubro, 2005

domingo, 20 de maio de 2012

Coimbra


(Fotografia de António Sequeira)


Quando eu morrer
e Deus me der
as asas que eu merecer

É sobre ti que irei voar
vestida de canções e de luar
depois de entardecer

Meu voo solitário
farei sobre a cidade
a procurar no branco casario
erguido junto do rio
um nome escrito a ouro
de ternura e saudade...

A Alta e Baixa, o Rio, a Torre de Anto
o Mondego, a Portela, o Quebra Costas
O Choupal, a Visconde da Luz
Estação Velha, Penedo da Saudade
Quinta das Lágrimas
Café de Santa Cruz...
Retiro dos Poetas

Na quietude de alma que adormece
é lá que eu vou voar
é lá que vou permanecer
Se Deus me der
as asas que eu merecer...

Comigo vai viver
um sonho de menina
tão velho como o arco
do Arco da Almedina...

Quando eu morrer
e Deus me der
as asas que eu merecer

Em ti, Coimbra, vestida de luar
vou repousar
este desejo
sem conta  sem medida
poder cantar-te em vida.

Maria Helena Amaro
Inédito, outubro, 2005

sábado, 19 de maio de 2012

Cantiga

(Fotografia de António Sequeira)


Entrou-te em casa a desgraça
e ficou na tua rua
Agora quando ela passa
Tão vestidinha de graça
Se choras, a culpa é tua.

Entrou-te em casa a desgraça
e pôs-se logo à janela
Agora quando ela passa
sorridente e tagarela
és tu que passas com ela.

Entrou-te em casa a desgraça
e ficou na tua terra
agora quando tu passas
e com ela não engraças
é contigo que ela berra.

Maria Helena Amaro
Inédito, setembro, 2005

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Condição

(Fotografia de António Sequeira)

Quando eu morrer
e viajar para mundos distantes
não quero ver lágrimas nos olhos
de quem amei sem condições...

A morte
é a melhor de todas as lições...

Gostaria de ser recordada
como alguém que foi feliz
na sua profissão.
Fiz o melhor que soube
escrevi com a alma
e li com o coração
e sempre todo o dia
com imensa alegria!

Maria Helena Amaro
Inédito, fevereiro, 2005

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Reflexão (IV)


(Fotografia de António Sequeira)


Passei os anos da vida
em acesa discussão
juiz de causa perdida
sem certeza e sem razão.

Fiz da palavra uma lira
e cantei serenidade
mas a verdade é mentira
e a mentira é verdade

Perdi-me em tanto atalhos
à procura da planura
mas só encontrei os ralhos
que me encheram de amargura

Agora velha cansada,
busco a porta de saída
A vida não vale nada
e eu tanto amei a Vida!

Maria Helena Amaro
Inédito, agosto, 2004

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Viagem




(Fotografia de António Sequeira)


Meu coração é um trem parado
numa estação sem nome
Servamente os passageiros
vão descendo
de olhos espantados
e bocas retorcidas...
Procuram na noite
um abrigo seguro
um cicerone
um guia
Parei meu coração
mandei descer os viajantes
que me causaram dor
O meu coração
é um trem parado
acabou a viagem
Sem Amor!


Maria Helena Amaro
Inédito, 1998 

terça-feira, 15 de maio de 2012

A Hora certa

(Fotografia de António Sequeira)

Talvez a hora seja de parar
de chorar
de dizer
essa mágoa escondida
que tenho no coração...
Talvez a hora seja de parar
de refletir
de proclamar
a dor e a razão...
Talvez a hora seja de parar
cerrar janelas
descer cortinas
estender braços e gritar
gritar
Mesmo que ninguém ouça
Fica a hora certa
para seres tu
sem fingimentos
a descansar...

Maria Helena Amaro
Inédito, agosto 1999.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cartas


(Fotografia de António Sequeira)

Sonho cartas
faço cartas
rasgo cartas
e atiro os papelinhos
ao encontro do vento...
São asas brancas
perdidas no espaço...

Ninguém vê
que nos pedaços levados pelo ar
vai o meu amor
esfarrapado
a tentar
esquecer e perdoar...

Sonho cartas
Faço cartas
rasgo cartas...
E tu não saberás.

Maria Helena Amaro
Inédito, setembro, 2003

domingo, 13 de maio de 2012

Sonhar (ao Tono)


(Fotografia de António Sequeira)

Para te possuir
não basta
ter-te aqui
silencioso
e triste
a meu lado...
Para te possuir
é necessário
regressar ao cais
aceitar a mágoa
sem fugir...
Aceitar a dor
e não chorar...
Para te possuir
sem condições
sem forma
sem gesto
sem voz
sem decisão.
Para te possuir
é fazer de mim
um violino
e da vida
canção.

Maria Helena Amaro
Inédito, agosto, 1999. 

sábado, 12 de maio de 2012

Dor (V)


(Fotografia de António Sequeira)

Ergo-me
ao amanhecer
com uma lágrima
pendurada
nos olhos...

Morre-me o sorriso na boca
e abstenho-me
de cantar a vida...


Fecho e abro as mãos
repetidamente
como se quisesse
tomar os movimentos...

Não me perguntem nada.
Só tenho para contar
os meus lamentos...

Maria Helena Amaro
Inédito, julho, 2003  


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Poema (Ao Tono)


(Fotografia de António Sequeira)
Há um poema que nunca escrevi
que não disse a ninguém

Há um poema perdido na distância
a flutuar
entre a luz e a sombra

Há um poema que foi retirado
dum lado do luar

Há um poema que é uma utopia
que não vou dizer
que não vou registar
que ninguém vai saber

Há um poema um começo/fim
uma nostalgia
uma recordação

Há um poema.

Maria Helena Amaro

Inédito, agosto, 1999

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Encontro



(Fotografia de António Sequeira)

Passei por ti
e não te conheci
rosto cinzento...
o corpo...braços/haste...
Meu amigo
que fizeram de ti?
Que veredas de cinza
caminhaste?
Passei por ti
e não te conheci
Fui eu que me esqueci
ou és tu que estás tão mudado?

Passei por ti
E não te conheci
Dobrei mais uma página
do passado.

Maria Helena Amaro
Inédito, agosto, 1999

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Docemente


(Fotografia de António Sequeira)
Quem bateu à minha porta
docemente
docemente me enganou
e me traiu
Docemente ninguém sabe
ninguém viu
Docemente
Docemente
Docemente
Quem bateu à minha porta
docemente
Docemente se fez um ditador
docemente tomou o meu Amor
docemente
docemente
docemente
Quem bateu à minha porta docemente
fez da hipocrisia a sua imagem
docemente abandonou-me
na viagem
Docemente
docemente
docemente

Maria Helena Amaro
Inédito, 1998

terça-feira, 8 de maio de 2012

Noite (II)


(Fotografia de António Sequeira)
Visto-me de negro
cubro-me de luto
Desisto... não luto...
À tristeza me apago.

Sou como um comboio
que passa e não vê...
perde-se na linha
não sei bem porquê...  

Perdi minha voz
perdi meu alento
nas asas do vento
do bairro dos «sós»

Se pergunto à vida
que rota há de vir...
é a despedida
que me faz sorrir...

Maria Helena Amaro
Inédito, julho 2003

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Era uma vez...


(Fotografia de António Sequeira)

Naquela tarde de estonteante verão
em que teus olhos
foram borboletas
pousadas sobre mim
de asas abertas
quisera dizer "sim"
e disse "não"

Esse "não" encheu as nossas vidas
tu fostes por largas avenidas
e eu caminhei
por estradas perdidas
e atalhos diversos...
"Era uma vez..."
- Não acabou a história
mas ficou escrita na memória
a eterna ternura dos teus versos.


Maria Helena Amaro
Inédito, Março, 2006

domingo, 6 de maio de 2012

Mãe (para a Mãe)


(Fotografia de António Sequeira)
Tu és a estrela que Deus pôs
Na minha vida cheia de desatinos
E quando ouço, ó Mãe, a tua voz
Julgo ouvir ao longe a voz dos sinos...

Quando minha alma busca a escuridão
Do desespero, da vida insatisfeita...
És tu, ó Mãe, que me tomas a mão
E que me indicas a estrela perfeita!

Quando me embalas nos teus braços
Quantas vezes me cantaste com ternura
Sonhos sem fim que ingrata esqueci

E és tu ainda que guias os meus passos
Neste mundo onde vejo só loucura
E onde me perco se estou longe de ti!


Maria Helena Amaro
21/06/1954 

sábado, 5 de maio de 2012

Dor (IV)


(Fotografia de António Sequeira)
Na noite que me envolve
quisera acreditar
que o Sol nunca se pôs...
Quisera acreditar...
Perdi a fé em ti,
talvez a confiança...
Todos os dias
esfarrapo um pouco
este meu jeito
etéreo de criança.

Todos os dias
quisera acreditar...

Maria Helena Amaro
Inédito, julho, 1998

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Momento I (Ao Tono)

(Fotografia de António Sequeira)

De repente
o eco musicado
traz-te à memória
os dias do passado...

De repente
és um velho
de alma e coração
À música e à Vida
dizes Não!

De repente
Onde te sentes?
Apenas as memórias
são lanças ardentes.

Maria Helena Amaro
Inédito, agosto, 1999    

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ecos

(Fotografia de António Sequeira)

Palavras
silêncio
gesto
voz
música de fundo
visão engalanada
recordações
espaços mortos
saudades sem rosto
revoltas
loucuras registadas
É isso
e nada mais!


Maria Helena Amaro
Inédito, agosto 1999